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Paola Machado

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Posso realizar exercícios depois de tomar a vacina contra a covid-19?

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Imagem: iStock

Colunista do VivaBem

02/06/2021 04h00

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Conforme a vacinação contra a covid-19 avança para mais grupos, o número de dúvidas aumenta. Uma pergunta que tenho recebido frequentemente é após quanto tempo a pessoa precisa esperar para treinar após ser vacinada —e algumas pessoas querem saber até se podem fazer exercícios no mesmo dia em que são imunizadas.

Estamos em plena pandemia, no olho do furacão, e muitas respostas só teremos com certeza no futuro. Mas, nesse momento, é possível dizer que o principal risco de se exercitar logo após se vacinar é que algumas reações adversas leves provocadas pelo imunizante (dor de cabeça, muscular ou no local da aplicação, fadiga, mal-estar, náusea etc.) podem reduzir a qualidade do seu treino. Ou pode ser que você nem consiga fazer atividade física por causa de alguns desses desconfortos. Alguns especialistas, inclusive, recomendam não treinar em caso de fadiga, mal-estar e febre após a vacinação, mas não há um consenso quanto a isso.

Não há evidências de que o exercício logo antes ou logo após a vacinação afeta a eficácia da vacina —lembrando que ainda temos pouco tempo de vacinação no mundo, sendo a primeira aplicação em dezembro de 2020, portanto são necessários estudos para confirmar isso.

O que precisamos entender é que, se você se sente bem o suficiente para se exercitar após receber a vacina, aparentemente não há nenhuma contraindicação para realizar atividades físicas. Por esse motivo, o ideal é que você preste atenção no seu organismo e se atente aos efeitos adversos.

Segundo o CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA), esses efeitos colaterais geralmente podem surgir um ou dois dias após a vacinação e, dependendo da pessoa, podem afetar sua capacidade de realizar atividades diárias, incluindo malhar —lembrando que a maioria dos sinais e sintomas são muito leves e não são motivo para alguém pensar em deixar de se vacinar. Os efeitos colaterais comuns são, em última análise, um sinal de que seu sistema imunológico está respondendo à vacina e, felizmente, geralmente, desparecem em poucos dias. Isso significa que, provavelmente, se você não treinar por causa da vacinação, não será uma grande interrupção em sua rotina, algo com que você deva se preocupar e atrapalhe seus resultados.

Em nenhuma das bulas das vacinas há restrições quanto à prática de exercício físico após a aplicação" Gustavo Mendes, gerente geral de medicamentos e produtos biológicos da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)

Mas temos sempre que ter em mente que, como qualquer vacina, podem acontecer as reações adversas. Pensando nos imunizantes disponíveis no Brasil, Mendes reforçou, em entrevista à coluna, que uma das reações mais comuns é a dor no local da aplicação (o braço). Isso pode prejudicar o rendimento em certos treinos, como o de musculação, ao fazer exercícios como rosca direta, supino etc. —ou ao praticar qualquer esporte que use muito os braços (basquete, remo, vôlei, tênis).

Como sempre reforço, temos que ter bom senso e perceber os sinais e sintomas do nosso corpo, já que eles podem ser mais intensos. Se, após a vacinação, você não se sentir bem para fazer exercícios, tire um dia de descanso. Por fim, Mendes pontua que "Se for um exercício que possa afetar a imunidade [de longa duração e/ou muito extenuante] é válido reduzir um pouco a intensidade do treino por precaução (mesmo não tendo nenhum conhecimento sobre casos ou treinamentos específicos que afetem o sistema pós-vacinação)", disse Mendes.

Chad Asplund, médico esportivo da Mayo Clinic em Rochester (EUA), afirmou em entrevista à coluna que "aproximadamente 50% das pessoas terão sintomas sistêmicos após a vacinação, que são provenientes de uma resposta imunológica mais potente. Aqueles que têm apenas um braço dolorido podem se exercitar conforme tolerado."

Para as pessoas que fazem questão de treinar após a vacinação, Asplund recomenda "se exercitar dentro dos seus limites e evitar exercícios vigorosos (de alta intensidade e/ou longa duração —mais de 60 minutos) nas primeiras 72 horas após a vacinação".

Pontua também os melhores exercícios para pessoas que acabaram de tomar a vacina. "Como a vacina é administrada no músculo deltoide (braço), evite levantar grande cargas em exercícios que recrutem os braços ou praticar esportes como tênis e basquete nas 72 horas após a vacinação."

O que dizem estudos sobre treino e vacinação:

  1. Uma revisão sistemática realizada por Chastin et al (2021) mostrou que a atividade física regular fortalece o sistema imunológico, reduz em 37% o risco de adoecer e morrer de doenças infecciosas e aumenta significativamente a eficácia das campanhas de vacinação. Isso tem implicações importantes para as respostas à pandemia. O estudo foi realizado com 500 mil participantes, que fizeram 30 minutos de atividade cinco dias por semana.
  2. Nesse mesmo estudo, analisando 35 ensaios clínicos randomizados independentes --o padrão-ouro para evidências científicas-- a atividade física regular resultou em níveis elevados de imunoglobulina IgA de anticorpos. Esse anticorpo reveste a membrana mucosa de nossos pulmões e outras partes de nosso corpo em que vírus e bactérias podem entrar. A atividade física regular também aumenta o número de células T CD4 +, que são responsáveis por coordenar a função do sistema imunológico contra patógenos e regular sua resposta.
  3. Nos ensaios clínicos randomizados explorados, as vacinas parecem mais eficazes se forem administradas após um programa de atividade física. Uma pessoa que é ativa tem 50% mais probabilidade de ter uma contagem de anticorpos mais alta após a vacina do que outra que não é ativa.
  4. Uma revisão de 2014 publicada em Brain, Behavior, and Immunity analisou 20 estudos (incluindo um grupo que examinou vacinas para condições que variam da gripe à pneumonia e tétano) e concluiu que os exercícios crônicos e agudos podem aumentar a eficácia da vacinação.
  5. Mais recentemente, quando um estudo de 2020 do mesmo jornal comparou 45 atletas de elite com 25 pessoas de mesma idade (que se exercitaram no máximo duas vezes por semana), descobriu que os atletas tinham uma resposta imunológica mais forte à vacina contra a gripe.
  6. Embora algumas pesquisas sugiram um benefício potencial, também é importante reconhecer que não se exercitar regularmente não mostrou nenhum dano à resposta imunológica. Afinal, no estudo de 2020 mencionado acima, até mesmo o grupo controle apresentou uma resposta imune robusta à vacina.

Se exercitar depois de tomar a vacina contra a covid-19, desde que você se sinta bem, pode ser super ok. Deixe seu corpo ser seu guia e reduza as coisas conforme necessário.

Referências:

  • Chastin, S.F.M., Abaraogu, U., Bourgois, J.G. et al. Effects of Regular Physical Activity on the Immune System, Vaccination and Risk of Community-Acquired Infectious Disease in the General Population: Systematic Review and Meta-Analysis. Sports Med (2021). https://doi.org/10.1007/s40279-021-01466-1
  • April R. Pascoe, Maria A. Fiatarone Singh, Kate M. Edwards. The effects of exercise on vaccination responses: A review of chronic and acute exercise interventions in humans. Brain, Behavior, and Immunity. Volume 39. 2014. Pages 33-41. ISSN 0889-1591. https://doi.org/10.1016/j.bbi.2013.10.003.
  • Ledo A, Schub D, Ziller C, Enders M, Stenger T, Gärtner BC, Schmidt T, Meyer T, Sester M. Elite athletes on regular training show more pronounced induction of vaccine-specific T-cells and antibodies after tetravalent influenza vaccination than controls. Brain Behav Immun. 2020 Jan;83:135-145. doi: 10.1016/j.bbi.2019.09.024. Epub 2019 Sep 30. PMID: 31580932.
  • Pedro L. Valenzuela, Richard J. Simpson, Adrián Castillo-García, Alejandro Lucia. Physical activity: A coadjuvant treatment to COVID-19 vaccination? Brain, Behavior, and Immunity Volume 94, 2021, Pages 1-3, ISSN 0889-1591. https://doi.org/10.1016/j.bbi.2021.03.003.
  • CDC. Disponível em: https://www.cdc.gov/vaccines/covid-19/info-by-product/index.html

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