Ela quer entreter você

Tatiana Costa foi estagiária na Globo e hoje cuida de canais pagos da emissora, onde luta por mais diversidade

Cláudia de Castro Lima Colaboração para Universa Zô Guimarães/UOL

Diretora-geral dos canais pagos da Globo de entretenimento (Multishow, Off e Bis) e infantis (Gloob e Gloobinho), Tatiana Costa passou todas as tardes de sua infância e adolescência, como na música de Toquinho e Vinícius de Moraes, ouvindo o mar de Itapuã.

É ela quem recorre à canção ao relembrar como o tempo em que morou na Bahia foi fundamental para construir aspectos importantes de sua personalidade, como a curiosidade e a paixão pela música e pela dança. "Morava entre Vinícius e Jorge Amado", conta ela. "Todo mundo acha que sou baiana, e eu sou mesmo, só não nasci lá."

Paulistana, ela mudou-se para Salvador aos seis meses de idade com os pais, "um casal boêmio que sempre amou Carnaval". Tatiana saiu da Bahia para estudar administração no Rio de Janeiro e, na faculdade, conheceu o marido, Manuel Falcão, com quem está casada há 28 anos e tem dois filhos, João Pedro, 18, e Maria Isabel, 15.

Falcão, hoje diretor de Comunicação da Globo, era estagiário na emissora quando viu no mural uma vaga que tinha o perfil da então namorada. Tatiana conseguiu o estágio e neste ano ambos completam 25 anos de Globo. "Todo mundo pergunta como é possível estar casada e trabalhar com o marido há tanto tempo, e eu digo que é um privilégio poder ter um parceiro como ele, que entende exatamente tudo o que eu vivo no trabalho e me dá dicas."

A Universa, Tatiana relata em primeira pessoa sua trajetória na TV por assinatura e também fala de como foi produzir conteúdo no início da pandemia. E diz também que é seu papel ajudar o entretenimento a ser mais diverso.

Três dicas para comandar uma equipe

Acredite em trabalho colaborativo e com times diversos, mais inteligentes e produtivos

Sobre o poder do coletivo

Aprenda a se adaptar e agir rápido; tudo está sempre em transformação

Sobre o poder de adaptação

Busque o aprendizado constante. Cursos são bons, mas trocar experiências é melhor

Sobre o poder da escuta

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"Fui de estagiária a diretora-geral nunca tendo medo de perguntar"

"Fazia faculdade de administração e comecei a estagiar logo no meu segundo período. Meu marido, que era meu namorado na época, entrou na Globo e eu ficava: "Olha lá se não tem nada para mim?". Um dia ele viu no quadro de avisos uma vaga de estágio e falou que era minha cara. Me inscrevi e entrei seis meses depois dele, no departamento que hoje é de licenciamento de conteúdo, quando a empresa ainda era Globosat [hoje é Grupo Globo]. Lá, me interessei pelo entretenimento e comecei a me especializar nesse tipo de conteúdo.

Sempre fui muito curiosa, inquieta, mas me apaixonei por lá. A televisão por assinatura estava surgindo no Brasil, então a gente aprendia enquanto fazia, jogando nas 11 posições. Subi degrau por degrau: estagiária, assistente, analista, coordenadora, gerente até ser diretora dessas duas unidades. E sempre me senti desafiada pela Globo. Não estaria lá se não fosse uma empresa em constante transformação.

Hoje, 25 anos depois, estou na liderança de cinco canais pagos: os de entretenimento, Multishow, Bis e Off, e os infantis, Gloob e Gloobinho. Se me perguntassem se ficaria tantos anos na mesma empresa, diria que de jeito nenhum.

Fui crescendo junto da empresa e da TV por assinatura. E, no bom sentido, não respeitei as barreiras. Procurei quem me inspirava e, mesmo que fosse o chefe do chefe, ia conversar, trocar ideia.

Em uma empresa a gente precisa saber perguntar mais, porque assim aprendemos mais. E sempre fui corajosa no sentido de que não tive medo de errar. O fio condutor da minha trajetória foi essa postura mais aguerrida

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"TV tem poucas mulheres no comando e precisa buscar diversidade"

"A televisão sempre foi um ambiente talvez menos machista e mais plural do que outros, como o setor financeiro ou tecnológico. Mas, ainda assim, temos um longo caminho para termos mais mulheres, mais diversidade nas lideranças. Devemos ter algo em torno de 40% de mulheres em cargos de gerência, mas, na diretoria, uns 15%.

Isso é um reflexo da sociedade. Só que nós, que falamos com milhões de pessoas, precisamos refletir essa sociedade e dar lugar de fala à diversidade. Tenho 177 colaboradores abaixo de mim, mas, diretamente, trabalho com oito — destes, cinco são mulheres.

Faz parte de nossa estratégia olhar para o futuro. Nós, que falamos com milhões de pessoas, precisamos refletir a sociedade e dar lugar de fala à diversidade.

No Multishow, por exemplo, buscamos ter mais comediantes mulheres e trabalhar no desenvolvimento delas. A Tatá Werneck, apresentadora do 'Lady Night', é uma grande parceira nesse sentido, temos muita troca

Para a criação do nosso conteúdo, nossas salas de roteiro estão cada vez mais diversas em relação a gênero, raça e religião. É uma exigência nossa que elas representem a pluralidade.

E também aprendo muito com uma mentoria reversa: ouvindo histórias dos estagiários e de assistentes mais jovens, para ver quanto a diversidade está na pauta deles.

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"No início da pandemia, chorei e troquei inseguranças com minha equipe"

"Confesso que quase perdi todo o meu cabelo no início da pandemia. Sentava às 9h da manhã na cadeira e levantava às 22h — e era cabelo para tudo quanto é lado. Sou uma pessoa para quem a equipe é tudo. Perdemos, portanto, muitas noites de sono, mas rapidamente nos organizamos.

No Multishow, por exemplo, fizemos mais de 50 lives, porque percebemos que todo mundo estava no YouTube. A gente falava com o artista num dia e, no outro, a live já estava de pé

E também tivemos que pensar em lives para as crianças, porque imagina como estava a cabecinha delas? Botamos desde o doutor Drauzio Varella respondendo às perguntas delas até os personagens de 'Detetives do Prédio Azul' ensinando como vencer esse desafio.

Foi um período de chorar junto com a minha equipe e de trocarmos fragilidades e inseguranças. Mas superamos nossas metas de audiência, de faturamento publicitário e saímos fortes."

Zô Guimarães/UOL Zô Guimarães/UOL

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