Luana, a afrontosa

A atriz fala sobre Scooby e Anitta, os filhos e preguiça sexual. Para os rótulos, não está nem aí

Nina Lemos de Universa, em Cascais, Portugal Daryan Dornelles/UOL

Barraqueira, causadora, grossa. Todos esses adjetivos já foram usados nos últimos tempos para definir a atriz e apresentadora Luana Piovani. Um aviso aos que a rotulam: ela não está nem aí. Aos 43 anos, conta que vive a melhor fase de sua vida.

Há um ano, mudou de país. Foi com os três filhos (Dom, 7, e os gêmeos Liz e Bem, 4), cachorro, amiga e toda a mudança morar em Cascais, em Portugal. Fugiu da violência do Rio de Janeiro e foi em busca de uma vida mais simples e barata. Hoje, mora em uma casa grande, em uma área calma, a 20 minutos de trem de Lisboa. E conta que tem dinheiro suficiente investido para se aposentar.

"Vixe, já estou até vendo as manchetes: Luana aposentada!", diz. Ela sabe bem o que fala quando diz manchetes. Nos últimos tempos, apesar de morar fora e não aparecer todos os dias na TV, é assunto por todo canto. Suas falas, atitudes e vida rendem mais do que as de protagonista de novela das 21h. Tudo o que ela faz vira notícia.

Sua separação do pai de seus filhos, o surfista Pedro Scooby, rendeu muita fofoca. Isso porque Luana fala o que quer. As experiências são divididas com seus 3,4 milhões de seguidores no Instagram e com os 363 mil assinantes do seu canal de YouTube, Luana sem Freio.

Os holofotes, sempre virados para ela, acenderam com mais força quando o ex começou um namoro com a cantora Anitta. Luana soube do romance pelo Instagram. O que fez? Contou, para quem quisesse ouvir, o que estava acontecendo.

Quando os filhos foram viajar com o pai e Luana ficou dias sem conseguir falar com os pequenos, também dividiu a preocupação com os seguidores. Isso atraiu, claro, muitos comentários contra ela. Mas também uma grande solidariedade de mulheres separadas com filhos.

Compartilhando experiências, acabou criando uma comunidade de mulheres no seu canal. "A verdade é que é tudo igual. Todos passam pelas mesmas coisas. Por isso, as pessoas se identificam."

Luana fala muito palavrão, tem opiniões fortes e faz todo mundo em volta rir. Raramente chora. Será por isso a fama de barraqueira? Ela até acha que sim. Mas, depois de muitos anos de análise, diz que não liga.

Na conversa com Universa, numa praça ao lado da sua casa, Luana bebeu uma taça de vinho enquanto falou sobre assédio, sexo depois da gravidez, monogamia e, claro, o novo amor.

Luana está apaixonada pelo jogador de basquete israelense Ofek Malka, de 23 anos. Com o namoro, voltou às manchetes: "Luana está namorando homem 20 anos mais novo!" E, de novo, enfrenta os preconceitos. "A gente olha um casal onde a mulher é mais nova e só pensa, ah, isso nem é assunto. Se fosse homem, ninguém falaria nada. Qual é?"

Separação midiática

O canal de YouTube de Luana chama Luana sem freio. E ela não coloca freio mesmo. Diz que sua liberdade afronta as pessoas. Não é de sofrer calada. Ao se separar do marido, com quem foi casada por oito anos, viu que representava uma parcela grande de mulheres, as que são as principais responsáveis pelos filhos.

"Quando o Pedro começou a fazer merda, eu pensei: 'Ele está fodido. Eu represento 70% das mulheres. Agora, ele vai ver. Estou com 70% das mulheres brasileiras do meu lado! Vou só assistir ao escalpe e esperar ele voltar'."

Uma pesquisa realizada pela Rede Nossa São Paulo com o Ibope vai ao encontro da opinião de Luana: na capital paulista, 7 em cada 10 mães cuidam sozinhas ou quase sozinhas dos filhos. Luana acredita que, ao falar do que acha errado e cobrar respeito, faz com que suas seguidoras também tenham coragem de cobrar por seus direitos.

"Elas viram em mim alguém tida como perfeita, dizendo que: 'Olha só, isso está errado! Não vou ficar caladinha, fazendo a fofa! Baixe sua bola. Você deve satisfação, sim!'"

Entrou no meu terreiro

Luana, filha de pais separados (seus pais se separaram quando ela tinha dois anos), não quer que seus filhos enfrentem situações que ela passou, como pais falando mal um do outro e clima ruim em casa. Por isso, durante a separação, sugeriu que o ex continuasse amigo e parte da família.

"Propus uma história muito legal, que inicialmente aconteceu. Mas aí ele se apaixonou. Acho que os dois, muitos jovens, fizeram escolhas extravagantes. Foram brincando de 'estamos apaixonados e felizes' sem medir esforços. Quando se tem 20 anos, tudo bem, cara. Mas, se tem três filhos, não pode brincar mais disso."

Luana se incomodou com o fato de ela e os filhos terem ficarem sabendo que Pedro estava namorando Anitta por meio das redes sociais. E por não conseguir falar com o ex quando ele viajou com os filhos para que conhecessem a cantora pop. "Aí, entrou no meu terreiro! Liguei o sistema de defesa feito pela Nasa e aí ficou ruim para ele, entendeu?"

Hoje, diz que está tudo bem entre ela e o ex, do jeito, inclusive, que ela havia proposto desde o início.

"Quando ele se ferrou [Anitta terminou o relacionamento com Scooby por telefone], enfiou a viola no saco e disse: 'Preciso de ajuda'. Eu fui lá e estendi a mão, o que as mulheres sempre fazem. É o nosso papel. Porque se a gente não fizer, a história acaba. Alguém tem que ceder."

"Coitado do Pedro, agora ele está vivendo seu momento Geni. Mandei um recado para ele para explicar que vai passar. Eu disse: 'Relaxa. Já fui Geni. Você não tem uma tatuagem escrito tudo passa? Então, isso vai passar também'."

Quando Pedro se ferrou, disse: 'Preciso de ajuda'. Eu fui lá e estendi a mão, o que as mulheres sempre fazem

Luana Piovani

Agredida e fragilizada

O momento Geni (em referência à música de Chico Buarque que fala: "joga pedra na Geni, ela é boa de apanhar, ela é boa de cuspir"), no caso dela, foi uma das passagens difíceis de sua vida. Quando, em 2008, então namorada de Dado Dolabella, foi agredida pelo ator e o denunciou.

"Para mim, foi mais traumático o espezinhamento que fizeram comigo do que a agressão em si." Na mesma época, Luana foi acusada de agressão por uma produtora da TV Globo. "E daí eu, de agredida, virava agressora", diz, afirmando que estava frágil e que sua versão da história não foi ouvida.

Sobre denunciar Dado, ela conta que não teve dúvidas. E que falar sobre o assunto a ajudou. "Acho que a dor não pode ser vivida sozinha. Você tem que gritar porque tem sempre alguém que já viveu essa dor. E isso faz bem porque você descobre que não, você não é a primeira pessoa nem a última que passou por isso."

Todo pai precisa de assessoria

Para cuidar dos filhos em Portugal, Luana é rodeada de mulheres. Conta com a ajuda de Angela Garcia, uma amiga de longa data que se mudou com ela para Cascais, com sua mãe e muitas amigas. No fim, segundo ela, as mulheres acabam segurando o rojão.

"Sempre é assim, né? As mulheres sempre vão cuidar dos filhos. Os homens sempre vão dar uma ajudinha. A gente mesmo fala: 'Ah, ele me ajuda'."

Por isso, ela espera que a futura namorada de Pedro seja uma pessoa bacana com seus filhos.

"Eu quero que seja uma pessoa legal, porque é com ela que os meus filhos vão passar uma boa parte do tempo. Então, por exemplo, se meu filho estiver com febre, é essa mulher que vai ficar ali, se lembrando de tirar a temperatura e de dar o remédio. O Pedro vai lembrar, mas ele vai precisar de assistência. Cinco por cento dos homens conseguem ser o que as mães são. Não sei nem se cinco. O homem pode ser um bom pai, mas precisa de assessoria. Pode ser uma namorada, uma amiga, uma babá, a mãe, a avó. Às vezes, uma secretária do lar, enfim, alguém para dividir.

O fato de as mulheres acabarem segurando o rojão das crianças e da casa, segundo ela, é causado, também, pelas próprias mulheres. "Eu cometi esse erro. Por exemplo, quando Dom nasceu, eu dividi a pica com o Pedro. Quando os gêmeos chegaram, eu joguei o Pedro para o Dom, deixei ele mais de escanteio. E peguei, com a ajuda da babá, os gêmeos. E aí deu ruim, porque ele ficou mal-acostumado. Ficou com um 'way of life' muito diferente do que era pra ser na realidade, e ele se acostumou. [Ficou] com um outro comprometimento com a responsabilidade de ter três filhos pequenos."

Cinco por cento dos homens conseguem ser o que as mães são. O homem pode ser um bom pai, mas precisa de assessoria

Luana Piovani

Furor sexual?

Luana é uma mulher linda e sexy. E sabe disso. Mas, segundo ela, está longe de ser um furacão sexual, como as pessoas imaginam.

"Eu sou uma preguiçosa, sexualmente falando, do cacete", diz. E acha que descobriu o motivo recentemente. "Eu sou como Vinicius de Moraes [o poeta, famoso, entre outras coisas, por se apaixonar muitas vezes e ter casado nove vezes]. Porque a minha preguiça nada mais é que a preguiça de comer sempre a mesma comida. Mas me bota um boy novo pra você ver se tem preguiça. Não tem preguiça, filha", gargalha.

Ela só foi descobrir isso fazendo o programa "Luana é de Lua" (a primeira temporada, no canal E!, terminou recentemente) onde entrevistou especialistas sobre assuntos como monogamia e fantasias sexuais. "Se a pessoa está há oito anos do seu lado, vai dar vontade de 20 em 20 dias.", diz.

Além disso, Luana diz que a vontade de fazer sexo desaparece depois da maternidade. "Depois de filho, ninguém quer transar. E a gente fica fingindo, a gente não quer olhar pra cara do homem. Você tá cansada, se sentindo feia e com preguiça. Só de ele querer te comer loucamente, você já fica com raiva dele."

Eu sou uma preguiçosa, sexualmente falando

Luana Piovani

Vida portuguesa

Apesar de tantos burburinhos, a vida em Portugal faz com que Luana se sinta ainda mais blindada. Ela não tem TV. Diz só seguir em redes sociais pessoas que acrescentam algo em sua vida e que todas as polêmicas não têm influência alguma em sua vida.

Hoje, se ocupa, segundo ela "de ser feliz." Durante a entrevista, olha para os lados, para o bairro calmo onde vive, e diz: "Olha isso, gente, estou na praça do lado da minha casa tomando um vinho. Isso não é uma maravilha?"

Luana se deslumbra com esses prazeres simples, de poder sentar no chão ou, anônima, ir à zona boêmia de Lisboa e sentar no meio-fio. E sente um alívio enorme por não ter que se preocupar mais o tempo todo com dinheiro. "Eu economizo R$ 11 mil só de escola. Meus filhos estudam em escola pública."

Para manter o mesmo padrão de vida no Brasil —um país, segundo ela, miserável, mas feito para milionários—, ela conta que tinha que trabalhar muito. E pensar em trabalho o tempo inteiro. Algo que, com a maturidade, percebeu não ser saudável.

"É como se você estivesse o tempo todo com alguma coisa te sugando a jugular. Eu sou autônoma. Então, estava sempre acabando um trabalho e pensando em qual seria o próximo. Isso é muito injusto. Porque a gente não vive, sobrevive. Por isso, as pessoas têm pânico, adoecem."

Depois de ter filho, ninguém quer transar. Só de ele querer te comer, você fica com raiva

Luana Piovani

Defeitos e cicatrizes

Aos 43 anos, Luana está envelhecendo bem. A idade não a assusta. "Estou atenta. Mas acho que envelhecer faz parte do processo de quem quer viver muito. E eu quero viver muito."

Hoje, vê muitas vantagens na maturidade. "Estou mais segura das minhas escolhas, dos meus defeitos, das minhas cicatrizes. Por exemplo, o que é ficar nua na frente de um homem aos 20 anos? E o que é ficar nua na frente de um homem aos 40? A diferença é que você não tem vergonha da sua cicatriz, dos seus defeitos."

O tempo, diz ela, faz com que foque no que é verdadeiramente importante. "A gente já teve amigo que morreu, a gente já viu gente morrer. Não dá para ter saúde e não ser feliz com isso." Luana, sem filtro nem freio, diz que vai morrer com 104 anos. "Adoro viver, só morro se for abatida."

Ouça a íntegra da conversa com Luana Piovani no podcast UOL Entrevista. A entrevista completa em vídeo está disponível no canal do YouTube do UOL.

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