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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Cada vez mais comum, puberdade precoce gera problema físico e emocional

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Imagem: iStock

Thais Szegö

Colaboração para o VivaBem

25/03/2018 04h00

Aparecimento das mamas, evolução dos testículos, surgimento de pelos na região pubiana e nas axilas, elevação da oleosidade da pele, acne, mudança de voz nos meninos e primeira menstruação nas meninas. Ao ler essa lista de sintomas, logo vem à cabeça a imagem de um adolescente. Mas, em alguns casos, os sinais podem fazer parte da vida de uma turminha bem mais nova. É a chamada puberdade precoce que, segundo evidências e a experiência cotidiana de muitos médicos, está ficando cada vez mais frequente.

“Há sinais de que o número de casos aumenta a cada dia”, confirma a endocrinologista Rosália Padovani, médica assistente do departamento de endocrinologia da Santa Casa de São Paulo.

Cerca de 80% das crianças com puberdade precoce têm a condição em sua forma clássica, chamada puberdade central verdadeira. Nela, a hipófise, uma região do cérebro, começa a liberar antes da hora o hormônio luteinizante (LH) e o folículo-estimulante (FSH). Essas substâncias estimulam os ovários a produzirem estrógeno e os testículos a fabricarem testosterona, desencadeando a maturidade sexual física antecipadamente --ou seja, antes da adolescência, que normalmente acontece entre os 8 e 13 anos no time feminino e os 9 e 14 anos no masculino.

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Os outros 20% dos casos de puberdade precoce são conhecidos como periféricos e estão diretamente associados a doenças, como tumores nos ovários e nos testículos, cistos ovarianos, disfunção nas glândulas adrenais, que estão ligadas à fabricação de hormônios, e hipotireoidismo.

“Os meninos são menos acometidos pelo problema, ele ocorre entre cinco e dez vezes mais nas meninas, mas o risco de haver uma causa mais grave por trás dele nos garotos é maior”, alerta o médico pediatra Luis Eduardo Calliari, professor assistente da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. 

puberdade, menina, mãe - iStock - iStock
Sobrepeso e casos graves de estresse familiar causam a condição
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Quais são as causas?

A ciência ainda não sabe explicar exatamente o que desencadeia o problema e o que está levando a esse aumento no número de casos, mas já tem algumas pistas. “Nas meninas, público no qual o avanço está acontecendo com mais intensidade, um dos fatores que pode ser associado a esse quadro é a elevação na ocorrência de sobrepeso e obesidade”, acredita Calliari.

O tecido gorduroso secreta estrógeno (hormônio feminino), desencadeando alterações hormonais que podem servir de gatilho para a puberdade antes da hora nas garotas. A influência genética também deve ser levada em consideração, já que as filhas tendem a ter a primeira menstruação com uma idade próxima a que a mãe teve, apesar de isso não ser uma regra.

Outro item que pode estar ligado ao desenvolvimento do distúrbio são os casos graves de estresse familiar, um episódio de violência ou a morte de um ente querido, por exemplo. Algumas linhas de pesquisa ainda apontam que a condição pode ser causada por certos tipos de pesticidas e o bisfenol A, presente em alguns recipientes plásticos. Há também a associação, em menor escala, ao uso de produtos tópicos para reposição hormonal utilizados por mulheres que tenham muito contato com a criança.

“Alguns agentes estão sendo cogitados, entre eles os estímulos relacionados à sexualidade presentes em filmes e músicas, por exemplo, contaminações químicas ambientais e hormônios presentes em alguns alimentos, como o leite e a carne vermelha, mas a verdade é que ainda não se sabe ao certo o que está por trás do aparecimento cada vez mais cedo da puberdade”, diz Padovani.

“A ingestão de frangos criados com o uso de hormônios, o que preocupa muitas mães quando se fala de puberdade precoce, não tem ligação com o problema, pois esses animais não têm estrógeno”, garante Calliari.

menino, estressado, nervoso - iStock - iStock
É importante fica atento a mudanças de comportamento dos filhos
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O distúrbio merece atenção

Independentemente do que tenha levado ao surgimento da puberdade precoce, é muito importante que ela seja avaliada por um médico o quanto antes, pois pode desencadear quadros mais graves. “As crianças correm o risco de apresentar alterações no crescimento, levando à diminuição da sua estatura final, e têm mais chances de sofrer com obesidade, hipertensão, diabetes do tipo 2, infarto e acidente vascular cerebral (AVC)”, esclarece Padovani.

É possível ocorrer também transtornos psicológicos e emocionais ligados a mudanças de comportamento provocados pelas alterações hormonais, constrangimentos na escola ou na rua por causa das modificações físicas e a falta de sintonia entre o amadurecimento físico e emocional. Para piorar o quadro, os pais costumam ter muita dificuldade para lidar com o problema. Por isso, o acompanhamento de um psicólogo pode ser interessante. 

Dá para evitar o problema?

Não existe uma forma 100% eficaz de impedir que a puberdade precoce dê as caras, mas já se sabe que combater o excesso de peso ajuda a diminuir o risco nas meninas. "É importante ficar atento aos sintomas da condição para que, se houver a necessidade de uma intervenção, ela seja iniciada rapidamente”, diz Calliari.

Se for constatado que o quadro está ligado à puberdade precoce central verdadeira, os médicos costumam lançar mão de um medicamento que é capaz de bloquear a liberação dos hormônios que estão provocando o quadro e fazer com que ele regrida. O procedimento deve ser realizado de acordo com a orientação do especialista e costuma ser mantido até que a criança chegue à puberdade real.

Por outro lado, se houver alguma doença de base desencadeando os sintomas, um tumor, por exemplo, é preciso tratá-lo. De qualquer forma, o mais importante é que os pais fiquem muito atentos ao desenvolvimento dos seus filhos, se mostrem abertos para conversar sobre as mudanças que o corpo dos pequenos está enfrentando e procurem um especialista diante de qualquer dúvida ou sinal de alteração física e emocional drástica na criança.

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