Aos 32, mulher morre em academia e abre debate sobre riscos de exercícios
Na segunda-feira (16), a comerciária Luciane Pratezzi, 32 anos, passou mal após fazer dois exercícios de musculação na academia Corporal Rey, em Paranaguá (PR). Ela foi socorrida por um professor e levada pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), ainda com vida, às 7h11, para o Hospital Regional do Paraná.
Ela sofreu uma parada respiratória a caminho do hospital. Às 11h15, ela foi declarada morta. A família não autorizou a autópsia, e a causa mortis que consta no atestado de óbito é desconhecida. As informações são da Secretaria Estadual de Saúde do Paraná. A comerciária era casada e tinha uma filha de nove anos.
Segundo uma pessoa próxima a Luciane, ela teria sofrido uma parada cardíaca. Ainda de acordo com essa fonte, a comerciária não tinha problema de saúde e praticava musculação há cerca de dois anos. A fatalidade abre uma discussão sobre episódios de morte ligadas a atividades físicas.
“Mais de 90% dos casos de morte súbita ligadas à prática de atividades físicas têm a ver com problemas cardíacos”, afirma Daniel Kopiler, médico do esporte e presidente da SBMEE (Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte).
Segundo a médica cardiologista Natália Aarão, membro do corpo clínico dos hospitais Sírio-Libanês e Albert Einstein, ambos em São Paulo, muitas doenças só se manifestam durante a prática de atividades físicas de moderada a alta intensidade.
“Às vezes, o indivíduo nunca teve nada, começa a correr e sente o coração acelerar. Essa aceleração pode ser do bem e do mal. No primeiro caso, não é necessário fazer nada. No segundo, se não tratar, a pessoa pode ter uma parada cardíaca e morrer. Por isso, é importante fazer um check-up antes de iniciar qualquer modalidade”, explica Natália.
A cardiologista declara que, no mínimo, esse check-up deve abranger um eletrocardiograma e um teste ergométrico (avaliação de esforço em esteira ou bicicleta ergométrica).
Atestado de saúde
De acordo com o médico do esporte Kopiler, atualmente, em grande parte do país, as academias não são mais obrigadas por lei a exigir um atestado de saúde do aluno, bastando que ele próprio responda um questionário sobre sua condição física. As questões ficam em geral sobre problemas cardiológicos.
“Se o indivíduo responde positivamente a alguma pergunta, como se tem dor no peito ou falta de ar, ele é orientado a procurar um médico ou obrigado a isso. Varia de acordo com a legislação da cidade ou Estado em que o estabelecimento se encontra. É errado recomendar. Deveria ser uma exigência”, afirma Kopiler.
O especialista diz ainda que, muitas vezes, a elaboração e a interpretação do questionário –se o praticante deve ou não procurar um médico— não são feitas por quem deveria, como um educador físico, mas pelo recepcionista da academia.
No Paraná, no entanto, o atestado de saúde é obrigatório por lei. "O médico pode dizer que a pessoa está apta. Está apta para quê, que intensidade, como fazer? A maior parte [dos médicos] nem sabe", fala Kopiler.
Segundo o médico do esporte, existem trabalhos científicos que concluíram –analisando dados sobre morte súbita ligada a exercícios físicos-- que se a pessoa se submeter a uma avaliação pré-participação pode-se minimizar riscos para a saúde.
Para essa avaliação, Kopiler defende que, pelo menos, seja feita uma consulta médica para levantar o histórico de saúde da pessoa e um eletrocardiograma. “Para quem tem mais de 40 anos, é indicado fazer ainda um teste ergométrico.”
No caso de Luciane, notícias iniciais levantaram a possibilidade de ela ter morrido em decorrência de um aneurisma cerebral (dilatação de uma artéria do cérebro), informação que a sobrinha da comerciária disse desconhecer.
De acordo com Kopiler, esse é um evento bastante raro, mas que pode acontecer tanto com a pessoa em repouso quanto fazendo algum esforço físico. “O problema só é detectado com um exame chamado angio TC de crânio, que é uma tomografia computadorizada com contraste. Essa avaliação não é pedida rotineiramente e custa no sistema privado de saúde cerca de R$ 800.”
Mas o especialista diz que o aneurisma dá alguns indícios que devem ser investigados. “No caso de dor de cabeça persistente, que não passa com remédio, e desmaios, a pessoa deve procurar um médico imediatamente. Aneurisma durante prática de atividade física é uma causa rara de morte súbita.”
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