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Nuno Cobra Jr

Você já lavou a sua alma hoje?

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Imagem: iSTock

Colunista do VivaBem

03/09/2020 04h00

Os dias vão amarelando a alma, dias sem movimento, sem vida, sem diversão.

Sugiro, ao meio do dia, colocar a alma ao sol, por 15 minutos, assim, ao alvejá-la, os raios ultravioletas do calor solar irão aquecer o lóbulo frontal, localizado no meio da testa, iluminando a sua consciência, ajudando a prevenir as doenças da alma, como a tristeza e a depressão.

Os dias escuros, entre quatro paredes, sem afeto, sem carinho, sem amigos, vão encolhendo a alma, atrofiando a sua expansão, e, então, a alma endurecida geme, pede alongamento, pede restituição.

Para esse fim, sugiro ligar sua alma na "tomada de emergência", de tempos em tempos, acionando o "modo avião voando ao pôr do sol", e, assim, longe do trabalho, saia para se divertir com os amigos, colocando a alma no "varal repleto de estrelas" das noites animadas e inesquecíveis, na qual ela poderá restabelecer o seu viço. (Aqui, a liberdade poética convida a imaginar um mundo pós -pandemia, livre de restrições ao convívio social)

A alma carregada de dores, cultivada por passagens tristes, antigas e desbotadas, fica esburacada, frágil, sem estrutura, prestes a se desmantelar.

Sugiro olhar para esses buracos, reconhecê-los, cuidar deles com carinho e, assim, ao compartilhá-los com os amigos ou com os curadores da alma, usar o potente caminho da fala, da elaboração, colocando um "band-aid espiritual" nesses buracos escuros que nos consomem por dentro.

E, então, no fim de semana, vem a "cereja do bolo", sugiro descer ao litoral, pelo menos uma vez ao mês, a fim de restabelecer o seu vínculo com a fonte primordial, o lugar onde nasceu a vida: o mar.

Ao chegar lá, sugiro rolar a alma na areia e, quando estiver à milanesa, fritá-la gentilmente ao sol do equador, frente e verso.

Quando estiver bem quente, entre no mar e a deixe chacoalhar livremente na "máquina de lavar alma", à base de sal grosso e pura energia potencial, na qual a zona do "quebra coco", de forma aleatória, irá fazer do seu corpo o que bem quiser

Ao final, deite-se na areia e observe, por 15 minutos, as nuvens de algodão voando logo acima, e, então, respire fundo e a liberte, rumo ao infinito e além.

A sua alma, então, livre de qualquer peso ou amarra, poderá viajar de volta para casa, o coração do universo, o centro de tudo.

Ao voltar dessa viagem, ela estará novamente brilhante e rejuvenescida, afinal, alimentar o corpo de necessidades básicas, como afeto, sol, movimento, doses de natureza e pequenos prazeres, significa também nutrir a alma.

QUE PAPO É ESSE?

Você deve estar pensando, afinal, o que um profissional que deveria falar sobre exercício físico, e nada mais, faz aqui, nesse espaço, falando de alma, autocuidado, pequenos prazeres e outras figuras poéticas?

A ideia aqui é chacoalhar um pouco a minha área de atuação, um ambiente muito restrito, técnico e fechado, no qual não existe espaço para a visão que desenvolvemos em nossa metodologia: uma visão integrada da saúde corporal.

Para fins didáticos, a ciência dividiu o corpo humano em diversos departamentos. A questão é: essa divisão não existe de fato, ou seja, corpo, mente e espírito são indissociáveis, formando uma só estrutura. São vias de mão dupla que se relacionam e se afetam, de forma interdependente e sinérgica. Por exemplo, a todo instante, a mente afeta o corpo e vice-versa.

Essa divisão e a falta de integração entre as diversas especialidades, leva a uma grande distorção, ferindo os princípios fundamentais da saúde corporal. Como propus em meu artigo anterior, caso departamentos complementares como a cardiologia ou a fisioterapia fossem convidados a participar da criação das modas de treinamento, elas seriam exatamente o oposto daquilo que são, priorizando a saúde, a moderação e o equilíbrio no treinamento físico.

Esta semana, tivemos o dia do profissional de educação física (1° de setembro). Para homenagear esse dia, segue abaixo a mensagem que postei em minhas redes sociais:

A nossa profissão pode educar e dar sentido àquilo que chamamos de corpo, ou seja, a nossa dimensão física, mental e espiritual, o que constitui o nosso ser como um todo. Atualmente, em nossa área, o principal desafio é libertar, desconstruir, reinventar, libertando o corpo de todos os condicionamentos e estereótipos que o mantém aprisionado e engessado a modelos estéticos e distorcidos. A nova reeducação física, como a chamo, pede mudança, transformação, retomando o caminho da saúde, do equilíbrio e da consciência corporal, sem isso, treinar perde o seu principal valor e sentido. Devemos, cada vez mais, estimular um movimento corporal autônomo, consciente, livre e criativo, um movimento que nutra e alimente seu corpo!

As pessoas precisam ficar saradas de outras coisas, principalmente, precisam se curar da obediência a modelos de beleza insanos. Afinal, não vai haver corpo sarado enquanto não curarmos a nossa mente.

Cuide com carinho da sua casa primordial, o seu bem mais precioso, o seu próprio corpo! A sua alma agradece.