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Livro de Ocimar Versolato pulveriza veneno pelo mundo fashion

29/11/2005 18h50

SÃO PAULO (Reuters) - Um casal de estilistas brasileiros aparece em situações embaraçosas em Paris, a modelo Claudia Schiffer é fulminada num desfile na Coréia e uma dupla de representantes de carros importados é criticada por investir em moda. O recém-lançado "Vestido em Chamas", livro de Ocimar Versolato, espalha veneno pelo mundo fashion.

O estilista, que começou sua carreira há 11 anos em Paris e, depois de sete anos na capital francesa, instalou-se no Brasil, mostra na obra um olhar crítico sobre o circuito da moda França-Brasil.

"Ao pisar novamente aqui (Brasil), encontrei esboços de um provincianismo exagerado", escreve no livro de 203 páginas, editado pela Aleph. "Não sou como alguns estilistas daqui, que a cada estação copiam uma coleção e mantêm, entre si, o acordo tácito de não copiarem as mesmas grifes: um copia a Balenciaga, o outro a Comme des Garçons, o outro a Prada e o outro a Gucci."

O livro, com tiragem inicial de 8 mil cópias, será lançado nesta terça-feira com uma noite de autógrafos em um shopping de São Paulo.

Por meio de pequenas crônicas, a narrativa segue desde o dia em que Versolato se encanta, aos 13 anos de idade, por um desfile de moda pela TV, da escola Studio Berçot, que viria a ser sua porta de entrada para o estilismo na França.

Aparecem então seu trabalho com o estilista Hervé Léger -- que o recebe vestido de cowboy --, o prêt-à-porter na Lanvin e seu desfile de alta-costura com sua marca própria.

No volume, há pouca modéstia, algumas dicas de moda escondidas e desfiles memoráveis descritos, além de alguma criatividade para contar passagens polêmicas -- "diria que 90 por cento do que escrevi é verdade", avisa o estilista na "Nota ao leitor".

BARBARIDADES TUPINIQUINS

Versolato passa muito mais tempo elogiando seus amigos -- Sônia Braga, Ney Matogrosso, Hebe Camargo -- e contando sua vida profissional entre famosos, relegando apenas algumas páginas para alfinetar gente como a modelo alemã Claudia Schiffer, a quem ele recusa em um desfile na Coréia do Sul. "(...) não serve nem para santinho de caminhoneiro e muito menos para pôster de oficina de mecânica", escreve sobre ela.

O casal de empresários que financiou a megaempreitada do estilista no Brasil --e que só durou seis meses-- ganha o capítulo final inteiro, com um desfecho que poderia ser "bem mais glamouroso", nas palavras do próprio autor.

"Parecia empresa pública. A cada mês dobrava o número de gente com salários astronômicos", diz Versolato sobre as sete lojas que abriu no ano passado, em três cidades.

Sobre sua sócia, que chama pelo nome fictício de Natasha, ele a descreve como uma "árvore de Natal ambulante". "Não fazia absolutamente nada pela empresa, a não ser proibir os empregados de usar o elevador."

Outro casal, com nomes fictícios de Rinaldo Botelho e Graça Preá, são flagrados dentro de um provador fotografando roupas da Comme des Garçons em Paris. Em outro momento, na mesma cidade, conta como Rinaldo ficou das 9h as 13h trancado em um banheiro para conseguir acesso em um desfile de entrada restrita.

Mas Versolato também revela algumas de suas próprias "barbaridades tupiniquins": "falsificávamos crachás da imprensa e credenciais, roubávamos convites nas portas dos hotéis, passávamos o dia planejando uma maneira de garantir acesso", escreve logo no início, quando conta seus dias de estudante na época dos concorridíssimos desfiles franceses.

(Por Fernanda Ezabella)