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Estudo diz que aspartame não é seguro; devemos deixar de consumir adoçante?

Estudos de longo prazo são necessários para avaliar os efeitos sobre o sobrepeso e a obesidade, o risco de diabetes, doenças cardiovasculares e doenças renais - iStock
Estudos de longo prazo são necessários para avaliar os efeitos sobre o sobrepeso e a obesidade, o risco de diabetes, doenças cardiovasculares e doenças renais Imagem: iStock

Gabriela Ingrid

Do UOL VivaBem, em São Paulo

25/07/2019 19h56

Resumo da notícia

  • Uma análise crítica do último relatório da União Europeia sobre o uso de aspartame, de 2013, revelou que os critérios usados na época foram duvidosos
  • Segundo os pesquisadores, a autorização para vender aspartame deve ser suspensa em toda a UE, até que um novo relatório seja feito
  • Endocrinologistas, no entanto, acham a sugestão exagerada e recomendam apenas que o consumo do adoçante seja cauteloso

As polêmicas em torno dos adoçantes ganharam mais um capítulo, dessa vez por causa do aspartame. Um grupo de cientistas da Universidade de Sussex, no Reino Unido, analisou os resultados de 154 estudos sobre esse substituto do açúcar e descobriu que grande parte deles não é confiável.

A ideia de avaliar os resultados dos estudos surgiu após a EFSA (Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar), da União Europeia, confirmar o adoçante como um substituto seguro ao açúcar, em 2013. Depois de analisar cada uma das pesquisas estudadas pela EFSA, a equipe concluiu que o método de avaliação da agência da UE era enganoso.

Os resultados mostraram que, dos 81 estudos que confirmavam a segurança do aspartame, 19 não eram confiáveis. Dos 73 estudos que indicaram possíveis danos do adoçante à saúde, nenhum foi considerado confiável. Em um artigo publicado no periódico Archives of Public Health, os investigadores expressaram preocupação de que o painel da EFSA parecesse estabelecer um padrão muito baixo para estudos que não indicassem nenhum efeito adverso do aspartame.

"A análise qualitativa mostra que critérios muito exigentes foram usados para julgar possíveis estudos positivos, enquanto critérios mais frouxos e complacentes foram aplicados a supostos estudos negativos", concluem os pesquisadores.

Os autores também alegam que o relatório da UE faz "suposições inconsistentes e não reconhecidas" e que pode haver inclusive conflitos de interesses financeiros. "Na minha opinião, com base nesta pesquisa, a questão de se os conflitos comerciais de interesse podem ter afetado o relatório do painel nunca pode ser descartada adequadamente, porque todas as reuniões ocorreram a portas fechadas", supôs Erik Millstone, um dos autores do estudo.

Millstone ainda foi além e sugeriu que a autorização para vender ou usar aspartame deve ser suspensa em toda a UE, inclusive no Reino Unido, até que seja reexaminada toda a evidência de um novo relatório.

Adoçante - iStock - iStock
mesmo sendo semelhante ao açúcar em efeitos, o adoçante ainda pode ser usado como uma ponte para a retirada do açúcar da alimentação
Imagem: iStock

Afinal, aspartame é seguro?

A ideia de bloquear a venda do produto por causa dos resultados da pesquisa é exagerada, segundo Andressa Heimbecher, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo e médica colaboradora do Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP).

Segundo Heimbecher, realmente, os estudos sobre o adoçante são questionáveis, por vários motivos. Primeiro porque é muito difícil controlar a dose que uma pessoa toma por dia (ele está em chicletes, refrigerantes, sucos). Segundo, o impacto dele na saúde é confirmado por estudos em ratos, em ambiente controlado, o que em humanos não é bem assim. "Se um estudo fala que o aspartame tem relação com o aparecimento de câncer de bexiga em ratos, é uma coisa, mas ao aplicar a mesma ideia em humanos, os resultados são outros, já que são inúmeros fatores externos importantes (genética, fatores alimentares, exposição ocupacional)", diz ela.

Em humanos é difícil considerar apenas um fator causal em pesquisas alimentares. "Por esse motivo, de resultados controversos para ambos os lados (positivo e negativo), a indicação de nós médicos é: use com cautela. Há estudos que relacionam o produto com alterações na flora intestinal, aumento no nível de resistência à insulina, obesidade... Por isso orientamos os pacientes a usar o adoçante apenas como uma ponte para largar o açúcar", explica Heimbecher.

O endocrinologista Márcio Mancini*, da diretoria nacional da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, alerta que grupos de alto risco, como diabéticos ou pessoas com histórico com diabetes, podem se beneficiar com o uso de adoçantes, o que nos leva a questionar: será que todas as pessoas que estão consumindo adoçante realmente precisam?

O aspartame, por exemplo, pode ser consumido por alguém que quer diminuir o refrigerante normal, por causa das altas taxas de açúcar, e acaba optando pela versão zero. Mas o intuito de tudo é parar com o refrigerante e optar por uma água com ou sem gás. A endocrinologista também usa o café de exemplo: "Se você quer tomar café sem açúcar, troca por adoçante até tirar o doce por completo, e não ficar tomando com adoçante sempre".

*Fonte consultada em matéria do dia 08/01/2019.