Sobrado de 450 m² destaca-se em bairro tombado como uma escultura moderna

Entre as copas das árvores centenárias e telhados característicos de um bairro estritamente residencial e tombado em São Paulo (SP), sobressai-se a cobertura arredondada com ar fabril do sobrado projetado por Bela Gebara, da Gebara Conde Sinisgali Arquitetos -- fruto do sonho de um casal de namorados em possuir uma residência que atendesse as várias etapas de sua vida.

O terreno plano de 300 m² de desenho irregular (mais estreito na frente e mais largo no fundo) abrigava um sobrado antigo e apresentava algumas restrições, devido ao tombamento do bairro, que determina a preservação da vegetação arbórea, dos traçados urbanos contidos entre os alinhamentos dos lotes, e as linhas que demarcam o terreno.

Em função dessas restrições, o projeto também deveria passar pela aprovação do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) e do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp).

"A casa estava muito detonada e, em comum acordo, decidiu-se pela construção de uma nova residência", explica a arquiteta que optou pela demolição para o melhor aproveitamento da área. A implantação foi planejada de acordo com a legislação que permitia encostar a obra em um dos lados. Assim, o projeto estabeleceu o recuo na outra fachada lateral, que por estar voltada para ótima face de insolação, o nordeste, abriga os dormitórios. Já a fachada frontal beneficia-se do maior recuo determinado por lei, em torno de seis metros, possibilitando a distância ideal para o subsolo com rampa.

Dividida em dois blocos, a construção mantém a privacidade da família. As áreas íntima e social localizam-se no volume posterior, tirando maior proveito dos fundos do lote, e a área de serviços e empregados na frente. Os acessos são realizados pelas laterais, sendo que a entrada principal está situada no meio do bloco social.

Como o projeto deveria contemplar um futuro uso para um casal e dois filhos, o programa dos clientes era extenso, e previa duas suítes para as crianças e um térreo generoso, com serviço completo, terraço e jardim. Entre a aprovação do projeto no Conpresp e no Condephaat (em torno de um ano), e a construção (quase dois anos) os namorados casaram-se e tiveram o primeiro filho.

Uma escultura moderna
O projeto arquitetônico partiu para a verticalização, adotando a forma de sobrado, para contemplar todas as necessidades dos proprietários em um terreno que não era grande o suficiente para o padrão da obra. Uma vez vertical, o volume em concreto foi tratado como uma escultura, que surge por meio dos recuos e saliências, marcados por texturas diversas -- tijolo à vista e massa grossa desempenada (argamassa feita de cimento, cal e areia média alisada com ferramenta própria para nivelar) pintada de branco.

A circulação foi planejada estrategicamente de modo a facilitar o deslocamento entre os quatro pavimentos, contemplando duas escadas: uma com dois lances que leva do social ao terceiro pavimento; e a segunda também com dois lances que liga o subsolo ao segundo pavimento. Para facilitar o deslocamento vertical de cargas ou compras da garagem até o segundo pavimento, um monta-cargas.

A garagem pôde ser construída graças a escavação. Por isso, além das estacas de concreto moldadas no local, a cortina de concreto, nas extremidades do subsolo, faz a contenção da terra. E, em cumprimento à lei que determina a altura máxima de 10 metros, a arquiteta aproveitou a cobertura para abrigar a biblioteca, que funciona como um paraíso entre as centenárias copas do Jardim Paulista. (Silvana Maria Rosso, colaboração para UOL)