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'Apresentei não monogamia ao meu marido': tema é recorde de busca no Brasil

de Universa, em São Paulo

16/05/2023 11h00

O Sem Filtro de hoje (16) discutiu o interesse do público brasileiro em relacionamentos não monogâmicos. O Brasil é o quarto país do mundo que mais pesquisa sobre não monogamia na internet. Universa recebeu uma pesquisa exclusiva do Google que mostrou que as buscas pelo assunto aumentaram 280% nos últimos dois anos. O levantamento foi feito via Google Trends, uma ferramenta de monitoramento das palavras mais pesquisadas na plataforma.

Segundo especialistas, o isolamento durante a pandemia foi um fator determinante para que as pessoas começassem a questionar o formato de seus relacionamentos. "A monogamia tem um roteiro a se seguir: fica, namora, noiva e casa. Tudo isso está dado. Mas a não monogamia propõe que as pessoas organizem suas relações conforme suas necessidades, é diferente. E é difícil alinhar isso emocionalmente", explica Gisa Rocha, psicóloga e terapeuta terapeuta de casais com foco no público não monogâmico.

"As pessoas não têm referências, então chegam meio perdidas, buscando uma validação, orientação, um norte", explica Adê Monteiro, que também é psicóloga e terapeuta de casais, com a mesma especialidade de Adê. Juntas, elas administram o perfil Reflexões & Conexões Não Mono, no Instagram.

De acordo com a psicóloga e sexóloga Ana Canosa, colunista e apresentadora do podcast Sexoterapia em Universa, relações não monogâmicas é um guarda-chuva e, dentro dele, existem diversas formas de se relacionar:

Relação aberta: você se relaciona amorosamente com alguém, mas faz sexo fora do relacionamento, de forma tudo consentida.

Swing: quando o casal faz sexo com outras pessoas, na presença um do outro e seguindo regras pré-definidas.

Poliamor: quando a pessoa se relaciona com mais de uma ao mesmo tempo em compromisso, de forma consensual.

Relações livres: quando a pessoa não quer nem definir que vive algum tipo de compromisso. Quer ser livre e sem rótulos

Ainda de acordo com a pesquisa, o Brasil registrou um pico de buscas "relacionamento aberto" na segunda semana de janeiro. Isso porquê, Aline Wirley, uma das participantes do BBB, falou que seu casamento funcionava dessa forma.

Durante o Sem Filtro, a jornalista Cris Guterres pontuou que a ideia de um modelo de relacionamento monogâmico tem suas bases fincadas em um modelo patriarcal que subestima as mulheres. Para ela, a não monogamia acaba sendo uma ideia política que contribui para a não hierarquização das relações.

A ideia da não monogamia não é para a gente sair se relacionando com todo mundo, é uma ideia para a gente quebrar essa lógica que é uma lógica exploratória e vai colocando a mulher sempre em subserviência. Cris Guterres

Da teoria para a vida

A escritora Janaína Ramos, 34, também fala do assunto nas redes sociais por meio da conta @naomonogamia. Aliás, ela não só fala como pratica. Ela contou à Universa que sempre sentiu não se encaixar no padrão monogâmico.

"Eu sempre questionei a monogamia. Meu primeiro beijo, aos 10 anos, foi em dois meninos na mesma noite. Um na frente do outro", disse. Apesar de ter vivido um relacionamento com dois homens ao mesmo tempo, Janaína só conheceu o termo poliamor aos 24 anos, quando participou de uma roda de conversa em um bar na Vila Madalena, em São Paulo.

"Foi o primeiro contato que tive com o tema. Me questionei sobre os motivos de não conhecer aquilo antes", diz a escritora. Após o encontro, Janaína entrou em grupos do Facebook e WhatsApp e conheceu pessoas que acreditavam no mesmo que ela. Foram necessários dois anos a mais de conhecimento para se sentir livre e pertencente nesse formato de amor.

Casada há sete anos, ela tem ensinado ao marido sobre esse formato de relação. "Só comecei a namorar com ele porque ele aceitava", disse ela, que já teve a experiência de namorar dois homens ao mesmo tempo.

Cris Fibe: 'Tentativa de desconstruir a monogamia faz parte da luta pelos nossos direitos e o direito ao nosso corpo'

A jornalista Cris Fibe afirmou que as pessoas são socializadas com base em relacionamento cisheteronormativa que faz com que mulheres cresçam com a ideia de que precisam de um casamento e, dentro dessa relação, o homem será "proprietário" da mulher. Para ela, novas formas de relacionamento, como a não monogamia, ajudam em um processo de libertação das mulheres.

Essa tentativa de desconstruir a monogamia faz parte da luta pelos nossos direitos, pelo direito ao nosso corpo e a liberdade do nosso corpo. Também está ali na raiz do fim da violência contra a mulher, porque quando a gente fala de controle, é a ideia de que a gente é propriedade desses homens. Cris Fibe

Para ela, a desconstrução do modelo de relacionamento heteronormativo é importante dentro de um processo de aceitação que existem diversos modelos possíveis de relacionamentos. "Há vários modelos possíveis e acho que faz parte da luta pela liberdade para não vermos mais a mulher como propriedade", encerrou.

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Assista ao Sem Filtro

Quando: às terças e sextas-feiras, às 14h.

Onde assistir: no YouTube de Universa, no Facebook de Universa e no Canal UOL.

Veja a íntegra do programa: