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Alexandre da Silva

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O quanto minha filha me ajuda a envelhecer melhor

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Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

19/12/2022 04h00

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Em casa, Aisha é a banguela mais feliz do mundo! Com a coragem de um batalhão de heroínas, deixou que o seu primeiro dente fosse arrancado pelas minhas mãos. Seus olhos arregalados pelo pouco de sangue que saiu, foi seu único momento de não felicidade plena (afinal, sabemos que toda novidade gera um pouco de medo ou de ansiedade).

Daí em diante a cena daquele sorriso sem um dente era incrível! A sensação de estar feliz, crescendo, de também estar com a mesma "janelinha" que seus amigos e amigas, tudo era maravilhosamente dela!

Devo aqui confessar de que tenho mãos muito bem treinadas para arrancar os dentes decíduos, popularmente conhecidos como dentes de leite, ainda mais sendo de minhas filhas! Tenho uma formação de longo tempo!

Costumo conversar com elas antes do procedimento, falo da importância da escovação dos dentes que nascerão e das conversas que tenho com a fada dos dentes. Falo sobre o armazenamento de todos os "extraídos" e até sobre como arrumar um lugar para guardar o dinheiro recebido em troca de cada dente depositado embaixo do travesseiro. Para as pessoas mais velhas que leem esse texto, o hábito já foi de jogar o dente em cima do telhado.

E, ficando experiente em extrair os primeiros dentes das minhas filhas, fico também um pouco mais velho, um pouco mais grisalho e um pouco mais vivido.

Minha estreia como pai foi com a Eloísa. Meus primeiros aprendizados sobre como ser pai foi com a minha primeira e que agora é a mais velha. E ela faz questão de sempre me lembrar disso! E tudo começou desde quando planejávamos ter uma criança. Foi a partir desse dia que a mágica aconteceu, que o amor ganhou uma dimensão infinita! Seu nascimento e depois da Aisha são momentos de grandiosidade presentes na minha vida!

E agora, com seus 11 anos, Elô concluiu o ensino fundamental I. E hoje, dia da sua formatura, enquanto observo todo o seu cuidado para estar produzida do jeito que quer: unhas pintadas com as cores do arco-íris, o cabelo todo hidratado e encaracolado e a roupa do jeito que quer, seguindo a moda e muito bem demarcada pelo seu estilo. É a presença dessa autonomia que também mostra como os anos estão passando.

Há "brilhinhos em torno dos olhos e um pouco na boca", e também algum pó ou cuidado com a pele. Ah, e o teste de prova final ocorre quando ela se olha no espelho e faz uma dancinha, para ver como funcionará todo o seu estilo e maquiagem "na prática". Costumo olhar, dar as mínimas sugestões (é sério que tento!), já que me preocupo com os excessos e em lembrá-la de que ainda é uma criança.

E, enquanto sou todo orgulho, alegria, contentamento e alívio pela conclusão de mais uma etapa de sua formação, lembro-me que foi nesse mesmo palco onde a festa ocorre que lá no passado celebrávamos sua entrada na escola. É o mesmo lugar onde, de volta, estou mais velho.

E não estou só. Outros pais, outras mães, avós, avôs, novas irmãs, velhos irmãos estão também celebrando, possivelmente com os mesmos sentimentos, o crescer de suas mais novas e seus mais novos!

O meu desejo mais sincero é que Elô e toda a turma que se forma possam manter essa alegria, entusiasmo e liberdade para sorrir, cantar, dançar e manter foco e prioridade no brincar.

Queria contar para essas crianças que, quanto mais envelhecemos, mais vamos perdendo aquela flexibilidade, aquela liberdade para sorrir, cantar, dançar e manter o brincar nas nossas vidas. Vamos buscando uma padronização de costumes e hábitos, muitos desses aprendidos depois dos 20 ou 30 anos.

Muitos desses gostaríamos que vocês não aprendessem, como destinar muitas horas para somente trabalhar, resistir a mudanças por uma questão de medo do novo, de não deixar de fazer o que sempre gostou e de não desistir tão facilmente de ficar próximo de amigas e amigos.

Como disse, são hábitos ruins, um caminho errado, confesso. Daí levamos um tempo, às vezes com um pouco de terapia, para reajustar a rota para tentar ser feliz novamente. Não se trata aqui de pensar no resgate da nossa criança interna. Trata-se de voltar a ser a pessoa que sempre fomos, sem a preocupação de precisar ser sempre aceito ou aceita, de nunca desapontar alguém, de parar com a sinceridade que sempre existiu.

No coral no qual mães, pais e outras pessoas responsáveis cantaram para Elô e sua turma, foi lindo ver toda essa gente cantando e alguns mexendo seus corpos! Tudo para mostrar que Elô e sua turma tornaram-se nossas referências para o bem viver, para o bem envelhecer!

Pensar que, enquanto Elô e sua turma vão crescendo, cabe a mães, pais, avós, avôs, tios, tias e outras pessoas responsáveis a envelhecerem da melhor forma possível, aprendendo a lidar, da melhor forma possível, com seus traumas, cicatrizes, desapontamentos nos relacionamentos e em não colocar ou manter o Deus dinheiro à frente de tudo e de todos, principalmente de suas crianças.

Eloísa, minha filha, obrigado por me ajudar a envelhecer melhor, a olhar mais pra mim a partir de você e da nossa relação. É com você que aprendo, mesmo não sendo um bom aluno algumas vezes, a viver com mais espontaneidade, a arriscar não fazer tantas coisas para ficar mais com vocês, por me mostrar que sempre gostei de cantar, de que dá para aprender a dançar sem qualquer receio (acho que estou melhorando, ano após ano!).

Vai para o mundo, Elô! Enquanto você vai conhecendo a dimensão do seu tamanho, sigo aqui fortalecendo meus joelhos para sempre caminhar junto com você, reconhecendo que sou um pai chorão que sempre se emociona ao falar ou escrever para você e para a sua irmã!

Você sabe que nunca estará sozinha! Atrás, embaixo, na frente e nos lados há muitas gerações te acompanhando, segurando, parabenizando e abençoando! E todas essas pessoas, chamadas de avós, avôs, tios, tias, bisavó, bisavô, tataravó, tataravó e por aí vão os nomes e nomenclaturas, todas essas pessoas que te amam e te protegem você pode chamá-las sempre, não importa o horário e dia, de "mãe" ou "pai"!

Nós te ensinamos, a partir de um provérbio africano, de que é necessária uma tribo para cuidar de uma criança, lembra?

Um beijo do papai.