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Apneia do sono pode ter consequências mortais

A apneia obstrutiva do sono, uma condição frequentemente decorrente da obesidade, pode resultar em uma baixa qualidade de vida além de aumentar os riscos de desenvolver doenças como problemas cardiovasculares, diabetes e até câncer. - Gracia Lam/The New York Times
A apneia obstrutiva do sono, uma condição frequentemente decorrente da obesidade, pode resultar em uma baixa qualidade de vida além de aumentar os riscos de desenvolver doenças como problemas cardiovasculares, diabetes e até câncer. Imagem: Gracia Lam/The New York Times

Jane E. Brody

New York Times

09/06/2019 04h00

Embora a mulher de 50 e poucos anos estivesse sendo efetivamente tratada contra a depressão, permanecia atormentada por sintomas que muitas vezes acompanham esse quadro: fadiga, sonolência e letargia, ainda que ela achasse que estava dormindo o suficiente.

Uma vez que a depressão já não acarretava sintomas persistentes, seu psiquiatra lhe indicou um especialista em sono.

De fato, uma noite no laboratório de sono da Escola de Medicina Perelman, da Universidade da Pensilvânia, revelou que, enquanto supostamente dormia, ela teve cerca de 18 microdespertares por hora, resultando em um sono que não restaurava nem o corpo nem o cérebro. Ao longo de toda a noite, ela parava de respirar durante mais de 10 segundos por vez, ao que se seguia uma miniexcitação e um ronco, quando ela buscava o ar para elevar o baixo nível de oxigênio em seu sangue.

Diagnóstico: apneia obstrutiva do sono, uma condição cada vez mais comum, mas muitas vezes não percebida ou não tratada, que pode resultar em má qualidade de vida, risco de desenvolver doenças cardíacas, AVC, diabetes e até mesmo câncer, e talvez o mais importante de tudo: um risco triplicado de sofrer um acidente automobilístico, frequentemente fatal.

A apneia obstrutiva do sono aflige cerca de nove por cento das mulheres e 24 por cento dos homens, a maioria deles de meia-idade ou mais velhos, e, mesmo assim, quase nove em cada 10 adultos com essa condição tratável permanecem não diagnosticados, de acordo com a Academia Americana de Medicina do Sono.

A condição está em alta, porque a causa mais frequente é a obesidade, que continua sua escalada implacável entre os adultos americanos. A apneia do sono aflige mais de duas em cada cinco pessoas com índice de massa corporal de mais de 30, e três em cinco adultos com síndrome metabólica, escreveram a dra. Sigrid C. Veasey e a dra. Ilene M. Rosen em "The New England Journal of Medicine" em abril.

Embora a apneia do sono ocasionalmente afete pessoas magras que podem, por exemplo, ter mandíbula pequena ou língua grande, em pessoas com sobrepeso o excesso de tecido adiposo na língua e na garganta pode bloquear as vias aéreas quando os músculos dessa região relaxam durante o sono. É mais provável que isso aconteça quando as pessoas dormem de barriga para cima.

A perda de peso ajuda, mas nem sempre consegue corrigir o problema. Rosen me contou o caso de um homem de 40 anos que fazia tratamento de insuficiência cardíaca congestiva e perdeu mais de 20 quilos. Mesmo assim, permanecia cansado o tempo todo, e sua esposa disse que ele roncava tão alto que ela precisava usar tampões de ouvido à noite. Um dia, ela leu sobre a apneia em uma revista e insistiu que ele visitasse o laboratório de sono, onde um estudo noturno mostrou que sua respiração era interrompida 45 vezes por hora, fazendo o nível de oxigênio de seu sangue cair para 65 por cento do normal.

A história desse homem me levou a perguntar a Veasey: "E aqueles que dormem sozinhos? Como podem saber se têm apneia obstrutiva do sono?"

Ela respondeu: "Há inúmeros sintomas, começando com o sono não restaurador, não importa quanto tempo você durma. Mesmo quando tenta dormir mais nos fins de semana, você ainda acorda se sentindo cansado. O sono interrompido resulta na sensação de ter passado a noite toda acordado."

Ela acrescentou uma lista de outras pistas. Talvez o mais óbvio: você tem sono durante o dia, especialmente quando é sedentário. Repare se você adormece após dez minutos de um filme, um jogo ou um show ou quando assiste à TV. Você se levanta quatro ou mais vezes por noite para urinar (homens, pode não ser sua próstata!). Você acorda de manhã com a boca muito seca ou com dor de cabeça. Você se sente mal-humorado, irritado e com dificuldade de se concentrar. Seu tempo de reação e velocidade na execução de tarefas diminui, como se você fosse cinco anos mais velho do que realmente é.

Quem apresenta até mesmo alguns desses sintomas deveria mencioná-los a seu médico, disse Veasey.

E, se você preferir não basear suas suspeitas só nesses sintomas, pode convidar um amigo próximo para dividir o quarto com você por uma noite ou duas e perguntar de manhã se ele ouviu seu ronco ou se foi despertado por ele, e se percebeu se sua inspiração era seguida por uma interrupção aparentemente prolongada da respiração. O ronco não tem de ser alto para ser um sintoma de apneia do sono, mas é provável que seja irregular e intercalado com pausas tranquilas.

Um diagnóstico apropriado pode ser um problema para os milhões dos americanos que não têm acesso fácil a um laboratório do sono, situado frequentemente nos principais centros médicos, ou que não têm cobertura do seguro para isso.

Há igualmente a opção de um teste doméstico, que custa de um terço a metade do valor de um estudo no laboratório do sono. Ele usa um dispositivo sem eletrodos que registra o esforço respiratório, o fluxo de ar e os níveis de oxigênio no sangue durante o sono.

A apneia do sono pode ser efetivamente tratada com um dispositivo noturno chamado CPAP, uma máquina que fornece pressão positiva constante durante a inspiração e a expiração de quem dorme. Ele consiste de uma máscara que deve ser corretamente ajustada em torno do nariz e da boca.

Infelizmente, muitos que poderiam se beneficiar do CPAP não conseguem usá-lo consistentemente. Muitos acham o dispositivo complicado. No entanto, cerca de um terço dos usuários que o usa corretamente diz que ele transformou completamente sua vida e que agora o levam a todos os lugares, porque se sentem muito melhor, disse Veasey. Um de seus pacientes até comprou um gerador para poder usá-lo em suas férias na Amazônia.

O paciente de Rosen também tem uma máquina de CPAP, que melhorou não só sua própria vida, mas também a de sua esposa, que agora consegue dormir a noite inteira ininterruptamente.

Outra opção de tratamento é um estimulador do nervo hipoglosso, que é implantado cirurgicamente para mover a língua para a frente e manter as vias aéreas desobstruídas durante o sono. Embora não evite totalmente a apneia, Veasey disse que melhora a condição o suficiente para que os pacientes se sintam melhor. No entanto, a cobertura do seguro pode ser um problema para algumas pessoas.

Outras opções incluem uma tala colocada na boca para empurrar o maxilar inferior para a frente e o uso de obstáculos, como bolas de tênis inseridas nas costas do pijama, para desencorajar os pacientes de dormir de barriga para cima.

Para aqueles que precisam, perder peso é importante, mesmo com o uso de um dispositivo como o CPAP. Mais da metade das pessoas com sobrepeso e apneia do sono leve se sente melhor perdendo apenas dez quilos, escreveram as médicas. Mas elas alertaram contra o uso de substâncias como álcool, benzodiazepinas e opioides, que podem piorar a apneia.

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