Toma o café 'bulletproof' para emagrecer? Tiro pode sair pela culatra
Se você acompanha a vida de algumas musas fitness, como Gabriela Pugliesi, já deve ter ouvido falar do "bulletproof coffee" (café à prova de balas, em livre tradução do inglês). A bebida também é modinha entre os coachs de carreira e lifestyle, tudo porque esse "novo café" teria algumas propriedades especiais, como aumentar o foco e a queima de gordura.
Mas, afinal, do que é feito o bulletproof coffee?
A receita do café foi criada por Dave Asprey, ex-executivo de tecnologia do Vale do Silício depois de uma viagem ao Tibete, onde ele experimentou um chá tradicional com manteiga que o deixou com muita energia e sensação de saciedade.
Foi aí que ele desenvolveu o bulletproof coffee, que nada mais é do que café orgânico coado na hora e livre de microtoxinas (substâncias químicas produzidas por fungos), manteiga ghee e óleo de coco.
A ideia de Asprey, que posteriormente lançou o livro “Bulletproof - A Dieta À Prova de Bala” (Ed. Rocco) com seu estilo de vida, era que esse café fosse ingerido na parte da manhã e substituísse o café da manhã como conhecemos. Ou seja, nada de pães e frutas. Só o líquido.
E essa bebida realmente faz bem para a saúde?
Ainda não se sabe. Na opinião das especialistas ouvidas pelo UOL, são necessários estudos que comprovem que essa mistura pode ajudar no foco e na perda de peso.
“Sou contra essa mistura de cafeína com manteiga e óleo de coco. Para mim, não passa de um modismo. Não há qualquer estudo que comprove seus benefícios e, para que os profissionais possam recomendar esse café, é preciso dados científicos”, explica a endocrinologista Maria Fernanda Barca, doutora em Endocrinologia pela FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e membro da The Endrocrine Society, nos Estados Unidos.
Tiro pode sair pela culatra
Se o objetivo de quem toma o bulletproof coffee é emagrecer, essa mistura pode afastar ainda mais a meta. Tudo isso porque o cafezinho preto tem praticamente zero calorias, enquanto o bullet pode ter, em média, de 150 a 270 calorias.
“Tudo que tem cafeína já aumenta o metabolismo e ajuda a focar. Não precisa adicionar gordura no café. Cada grama de gordura tem 9 calorias, então, dependendo da quantidade de óleo de coco e ghee, o café vai ficando mais e mais calórico”, fala Maria Fernanda.
Excesso de gordura saturada
O óleo de coco aumentaria a sensação de saciedade, ao fazer com que o esvaziamento do estômago fique mais devagar, além de supostamente ter um efeito termogênico, aumentando o metabolismo. “No entanto, há uma lacuna na ciência. Não dá para afirmar que esse óleo traz todos esses benefícios. Tem gente comendo óleo de coco de colherada, como se fosse um remédio e isso traz riscos”, explica Clarissa Fujiwara, nutricionista do departamento de Nutrição da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica).
Já a manteiga ghee ficou famosa entre quem busca emagrecer, pois seria a opção mais saudável entre as manteigas e margarinas existentes. “Ela é extraída da manteiga convencional, que passa por um processo de retirada de líquidos e outros componentes, como a lactose. Ela seria uma gordura mais saudável pro cozimento por não liberar substâncias nocivas à saúde em altas temperaturas”, explica Clarissa.
Além da falta de estudos científicos em cima dos dois alimentos, o maior problema, segundo as especialistas ouvidas pelo UOL, é o fato de eles serem ricos em gordura saturada. “Quanto mais evitarmos alimentos ricos nesse tipo de gordura, melhor. Elas se depositam nas artérias formando placas de arteriosclerose [doença degenerativa da artéria devido à destruição das fibras musculares] que, no futuro, podem levar a doenças cardiovasculares e coronarianas, como derrames e infartos”, explica Maria Fernanda.
Para evitar o aumento de colesterol, Clarissa explica que a própria SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia) restringe o consumo de gorduras saturadas em 7% do total de calorias ingeridas em um dia.
Um efeito secundário dos alimentos ricos nesse tipo de gordura é o aumento de peso que pode levar a síndrome metabólica e diabetes. “Além de engordar, outro problema associado ao consumo de gorduras em excesso é a esteatose hepática [gordura no fígado]”, fala Maria Fernanda.
Dieta bulletproof
O café bulletproof foi o ponto de largada para a criação da dieta bulletproof. “É uma dieta que mistura algumas técnicas de outros tipos de regimes, como o do jejum intermitente. A argumentação é que ela é capaz de aumentar o nível de energia e produtividade, no entanto, não há evidências científicas que podem ser atribuídas a junção dos ingredientes propostos pelo empreendedor”, fala Clarissa.
Segundo a nutricionista da Abeso, a base da dieta criada por Dave são gorduras, como azeite de oliva, abacate e carnes e peixes que não tenham sido criados confinados.
“Além do café na parte da manhã, Dave recomenda, no almoço, uma porção de carne, frango ou peixe que tenham sido criados de forma livre, acompanhados de vegetais orgânicos. Nada de arroz, batata e feijão. Essa dieta tem consumo moderado de proteína e baixo carboidrato”, explica Clarissa.
Já o jantar não poderia ser feito depois das 20h e, ao todo, só poderiam ser feitas três refeições. Sendo o café da manhã composto só por líquidos.
Além da dificuldade de acesso a alimentos orgânicos e de animais que não tenham sido criados em cativeiros, o problema dessa dieta, na opinião de Clarissa, é a mudança de alguns hábitos. “Ela traria mais qualidade em alguns sentidos, como no consumo dos orgânicos, mas é preciso que ela se encaixe na rotina da pessoa, ter algo que ela goste de comer, precisa ter esse respeito na hora de mudar os hábitos alimentares. Não dá para pensar a curto prazo. Se o objetivo é emagrecer, tão importante quanto eliminar os quilos a mais, é conseguir mantê-los depois", fala.
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