Bebendo sem culpa: por que você deve abandonar os canudos de plástico
Depois das sacolas, chegou a vez dos canudos de plástico se tornarem o inimigo número um dos ambientalistas, e países como Reino Unido e gigantes como a rede de fast-food McDonald's já consideram banir seu uso. Por aqui, o Rio de Janeiro é a primeira cidade a abolir o uso desses canudos descartáveis em bares, quiosques e restaurantes.
O projeto, fruto da pressão popular via a ONG Meu Rio, acaba de ser sancionado pelo prefeito Marcelo Crivella e virou lei (ainda sem prazo para entrar em vigor). Enquanto isso, a Câmara Municipal de São Paulo também discute proibir a distribuição dos canudinhos em território paulistano.
Segundo um estudo da revista americana "Science", oito milhões de toneladas de restos plásticos são jogados todos os anos nos mares e oceanos, o equivalente a 250 quilos por segundo. "O plástico representa mais de 90% do lixo encontrado dentro das tartarugas, que são os animais mais afetados por ele. E a gente notou um aumento nessa quantidade com o passar dos anos", conta Rosane Farah, bióloga responsável e gerente da base de reabilitação do Instituto Gremar, de resgate de animais marinhos.
De acordo com o Instituto Akatu, quase 700 espécies, incluindo as ameaçadas, têm sido impactadas pelo material. E defensores do meio ambiente no mundo todo não se cansam de divulgar imagens chocantes do nocivo impacto dos canudos sobre a fauna marinha. Em um vídeo postado nas redes sociais, por exemplo, dois biólogos levam vários minutos para retirar canudos do nariz de uma tartaruga-marinha na Costa Rica.
E parece que a pressão tem feito efeito e levado o assunto para as redes sociais. No tuíte abaixo, a autora conta o seguinte: "Meu garçom perguntou 'Agora, nós queremos canudos ou queremos salvar as tartarugas?' e honestamente nós todos merecemos essa paranóia da culpa ambiental".
A gente precisa deles?
"Os canudos são servidos automaticamente com os copos nos bares. E eles são muito pequenos para serem reciclados. Eles passam por todos os filtros", explica Yasmine El-Kotni, cofundadora da ONG francesa Bas les Pailles (Abaixo os Canudos), que lançou um abaixo-assinado online para pedir sua proibição na França.
A Comlurb, Companhia Municipal de Limpeza Urbana do Rio, percebeu essa dominação crescente do lixo plástico na cidade. Se antes ele era pouco usado até os anos 1980, hoje ele superou o papel e o vidro no lixo das casas cariocas.
Leia mais:
Agente invisível: o microplástico
"A gente vê quando tem sofá boiando, uma sacola ou um saco de salgadinho e acha um absurdo. Mas o maior problema a gente não está vendo", alerta Gabriel Monteiro, biólogo e mestre em oceanografia pelo Instituto Oceanográfico da USP. Monteiro explica como o plástico se quebra com a luz solar e o impacto das águas e se fragmenta em pequenas partículas, ingeridas acidentalmente pela fauna marina. Isso inclui pequenos filtradores como o zooplâncton, por exemplo, na base da cadeia alimentar.
Além disso, o microplástico é capaz de absorver pesticidas e herbicidas que chegam ao mar. Esse veneno, assim como o óleo, não se mistura com a água, mas quando encontra um plástico, gruda nele. "É como um tupperware com a gordura do molho de tomate: é difícil de lavar. O microplástico acumula agrotóxico e leva isso para dentro dos organismos marinhos. A gente come agrotóxico na salada e em tudo que vem do mar. A tartaruga engasgada com saco plástico é só a ponta do iceberg", explica o biólogo.
Alternativas
A rede McDonald's testa desde meados de junho duas alternativas aos canudos de plástico: canudos biodegradáveis, ou copos com fecho integrado. Já a rede de hotéis Hilton anunciou o fim de cinco milhões de canudos e 20 milhões de garrafas de plástico servidas a cada ano em suas 650 unidades.
Alternativas existem e já estão sendo usadas: inox, canudos de macarrão cru, de bambu, ou comestíveis de diferentes sabores - não faltam ideias de substitutos. No Frank Bar, em São Paulo, desde setembro de 2017, os drinques e bebidas chegam aos clientes sem canudo algum. Se alguém pedir, aí sim é dado um de papel. "Se cada um fizer sua parte, certamente ajudaremos o meio ambiente e também a conscientizar quem estiver próximo ou atrelado ao nosso negócio, incluindo clientes", diz Spencer Amereno, head bartender do local.
"Fiquei muito chocada quando vi, há quatro anos, uma foto de um golfinho morto engasgado com canudinhos de plástico", diz Zazá Piereck, do carioca Zazá Bistrô, onde só dois drinques vêm com canudo de vidro. Todos os outros da carta o dispensam desde 2014. Ela também adotou outras posturas conscientes no estabelecimento, como não vender água em garrafas plásticas e fazer a logística reversa das de vidro -- devolvê-las ao fabricante para a reutilização.
Há mais de um ano, o Empório Jardim, também no Rio, acabou com os canudinhos plásticos e investiu nos de papel. Ainda assim, os copos saem da cozinha sem eles para não incentivar o consumo e evitar a "mecanização" do uso. Com essa atitude, o estabelecimento notou uma diminuição na demanda por parte dos clientes e até do lixo produzido no restaurante.
"Além de charmosos, os canudos biodegradáveis são sustentáveis. Queremos conscientizar a população sobre a necessidade de reduzir o consumo de canudos plásticos, que aparentemente são inofensivos, mas viram uma praga ambiental", explica Marcus Vinicius Barreto, dono do Pesqueiro, especializado em culinária caiçara e mediterrânea no Rio, que trocou os canudos de plástico pelos biodegradáveis no verão deste ano. Veja abaixo lugares onde os canudos de plástico foram banidos em São Paulo e no Rio:
SÃO PAULO
Frank Bar
Vai lá:
Maksoud Plaza. Rua São Carlos Do Pinhal, 424, Bela Vista. Segunda a quarta, das 18h à 1h. Quinta a sábado, das 18h às 2h. Domingos e feriados, das 18h à 0h. Telefone: (11) 3145-8000
Astor e SubAstor
Em ambos os bares os canudos de macarrão substituem os de plástico. Quem começou foi o SubAstor, há quatro anos, em drinques como o bloody mary, numa brincadeira que o bartender Fabio La Pietra fez com referência ao macarrão ao sugo. E, depois, a iniciativa pegou e foi implementada no Astor e no Astor JK, desde quando abriu no início deste ano.
Vai lá:
Astor JK - Av. Juscelino Kubitschek, 2041, térreo, Vila Olímpia. Segunda a quarta, das 11h45 às 15h30 e das 17h30 às 23h. Quinta, das 11h45 às 15h30 e das 17h30 à 0h30. Sexta, das 11h45 à 0h30. Sábado, das 12h à 0h30. Domingos e feriados das 12h às 22h. Telefone: (11) 3152-6057
SubAstor - Rua Delfina, 163, Vila Madalena. Terça a quinta, das 20h às 3h. Sexta e sábado, das 20h às 4h. Telefone: (11) 3815-1364
Barú Marisqueria
O restaurante abriu suas portas há 5 meses e já iniciou os trabalhos com a proposta ecológica de não ter canudos no recinto. Os drinques vêm com mexedores feitos de palitinhos de picolé, uma ótima alternativa para misturar a bebida sem prejudicar o meio ambiente.
Vai lá:
Rua Augusta, 2542, Cerqueira César. Terça a sexta, das 12h às 15h e das 19h às 23h. Sábado, das 13h às 16h30 e das 20h às 23h00. Domingo das 13h às 16h30. Telefone: (11) 3062-0898
RIO DE JANEIRO
Naturalie Bistrô
A chef Nathalie Passos se incomoda com os canudinhos e, principalmente, com a embalagem (também plástica) deles. Para misturar os sucos densos do Naturalie, os copos são sempre servidos com canudos de inox desde janeiro deste ano.
Vai lá:
Rua Visconde de Caravelas, 11, Botafogo. Segunda a sábado, das 11h30 às 16h. Não abre aos domingos. Telefone: (11) 2537-7443
Zazá Bistrô
Vai lá:
Rua Joana Angélica, 40, Ipanema. Segunda a quinta, das 18h à 0h. Sexta a domingo, das 12h à 0h. Telefone: 2247-9101
Quiosque Pesqueiro
Vai lá:
Avenida Lúcio Costa, s/n, Ilha 25, Praia da Reserva, Barra da Tijuca. Domingo a quinta, das 8h às 2h. Sexta e sábado, das 8h às 4h. Telefones: (21) 2081-7118/ (21) 99061-1342/ (21) 99336-7081
Empório Jardim
Unidade Jardim Botânico - Rua Visconde da Graça, 51, Jardim Botânico. Todos os dias, das 8h às 22h. Sexta e sábado até às 23h. Telefone: (21) 2535-9862
Unidade Gávea (Instituto Moreira Salles) - Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea. Terça a sexta, das 11h às 20h. Sábado e domingo, das 10h às 20h. Telefone: (21) 3284-7424
Unidade Ipanema (Empório Jardim na Praia) - Rua Maria Quitéria, 62, Ipanema. Todos os dias, das 8h às 22h. Telefone: (21) 25135151
Avenca
Aqui a iniciativa é nova. Faz alguns meses que os clientes só recebem canudos de inox quando fazem muita questão do objeto e, na ocasião, levam de brinde também as palavras de conscientização ambiental dos funcionários. O resultado da ação é que cada vez menos as pessoas têm pedido o canudo.
Vai lá:
Rua Pacheco Leão, 110, Jardim Botânico. Segunda a sexta, das 11h30 às 16h. Sábado e domingo, das 12h às 16h30. Telefone: (21) 3081-4383
Vizinho Gastrobar
Macarrão, papel e inox são as alternativas ao plástico no Vizinho Gastrobar por iniciativa da bartender Jéssica Sanchez, que nunca gostou de usar canudo. Ela também só traz essa opção se a pessoa pedir, e o desafio é mudar o hábito dos clientes.
Vai lá:
Vogue Square - Avenida das Américas, 8585, lojas 3 e 4, Barra da Tijuca. Terça, quarta e domingo, das 18h à 0h. Quinta a sábado, das 16h às 3h. Telefone: (21) 97154-0841
*Com informações da AFP
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.