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Paulo Chaccur

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Dá para usar o celular em favor da saúde do coração? Sim! Entenda como

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Colunista do UOL

06/06/2021 04h00

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Pense e responda com sinceridade: você consegue viver longe do seu celular? Desligar e desconectar, nem que seja por algumas horas do dia? Ou é daqueles que faz absolutamente tudo com o aparelho e vive de olho a cada notificação?

O fato é que o smartphone virou um companheiro quase que inseparável para boa parte da população. Há muito tempo o telefone deixou de ser um equipamento apenas para ligações ou envio de mensagens.

Hoje é a nossa memória auxiliar, agenda, meio de entretenimento, instrumento de trabalho e estudo, espaço de negócios, canal de compras e para manter o contato com família, amigos... E daqui a lista vai longe!

O celular está presente do café da manhã a hora de dormir —para alguns é até o companheiro da insônia. Segundo estudo do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da FGV, em 2020, mais de 234 milhões de smartphones estavam ativos no Brasil —é mais de um aparelho por habitante. Agora, já parou para pensar em usar o seu celular em favor da saúde?

Uma rápida pesquisa no iTunes ou no Google Play resulta em diversas opções de aplicativos (alguns pagos, outros gratuitos) que colaboram para criar ou manter um estilo de vida saudável e gerenciar o risco de doenças cardíacas. Os dados obtidos podem ser salvos para backup, análise e compartilhamento virtual com o médico que te acompanha ou durante as suas consultas.

É possível, por exemplo, monitorar a pressão arterial e a frequência cardíaca, os níveis de colesterol, glicose no sangue (diabetes), organizar medicamentos, auxiliar no abandono do cigarro e no gerenciamento do peso e das atividades físicas, pontos importantes para evitar eventos cardiovasculares.

Que doenças conseguimos evitar?

Além dos fatores de risco mencionados acima, há alguns aplicativos mais específicos para a saúde do coração com funções que conseguem acompanhar e detectar arritmias cardíacas, como a fibrilação atrial, uma condição potencialmente grave que desencadeia batimentos irregulares.

Há opções que, combinadas ou não com outros dispositivos, a exemplo dos relógios inteligentes, funcionam como uma espécie eletrocardiograma portátil, um teste que avalia a atividade elétrica do coração. Ao contrário de um monitor pessoal de ritmo cardíaco, que conta os batimentos, ele mede os impulsos elétricos que fazem o coração pulsar.

O eletrocardiograma tradicional (ECG) faz o monitoramento a partir de 12 locais diferentes do corpo, possibilitando reunir informações suficientes para localizar uma anomalia em determinada área do coração. Já o dispositivo portátil não é capaz de realizar uma análise tão completa, mesmo assim, pode ser uma fermenta auxiliar no acompanhamento à distância do paciente.

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Imagem: Getty Images

Conseguimos ainda medir a frequência respiratória através do smartphone. Neste caso, o aplicativo faz a aferição usando a câmera. É possível, desta forma, analisar a quantidade de vezes que o tórax subiu e desceu, o que gera o número de vezes que a pessoa respirou por minuto. Alguns apps permitem ainda colocar um monitor de pressão arterial externo, que faz a leitura e armazena os dados automaticamente.

Outros podem beneficiar pessoas com insuficiência cardíaca (quadro em que o coração se torna incapaz de bombear adequadamente o sangue pelo corpo), reunindo em um único espaço informações que possibilitam administrar a condição, especialmente o autocuidado, como monitorar o sódio na dieta, manter o controle do peso, categorizar medicamentos e reconhecer sintomas.

É possível ainda transformar o smartphone em um treinador de saúde pessoal, com programas de exercícios, meditação e relaxamento, controle do consumo de alimentos, entre muitos outros. A cada dia surgem novas possibilidades.

Alguns parecem simples e podem até ser, mas com certeza ajudam quem convive com questões assim em meio a já conturbada rotina que temos hoje em dia. O mais importante aqui é entender que monitorar esses detalhes, para quem já têm predisposição a problemas cardíacos, pode evitar complicações sérias, como um acidente vascular cerebral (AVC) ou mesmo um infarto.

Nem tudo é positivo...

Se por um lado temos as vantagens da tecnologia, precisamos também considerar os pontos negativos. E isso tem muito mais a ver com a forma com que usamos os dispositivos do que efetivamente ao que eles podem nos causar. O grande problema aqui é o excesso. E isso tem nome: nomofobia, ou seja, vício em celular.

Apesar de parecer inofensivo, o objeto pode causar diversas complicações agora ou em longo prazo, inclusive prejudicando a saúde do coração. O tempo de uso dos smartphones tem sido associado a um comportamento sedentário e a obesidade, por exemplo. Pesquisas recentes indicam que quem passa muitas horas por dia no celular apresenta risco maior de se tornar obeso.

Outro ponto tem relação com nosso psicológico. Redes sociais, especialmente, podem gerar ou amplificar quadros de ansiedade e depressão, cenários que podem afetar a saúde cardiovascular. Em certos casos, as pessoas deixam de viver a realidade para se prender ao mundo virtual, se tornando reféns de tudo que está relacionado ao universo digital, como curtidas e comentários.

Adolescente com celular na cama, insônia adolescente, adolescente ao celular, exposição a telas, higiene do sono - iStock - iStock
Imagem: iStock

Há ainda quadros em que o uso excessivo dos smartphones contribui para insônia ou distúrbios do sono. As luzes e os sons emitidos pelos celulares minutos antes de dormir ou durante a noite podem perturbar o sono e deixar o corpo em estado de alerta. Isso faz com que o usuário não desligue por completo, atrapalhando seu momento —necessário— de descanso.

Quando dormimos o ritmo de nossos batimentos cardíacos diminuem e a pressão arterial é reduzida, situações que ajudam a proteger o coração. Essa redução do ritmo cardíaco faz com que o organismo fique num estado de compensação de energia. O corpo de quem dorme mal não faz essa pausa, estando assim mais propenso aos problemas cardíacos.

Em casos de constante sono fragmentado poderá ocorrer um aumento da pressão arterial, amplificando o trabalho do coração e a possibilidade de aparecimento da doença coronária. Uma noite mal dormida gera ainda cansaço, estresse e irritabilidade, estimulando a liberação de cortisol —hormônio que age no controle da pressão.

Isso sem falar em outras questões que não necessariamente têm relação direta com o coração, mas que afetam nosso corpo, bem-estar e qualidade de vida, como complicações oculares, problemas de postura, inflamações em articulações e tendões, dores no pescoço, mãos, ombros e punhos, entre muitas outras consequências.

Não sabe nem por onde começar?

Peça recomendações ao seu médico. Antes de qualquer coisa é importante buscar orientação profissional. Muitos apps e recursos que podem ser usados no celular ou em combinação com o aparelho têm aprovação de agências reguladoras, outros não.

Temos que considerar ainda que nem sempre os aplicativos têm leituras precisas, o que pode levar a um diagnóstico errôneo. Daí a importância de consultar um médico sempre!

No entanto, o fato dessas tecnologias ainda não terem sido amplamente estudadas não significa que elas não sejam eficazes naquilo que se propõem. O automonitoramento é uma das estratégias fundamentais para a saúde cardiovascular.

Outro ponto aqui é a falta de acesso. Uma vez que alguns dispositivos, ferramentas e apps não estão disponíveis no Brasil ou em português, nem de maneira gratuita. Há ainda, portanto, um longo caminho pela frente, incluindo avanços e pesquisas.

Porém, podemos aproveitar aquilo que está acessível. Já que o celular é um "acessório" básico no cotidiano de quase todo mundo, porque não tirar proveito daquilo que de bom ele pode trazer para nossa saúde? Mais uma vez, o coração agradece.