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Câncer de mama: pesquisas reforçam cuidado com bem-estar físico e mental

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Imagem: iStock

Colaboração para o VivaBem

06/09/2021 10h52

Os avanços no tratamento do câncer de mama têm proporcionado melhor qualidade de vida às pacientes, com menos efeitos colaterais. No entanto, para algumas mulheres, as sessões de quimioterapia, por exemplo, podem resultar em declínio cognitivo, fenômeno conhecido como "chemobrain", que tende a desaparecer meses após o término das terapias.

Não são raros, também, os casos em que o tratamento tem forte impacto na saúde mental, especialmente em mulheres mais jovens. Dois estudos publicados recentemente em revistas internacionais debateram a relevância de a equipe oncológica manter a atenção ao bem-estar físico e mental das pacientes.

A primeira pesquisa avaliou os padrões de atividade física antes, durante e após a quimioterapia em pacientes com câncer de mama, e a associação entre a prática de exercícios e a função cognitiva. Os pesquisadores realizaram testes objetivos em 580 pacientes com idade média de 53 anos, na pré-quimioterapia, pós-quimioterapia e seis meses pós-quimioterapia e compararam os resultados com um grupo de mulheres saudáveis.

Nas mulheres com câncer de mama, um maior índice de atividade física, de moderada a vigorosa, antes do início do tratamento foi significativamente associada a melhores trajetórias cognitivas. A adesão às diretrizes de atividades durante a quimioterapia foi associada a melhor autorrelato de maior performance da cognição.

Os pesquisadores concluíram que a manutenção da prática de exercícios antes e durante a quimioterapia está associada a uma melhor função cognitiva imediatamente e seis meses após o término do tratamento.

Além do chemobrain, alguns sintomas depressivos podem atingir as pacientes, prejudicando sua recuperação. Neste sentido, o estudo "Pathways to Wellness" procurou testar a eficácia de duas intervenções comportamentais para as sobreviventes de câncer de mama mais jovens com sintomas depressivos elevados: técnicas de mindfulness e aulas de educação de sobrevivência ("survivorship education"), que engloba conceitos como qualidade de vida, equilíbrio, relacionamentos afetivos e atividades físicas.

O estudo envolveu 247 mulheres, com idade média de 46 anos, divididas em três conjuntos: que praticaram mindfulness, educação de sobrevivência, ou não realizaram nenhuma intervenção, durante seis semanas. Os dois primeiros grupos relataram a diminuição significativa nos sintomas depressivos de pré-intervenção para pós-intervenção, situação que persistiu no acompanhamento de seis meses. As praticantes de meditação também tiveram efeitos benéficos na fadiga, insônia e sintomas vasomotores que persistiram em seis meses de acompanhamento.

Assim, os efeitos benéficos do mindfulness e da educação de sobrevivência mostraram-se capazes de reduzir os sintomas depressivos em sobreviventes de câncer de mama mais jovens. Os autores da pesquisa defendem que as "intervenções podem ser amplamente disseminadas em plataformas virtuais e têm um benefício potencial significativo para a qualidade de vida e sobrevivência geral neste grupo vulnerável".

As equipes multidisciplinares de oncologia devem estar atentas a essas necessidades físicas e mentais destas mulheres, organizando e estimulando a prática de atividades que promovam o bem-estar da paciente com câncer de mama, no hospital ou na sua recuperação em casa.

Fernando Maluf é diretor associado do Centro Oncológico da BP - Beneficência Portuguesa de São Paulo, membro do Comitê Gestor do Centro de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein e fundador do Instituto Vencer o Câncer (IVOC). É formado em medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, onde hoje é Livre Docente.