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Alexandre da Silva

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Por que tanta gente tem dificuldade para pausar um pouco?

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Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

12/12/2022 04h00

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Talvez você não tenha ainda percebido, mas, cada vez mais, é comum ouvir ou falar que uma pessoa com os seus 60 anos ainda é nova, ou seja, que não está no fim da vida, prestes a morrer e de que agora é hora de esperar a morte chegar. Não falamos mais sobre uma situação que era bem comum lá pelos anos de 1900 ou até um pouco mais.

Atualmente, pessoas de 40, 50 e 60 anos estão promovendo grandes mudanças nas suas vidas, nos seus relacionamentos, na forma de trabalhar e até no seu modo de vestir.

Já escrevi em um outro texto que nossa vida pode ser comparada a uma corrida de 1.500 metros, que é uma prova de muito planejamento, diferente da corrida de 100 metros ou de uma maratona.

É necessário ter os momentos exatos para aumentar o ritmo, acompanhar o pelotão de corredores ou de corredoras, seja daqueles que estão muito lá na frente ou no meio, achar o momento exato para manter o próprio ritmo e, o que é essencial, fazer a sua melhor prova, o que não significa vencer e celebrar, exclusivamente, as primeiras colocações.

Vamos nos esquecendo de que a vida é uma grande jornada, repleta de décadas e anos, de noites estreladas, mas de manhãs nebulosas.

Muitas vezes, a vida parece um brinquedo, uma montanha russa, com seus trajetos de altas e baixas alturas, altas e baixas velocidades e acelerações, com rodopios, com acidentes (infelizmente), mas sempre com um objetivo de nos entreter.

Sim, porque não levar a vida tão a sério pode ser uma boa estratégia para quem consegue pensar e agir dessa forma. Pode trazer soluções mais práticas para situações complexas, pode trazer mais oxigênio onde se prende o ar tamanha a angústia ou pavor quanto a uma escolha errada quando era necessário acertar.

Por isso, para o texto de hoje, quero que pensemos em algo que não é tão usual de fazer na vida: dar uma pausa, uma parada, uma interrupção estratégica.

Seja para descansar.

Seja para contemplar.

Seja para agradecer.

Seja para suspirar profundamente pelo perigo ultrapassado.

Seja para encontrar (de novo) o sentido da vida.

Seja para se achar e saber quem é (e não o que falam ou pensam sobre você).

Seja para respirar (e como é bom perceber o ar já usado sair e o repleto de oxigênio entrar e revitalizar o corpo todo, da sola do pé até o cérebro!).

Seja para deixar a mente ir para onde ela quiser, mesmo que seja uma rua escura, perigosa, mas que na esquina pode encontrar pessoas queridas, sonhos pensados há décadas e agora materializados.

E se você não pensar em um desses motivos, a vida pode dar um jeito de te fazer parar. Nem sempre será do jeito que queremos e na hora que planejamos.

E, se parece tão necessária e, a essa altura do texto, tão sensata, por que tanta gente tem dificuldade para pausar um pouco? Apertar o botão descansar, ou encontrar um modo "slow" da vida?

E parece que para as pessoas de 40 anos desacelerar para descansar não é tão difícil, para as de 50 anos parece ser um pouco mais e para as de 60 anos ou mais pode ser ainda mais difícil. Mas entendo que o motivo não é a idade em si, mas o que se aprendeu sobre o que é viver, o que se ensinou sobre a vida e o que era acessível para pensar um bom estilo de vida, um modo de viver que não fosse trabalhar, cuidar da família, juntar dinheiro e sonhar com a aposentadoria. E tudo isso já estava muito bom para quem não tinha grandes heranças.

Está e sempre esteve errado deixar para incluir hobbies e diversão nas nossas vidas para somente quando a carga de trabalho diminuísse ou as contas bancárias ficassem mais abarrotadas de dinheiro. Esse erro quase todo mundo faz, desde as pessoas de 30 anos até aquelas de 70 anos!

Juntar dinheiro sem juntar saúde e amizades é uma prática de muitas pessoas que envelhecem.

E a ausência ou o não envolvimento da União na garantia de segurança para viver, ou seja, contribuindo para a promoção de saúde, segurança, educação, trabalho, lazer e outras possibilidades de socialização "obrigou" ainda mais que pessoas mais velhas deixassem de pensar no seu próprio bem viver.

E o que mais se pratica é o não parar, o não contemplar, o não descansar adequadamente, que é bem diferente dessa pausa que nos permitimos (nem todos) nos finais de semana ou nas férias (que deixou de ser de 30 dias!), pois sempre:

- Preciso trabalhar!

- Preciso pagar as contas!

- Preciso juntar os anos de trabalho para me aposentar!

- Preciso...

- Preciso...

- Preciso...

E foi assim que aprendi a criar uma certa repulsa ao verbo "precisar". Para mim, quando a gente precisa muito, é porque não estamos tanto no presente, na vida atual. Quando noto o uso exagerado de alguém do verbo "precisar", constato algo:

- É, essa pessoa não está bem!

Precisar é diferente de pedir, de solicitar ou de saber a hora de agir.

Não trago aqui a recomendação para uma pausa do tamanho de um período sabático. Nada disso (mas que não seria ruim se houvesse... *risos*). Mas falo aqui da pausa para descansar um ou dois sistemas fisiológicos, dois ou três grandes segmentos anatômicos, como pernas, braços e costas.

Que para as próximas semanas (eu já iria escrever ano!) você possa se organizar, reorganizar e, talvez, se desorganizar para incluir o descanso! Ninguém mais que você sabe (ou deveria saber) o quanto você merece!