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Paulo Chaccur

REPORTAGEM

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É normal o coração acelerar durante a prática de exercícios?

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Colunista do UOL

24/04/2022 04h00

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Se você pratica atividades físicas, especialmente aquelas de maior vigor ou intensidade, já deve ter notado que algumas vezes o coração, durante o exercício, passa a bater mais rápido. Isso é teoricamente normal e não precisa ser motivo de preocupação.

Atividades aeróbicas e séries de exercícios intensas, constantes e com repetições podem exigir trabalho extra do coração e, assim, estimulam a aceleração de seu ritmo. No entanto, se o aumento da frequência gerar incômodo, outros sinais ou persistir por muito tempo após a realização das atividades, é importante prestar atenção e verificar o que pode estar acontecendo.

O aumento dos batimentos do coração, chamado de taquicardia, talvez não cause quaisquer sintomas ou complicações, mas também é possível que revelem uma prática exagerada e excessiva para o corpo ou ainda alguma disfunção ou problema cardiovascular.

Qual deve ser o batimento cardíaco durante a prática de atividades?

Primeiro, para termos uma base, em condições normais de saúde e sem estímulos externos, a frequência ideal de batimentos cardíacos varia de 60 a 80 batimentos por minuto. Quando é superior a 100, recebe o nome de taquicardia. Apesar das individualidades fisiológicas de cada pessoa, devemos ter em mente que há um limite seguro para o aumento dessa frequência.

De maneira geral, para um organismo sem doenças ou disfunções e um coração saudável, adotamos uma conta básica: você pode calcular seu ritmo cardíaco máximo subtraindo sua idade de 220, ou seja, 220 [batimentos cardíacos] - idade = X [valor máximo que o coração deve bater por minuto durante o exercício].

Agora é hora de entender sobre intensidade

Uma vez conhecida a frequência cardíaca máxima, você pode estabelecer sua zona alvo de frequência, ou seja, o nível no qual seu coração será exercitado e condicionado, mas sem excessos. O ritmo dos batimentos nos oferece uma visão mais objetiva da intensidade do exercício: de modo geral, quanto maior o ritmo cardíaco durante a atividade física, maior será sua intensidade.

De acordo com a Associação Americana do Coração podemos classificar da seguinte forma:

- Para uma prática com intensidade moderada, os batimentos devem ficar entre 50% e 70% de sua frequência cardíaca máxima;
- Para uma prática com intensidade vigorosa, o valor passa a ser entre 70% a 85% do seu ritmo cardíaco máximo.

O corpo fala

Mulher exausta após treino, cansaço após exercício, pós-treino - iStock - iStock
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Além dos números, o corpo também nos traz sinais que ajudam a compreender a intensidade da prática e como o esforço é percebido pelo organismo. Quando você está fazendo uma atividade aeróbica, como correr ou andar de bicicleta, a intensidade se correlaciona com o quão difícil a atividade é para você.

Entre as pistas de uma intensidade de nível moderado, podemos citar: respiração mais acelerada, mas não sem fôlego, suor leve após cerca de 10 minutos de atividade e a possibilidade de seguir uma conversa.

Já quando trabalhamos de forma mais vigorosa, a respiração passa a ser profunda e rápida, o suor surge após alguns minutos de prática e não conseguimos dizer mais do que algumas palavras sem uma pausa para respirar.

O cansaço dos músculos também varia. Vale lembrar que isso é único e particular, uma vez que o nível de esforço pode ser diferente entre cada um ao fazer o mesmo exercício.

Sinais de alerta

Tanto o corpo quanto os números podem revelar excessos ou indícios de problemas no coração. Após a atividade física, o nível de adrenalina no organismo ainda permanece alto por um período, porém, começa a diminuir dentro de alguns minutos. Isso faz com que a frequência cardíaca comece a retornar ao seu ritmo normal.

Se isso não ocorre e os batimentos permanecem acelerados mesmo depois do fim da prática, é recomendado fazer uma avaliação para entender o que está acontecendo. Outro ponto: mais de 200 batimentos por minuto durante o exercício pode ser um sinal de alerta. Se somado a isso, ainda surgirem sintomas como: falta de ar, dor no peito e tontura, especialmente se isso se manifesta de forma frequente, é hora procurar ajuda médica.

Exercício físico é importante, mas sem exageros

Quando o coração suporta um estresse físico extremo repetidamente, as adaptações temporárias —e que não apresentavam perigo— podem levar a uma remodelação do órgão ou de seu funcionamento.

À medida que a prática esportiva acontece de maneira exagerada periodicamente e sem a devida recuperação do corpo, é possível que, por exemplo, gere dificuldades para dormir ou distúrbios do sono, oscilações de humor ou irritabilidade, fadiga e cansaço, esgotamento, desidratações, dores musculares, lesões cardíacas e distúrbios no ritmo dos batimentos, entre outros malefícios.

Pesquisas apontam que anos de treinamento de resistência intenso podem levar a consequências adversas em longo prazo, incluindo fibrose miocárdica, fibrilação atrial, uma forma adquirida de cardiomiopatia arritmogênica do ventrículo direito, arritmias ventriculares e aterosclerose coronária (calcificação da artéria coronária).

O exercício de alta intensidade ainda eleva o risco de parada cardíaca súbita ou morte cardíaca súbita em indivíduos com doenças cardiovasculares subjacentes, em especial para aqueles com fatores de risco associados, histórico de cardiomiopatia hipertrófica ou doença coronariana.

Recomendações

A realização adequada de atividades físicas rotineiramente contribui para o bem-estar físico e mental. Promove o fortalecimento muscular, a melhora do condicionamento cardiorrespiratório, favorece a diminuição do colesterol ruim (LDL) e aumenta o nível do bom (HDL), auxilia no controle da obesidade, pressão arterial e diabetes, reduz o estresse, ajuda na qualidade do sono, retarda ou previne o aparecimento de problemas, como a doença arterial coronária, entre outros benefícios para a saúde cardiovascular.

Além disso, age em prol da saúde dos ossos, na produção de serotonina (o hormônio da felicidade), para aumentar os níveis de energia e a reduzir alguns sintomas associados ao envelhecimento —entre eles, a perda de massa muscular. Entretanto, tudo deve ser feito com equilíbrio e cuidado. Exercitar-se com a intensidade correta possibilita tirar o máximo proveito da atividade.

E para isso não são necessárias horas e horas por dia na academia: de acordo com a OOMS (Organização Mundial de Saúde), 150 minutos por semana de atividades em intensidade aeróbica moderada ou 75 minutos semanais em intensidade aeróbica acentuada já tem impacto positivo significante. Para atividades que envolvem força, o ideal é a prática de, no mínimo, duas vezes por semana (com intensidade moderada a acentuada).

Por fim, devemos lembrar que qualquer pessoa que inicia ou mantém um programa de exercícios deve ter cautela, principalmente em relação ao coração. À medida que o órgão é exigido, precisa reagir. Se não estiver em boas condições, pode apresentar resultados negativos —e para isso não há idade!

Portanto, avaliações periódicas são importantes. Muitas vezes temos problemas silenciosos que, quando se manifestam, podem trazer consequências graves e irreversíveis.