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Candida auris: superfungo resistente a remédios tem assustado EUA e Brasil

Hospital Miguel Arraes sofreu interdição após paciente com Candida auris circular em várias setores da unidade de saúde - Divulgação
Hospital Miguel Arraes sofreu interdição após paciente com Candida auris circular em várias setores da unidade de saúde Imagem: Divulgação

Gudrun Heise

Da DW

26/05/2023 16h22

O Candida auris, um superfungo tem assustado médicos de Europa, EUA e Brasil. Ele foi identificado apenas em 2009, e pode ser fatal para deficientes imunológicos.

Em outubro de 2022, a Organização Mundial de Saúde (OMS) situava esse tipo de micose entre as 19 mais perigosas, em sua lista de patógenos prioritários fúngicos (WHO FPPL, na sigla em inglês).

Nesta semana, um hospital de Pernambuco está em isolamento total, devido ao registro de pelo menos três infecções. O primeiro caso no país foi identificado em dezembro de 2020, na Bahia.

O perigo de infecção é especialmente elevado para quem tem o sistema imunológico debilitado em decorrência de uma operação, quimioterapia ou outros. Por isso o fungo se dissemina sobretudo em estabelecimentos de cuidados de saúde e hospitais.

Oliver Cornely, do Centro de Estudos de Infecciologia da Clínica da Universidade de Colônia, explica que "a debilitação ou o colapso do sistema imunológico liberam o caminho para o fungo afetar diferentes regiões do corpo".

Entre elas, sobretudo o sistema circulatório, o trato digestivo e certos tecidos. "Se o fungo contamina a corrente sanguínea, isso pode resultar numa sepsia. Após penetrar nos tecidos, em algum momento atingirá um vaso sanguíneo, é transportado pelo sangue e assim chega a todos os órgãos."

Micoses invasivas como a desencadeada pelo Candida auris contam entre as doenças infecciosas mais frequentes e fatais: dos mais de 1 bilhão de humanos que as contraem a cada ano, cerca de 1,5 milhão morrem.

Resistência a antimicóticos e sobrevivência em superfícies

Cientistas calculam que existam cerca de 3 milhões de espécies fúngicas, das quais já foram identificadas 300 mil. Apenas entre 150 e 300 são descritas como patógenos humanos, sendo responsáveis por 90% das mortes por micoses.

O Candida auris é o mais recente entre os fungos de levedura identificados capazes de se instalar em seres humanos. Ele foi descrito pela primeira vez em 2009, tendo eclodido ao mesmo tempo em diversas partes do mundo, por motivos desconhecidos. Porém só nos últimos anos tem se manifestado com mais frequência.

"Todos carregamos diversos fungos no corpo. Via de regra o sistema de defesa os mantém em equilíbrio, de forma que quem está saudável não apresenta qualquer problema", explica Cornely.

Um dos fatores que torna o Candida auris muito perigoso é sua resistência a medicamentos: "As resistências não se formam só durante uma terapia, com a adaptação do patógeno a antimicóticos: esse fungo praticamente já nasce resistente. Isso o torna mais difícil de combater."

A espécie produz o biofilme, uma camada protetora que a torna resistente ao fluconazol, à anfotericina B e ao equinocandinao, três dos principais compostos antifúngicos

Outra característica C. auris é a de sobreviver fora do organismo: ele pode se instalar na pele de quem toca uma superfície contaminada e, "ao dar a mão a um paciente imunologicamente debilitado, pode-se estar transmitindo imediatamente o fungo".

Essa capacidade de sobrevivência excepcionalmente alta também explica a atual explosão de infecções: não é o caso de entrar em pânico, mas as micoses devem ser levadas a sério, e há necessidade de melhores métodos de diagnose, adverte o cientista.

Sintomas não específicos

Os sintomas de uma infecção são pouco específicos, começando com febre e calafrios. Além disso, ele pode se instalar em diferentes partes do organismo, inclusive no interior dos tecidos, onde não é visível.

Quando há suspeita de uma infecção, faz-se um exame de esfregaço, que é semeado em cultura fúngica para identificação molecular-biológica e morfológica. No entanto esse processo pode levar dias, nos quais o superfungo segue se reproduzindo e as chances de sobrevivência do paciente se reduzem.

"Se por 24 horas um paciente recebe tratamento errado ou nenhum, por não estar claro de que patógeno se trata, pode ser que seus órgãos já tenham sofrido danos irreparáveis", explica Cornely.