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Tomografia em excesso pode aumentar risco de câncer?

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Imagem: iStock

Marcelo Testoni

Colaboração para o VivaBem

05/02/2020 04h00

Se você é do tipo que ao menor sinal de dor já procura um médico para pedir uma tomografia computadorizada, atenção. Embora esse exame de imagem tenha diversas aplicações, não deve ser solicitado e nem realizado indiscriminadamente, sem antes considerar alternativas.

A explicação é que para gerar imagens detalhadas do interior do corpo, o tomógrafo, que é o aparelho que faz o exame, libera radiação ionizante, a mesma presente em usinas nucleares (embora a radiação nuclear seja diferente e bem mais nociva que a energia emitida pelo aparelho, a eletromagnética) e que, em excesso, pode aumentar o risco de diversos tipos de câncer.

Os médicos, porém, asseguram que em clínicas e laboratórios de imagem, a exposição ao paciente é pequena. Para ter ideia, uma única tomografia de abdome aumenta a chance de câncer em 0,1%. Porém, o efeito é cumulativo e se atingir uma quantidade significativa pode aumentar o risco.

Existe um limite para tomografias?

Segundo o médico Felipe Campos Kitamura, neurorradiologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a resposta é não, assim como também não há como estabelecer precisamente quanto tempo após a exposição induzida à radiação em excesso o câncer pode aparecer, se aparecer. "O efeito no organismo é bastante variável de pessoa para pessoa, mas boa parte, quando ocorre, é após entre 5 a 20 anos da exposição", explica.

Mas calma! Não há razão para deixar de fazer o exame. Além de existir um princípio em radiologia de que o paciente precisa ser irradiado o mínimo possível para evitar danos à saúde, o risco associado à radiação do exame é ínfimo quando comparado ao de uma doença, ou estado clínico que precisa ser investigado e resolvido o mais depressa possível. O que é preciso evitar são situações de exames desnecessários. Há pessoas que não precisam do exame, mas querem fazê-lo e o pedem ao médico, mesmo não sabendo dos efeitos.

Qual a dose segura de radiação ionizante?

A dosagem depende do peso do paciente e do tipo de exame (se é de tórax, crânio, abdome), portanto também não há como fixar um valor. No caso de quem precisa realmente se expor repetidamente a exames diagnósticos, o que pode ser feito é um ajuste nos tomógrafos para que o calibre da radiação seja menor. Geralmente, esse pedido deve ser feito pelo médico do paciente, mas algumas clínicas, por preocupação, também podem fazê-lo.

Vale ressaltar que o tomógrafo informa o quanto de radiação foi emitida durante o exame e o paciente pode ter acesso a esses dados, que são disponibilizados para, caso ele queira, fazer um controle, ou comparar entre as clínicas as que dão uma dose menor. Para quem ainda não realizou o exame, uma dica é perguntar sobre o valor da dose média durante o agendamento.

Porém, a radiação também não pode ser muito baixa para não comprometer a qualidade do diagnóstico por imagem, que pode ficar muito ruidosa, e consequentemente comprometer a interpretação e o laudo médicos. Se isso acontecer é até pior, pois o paciente é irradiado, mas não terá seu problema resolvido e muito provavelmente terá de repetir o mesmo exame.

Quem estaria mais suscetível aos riscos?

Crianças e jovens são mais vulneráveis à radiação do que os adultos, com exceção das gestantes. O motivo é que, conforme se desenvolvem, suas células também se dividem e durante esse processo, caso tenham sofrido influência da exposição ionizante, estariam sujeitas a sofrer mutações. Além disso, por estarem no início da vida, o tempo para sentir os efeitos dos exames no longo prazo é maior.

Porém, independente de idade, qualquer pessoa estaria sujeita a ter câncer nas áreas do corpo que costumam ser mais examinadas, como cabeça, tórax e abdome. "Estudos mostram que os casos mais comuns, induzidos pela radiação, são principalmente de leucemia e tumores cerebrais. Mas tireoide, colón, pele, mamas, pulmões e outras partes do corpo também estariam sujeitas a efeitos crescentes e repetitivos de radiação", observa Marcos Gonçalves Adriano Junior, cirurgião oncológico e vice-presidente da regional São Paulo da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica.

Mas não há como diferenciar os tumores cancerígenos causados pela exposição à radiação dos que surgem de maneira espontânea. O mais provável seria uma somatória de fatores de risco, que incluiria a radiação, mas também o tipo de alimentação e o estilo de vida.

Além disso, não são apenas as tomografias que oferecem riscos. Qualquer exame que se utilize de radiação (radiografia, mamografia, angiografia), como métodos de medicina nuclear (cintilografia, gamagrafia, PET scan), ou mesmo tratamentos radioterápicos têm potencial de causar efeitos nocivos à saúde.

A diferença está na dosagem empregada em cada um desses casos e na maneira como ela é dada. Em se tratando da tomografia, sabe-se que sua radiação é muito mais forte que a de um raio-X. O radiologista Kitamura fala em cerca de 70 vezes.

Quando é indicado fazer o exame

Em se tratando da tomografia computorizada, ela é eficaz para visualizar ossos, órgãos e outras estruturas do corpo, ajudando assim a detectar fraturas, tumores, hemorragias, roturas, entre outras alterações no organismo.

Sendo assim, pela precisão no diagnóstico, é um recurso imprescindível em prontos-socorros, porque é extremamente rápido para ser realizado e a partir dele o cirurgião pode tomar uma conduta imediata para salvar vidas.

"Muitas vezes ela pode ser substituída por outros métodos de imagem, em outras não. A grande questão é sempre discutir o risco e o benefício do exame. Para exemplificar, em pacientes com propensão para câncer de pulmão, o malefício de ter a doença por radiação é bem menor do que o benefício de se diagnosticar um tumor em fase inicial e com maior chance de cura, que se sobrepõe", explica Thiago Jorge, oncologista da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Porém, existem situações em que a tomografia não é tão eficiente. Ela não consegue, por exemplo, visualizar a maioria dos cálculos biliares, por uma limitação técnica do exame mesmo. Nesse caso, um ultrassom seria o método mais indicado e com a vantagem de não irradiar radiação ionizante.

Há situações também em que o exame de ressonância magnética faz diagnósticos que a tomografia não faz e, em comparação com a radiografia, a tomografia não é tão acessível financeiramente, fácil de agendar, simples no processo de execução e a radiação ainda é muito maior.