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Vai cortar o glúten? Antes tire essas 12 dúvidas sobre o vilão alimentar

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Imagem: iStock

Do UOL

28/07/2017 04h05

Não foram poucas as famosas e musas fitness que contaram que o "segredo" para alcançar a boa forma foi cortar os alimentos com glúten do cardápio. Muita gente entrou nessa onda nos últimos anos, no entanto, há quem desaprove cortar um alimento desta maneira.

 "Chamo isso de terrorismo nutricional. Do dia para a noite, o glúten vira o veneno e não pode mais ser consumido. Aí surgem vários mitos e fica difícil até para nós, que somos nutricionistas, acompanhar o que é verdade ou não", explica Sophie Deeram, nutricionista e autora do livro "O Peso das Dietas" (Ed. Sensus). E o glúten não está só: quem não se lembra de o ovo, café, manteiga e, mais recentemente, até o óleo de coco que também ganharam a carteirinha de vilões.

Para tentar desvendar algumas destas dúvidas, o UOL falou com Sophie, Flávia Moraes Silva, mestre e doutora em Endocrinologia e professora adjunta do departamento de Nutrição da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e Lucélia Silva Costa, nutricionista, fisioterapeuta e conselheira da FENACELBRA (Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil). Veja, abaixo, o que as especialistas afirmam que é mito ou verdade em relação ao glúten:

  • O glúten faz mal para a saúde?

    Depende. Algumas pessoas precisarão, sim, tirar o glúten da alimentação, por conta de intolerância. O glúten é o principal componente proteico do trigo e ele pode ser tóxico para os celíacos, para quem tem sensibilidade ao glúten e para quem tem alergia ao trigo. Isso porque o glúten causa uma inflamação crônica na mucosa do intestino delgado. Os demais não precisam se preocupar com a proteína, pois não há qualquer evidência científica de que o glúten faça mal para a saúde.

  • E quais são os alimentos que contêm glúten?

    De acordo com Sophie, o alimento que mais contém glúten que consumimos é o pão. Mas outros produtos, como massas, pizzas, bolachas, bolos e cervejas, também contêm a proteína. Além do aviso nas embalagens com a indicação "contém glúten", você também pode observar os ingredientes na embalagem. "O glúten está presente nos alimentos com trigo, centeio, cevada e aveia", ensina Flávia.

  • Eliminar o glúten ajuda a emagrecer?

    Flávia destaca que não existem evidências científicas que confirmem que uma dieta sem glúten contribui para a perda de peso. E essa estratégia de restrição não é a mais recomendada para quem quer emagrecer. Sophie é categórica: "Não é o glúten que faz engordar. Quando você tira o glúten, diminui o consumo de carboidratos e gorduras --já que ele está mais presente nestes tipos de grupos-- e isso pode ajudar a emagrecer no início". O problema é que a dieta restritiva também pode estimular a compulsão. Ao restringir determinado alimento, é normal ficar pensando o tempo todo nele e aí vem o comer emocional, aquele que, quando ficamos estressados ou ansiosos, descontamos nos alimentos.

  • Alimentos sem glúten são mais saudáveis do que as versões com

    Não é a presença ou ausência da proteína que torna o alimento saudável ou não. É preciso considerar o alimento como um todo para classificá-lo como saudável. E o ideal é que ele seja minimamente processado, o que não acontece com os alimentos sem glúten. "Por serem altamente processados eles são mais ricos em calorias e carboidratos, sendo assim, essa troca pode não ser a mais interessante", explica Sophie.

  • O glúten traz benefícios para a saúde

    Mito também. O glúten por si só não traz nenhum benefício para a saúde. Mas, segundo Flávia, a retirada da proteína pode implicar em alguns problemas para a saúde. "Um deles é a redução do frutano, um amido resistente presente no trigo, que contribui para a flora intestinal. Além disso, a literatura aponta que uma dieta sem glúten pode acabar sendo restrita em carboidrato, ferro, zinco e fibras", fala.

  • Glúten causa inflamação no organismo

    Só em quem é suscetível a ter a doença celíaca. "Isso não acontece com todos os indivíduos, pois o intestino possui junções celulares intactas que funcionam como uma barreira à passagem de macromoléculas, como é o caso das proteínas do glúten, impedindo a passagem e evitando o processo inflamatório", explica Flávia.

  • Glúten causa inchaço

    Parcialmente verdade. Um dos sintomas nos pacientes celíacos ou com sensibilidade ao glúten pode ser o inchaço. No entanto, esse não é o sintoma mais comum da doença. "Até porque o inchaço pode vir de fatores que não só o glúten. Depende do momento do mês e de outros alimentos ingeridos também. Mas as pessoas generalizam: 'Tá inchado, então, tira o glúten'", explica Sophie.

  • Consumir muito glúten faz a pessoa virar celíaca

    Mito. Não é o consumo de glúten que faz alguém virar celíaco, mas sim, sua predisposição genética associada a algum fator desencadeante, como uma infecção intestinal, que deixa a barreira intestinal vulnerável à passagem de macromoléculas, como o glúten.

  • Pães e outros alimentos sem glúten ficam menos macios

    Verdade. De fato, pães e outros alimentos que não sejam produzidos com farinha de trigo ou de centeio ficam menos macios, pois é o glúten que dá elasticidade à massa, retém a umidade e proporciona maciez. "Os produtos sem glúten também tendem a ressecar mais rápido", explica Lucélia.

  • Existem proteínas que podem substituir o glúten na dieta

    Verdade. Com a retirada do trigo, centeio, cevada e aveia da alimentação, outros cereais podem ser utilizados por quem precisa tirar o glúten da alimentação, dentre eles, o farelo de arroz, a fécula de batata, farinha de mandioca e milho.

  • Só os celíacos têm restrição ao glúten?

    Mito. Existem alguns estudos que sugerem que uma dieta sem glúten pode melhorar sintomas gastrointestinais em pacientes com lúpus, dermatite, síndrome do intestino irritável, artrite reumatoide, diabetes tipo 1, tireoidite e psoríase. "No entanto, ainda é preciso mais evidências científicas para que essa recomendação possa ser feita para todos os portadores dessas condições", explica Flávia. Lucélia também deixa claro que quem tem alergia ou trigo e sensibilidade ao glúten também tem restrição de ingerir a proteína.

  • Quem se sente bem ao cortar o glúten deve ter sensibilidade

    Não necessariamente. Não é só porque se sentiu bem ao retirar a proteína da alimentação que a pessoa tem alguma sensibilidade. "Ela pode ter tirado o glúten e passado a evitar alimentos ultra processados, passado a comer de forma mais consciente. E isso fez com que ela se sentisse melhor", explica Sophie. Flávia explica que o diagnóstico para saber se a pessoa é celíaca ou não só pode ser feito com acompanhamento médico.