Assaltar a geladeira à noite prejudica o sono e os relacionamentos
Para deixar de assaltar a geladeira a noite, um jovem chegou a colocar uma trava elétrica no quarto que só era acionada por seu irmão do lado de fora na parte da manhã. Quando saiu de casa e foi morar com um grupo de amigos, foi expulso do apartamento. O motivo? Ninguém aguentava mais ter suas comidas roubadas por ele na madrugada.
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O que para alguns pode parecer só safadeza, na verdade, é uma doença chamada de Síndrome do Comer Noturno e causa muito sofrimento para os pacientes. O tema foi abordado pelo psiquiatra Alexandre Pinto de Azevedo, coordenador do Grecco (Grupo de Estudos em Comer Compulsivo e Obesidade) do Ambulim, programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do HC-FMUSP, no 21º Congresso Brasileiro de Nutrologia, em São Paulo.
A principal característica da doença, que aparece descrita no DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), é ter pelo menos um despertar noturno para comer de forma consciente, ou seja, sem característica de sonambulismo. "A verdade é que os pacientes, em média, levantam seis vezes por noite para se alimentar", explica.
Eles acordam no meio da noite e sentem uma urgência em comer. Muitos até tentam resistir e se distrair, mas a sensação de desespero aumenta. Na hora que resolvem levantar para comer, optam por pequenos lanches, como um copo de leite com bolacha.
“Diferentemente de quem tem compulsão alimentar, que precisa ingerir grandes quantidades de alimentos tidos como proibidos, quem tem Síndrome do Comer Noturno opta por alimentos comuns que fazem parte do dia a dia. Ele come um pouquinho e já volta a dormir”, descreve Azevedo.
Insônia e sensação de fracasso
Por ter uma noite marcada por vários despertares, os pacientes com a síndrome não têm uma boa noite de sono. Tudo isso piora quando eles tentam resistir ao ímpeto de levantar para comer. “Eles ficam com dificuldade de retomar o sono”, explica Azevedo, que cita que alguns pacientes chegam ao ponto de desistir e já deixar os alimentos ao lado da cama.
No dia seguinte, despertam sem fome e com uma sensação de fracasso por terem comido fora do horário. “Eles se sentem mal por não conseguir controlar o comportamento. Não é uma questão de engordar e emagrecer, pois a síndrome não tem muito impacto na obesidade. Mas eles se sentem fracassados por não resistir a urgência de comer de madrugada”, fala Azevedo.
Liberação de hormônios pode estar relacionado com a síndrome
Um trabalho científico citado por Azevedo relaciona a síndrome com a liberação de melatonina (hormônio do sono) e da leptina (hormônio da saciedade), mas ainda são necessários novos estudos para entender melhor o mecanismo da doença.
"Os pacientes com a síndrome tem curvas diferenciadas, mais contínuas, na liberação desses hormônios e isso explicaria essa sensação da urgência em comer", diz.
Tão importante quanto descobrir o que faz com que a síndrome se manifeste é que a família e os amigos funcionem como uma rede de apoio ao paciente. “Imagina o caso desse jovem que eu citei. O amigo guardava uma pizza para comer de manhã e quando acordava, descobria que ele tinha comido. São histórias sofridas e o paciente sofre mais por ignorarem que ele tem uma doença”, acredita Azevedo.
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