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Doação de leite materno: só 1 ml já pode salvar a vida de um recém-nascido

Asawin_Klabma/Getty Images/iStockphoto
Imagem: Asawin_Klabma/Getty Images/iStockphoto

Glau Gasparetto e Thaís Lopes Aidar

Colaboração para Universa, em São Paulo

08/11/2022 04h00

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que os bebês sejam alimentados exclusivamente com leite materno até os 6 meses de idade. E que, mesmo após a introdução dos primeiros alimentos sólidos, sigam sendo amamentados até, pelo menos, os 2 anos de idade. Mas, infelizmente, não são todas as mães que conseguem amamentar e nem todos os bebês que conseguem se beneficiar do alimento — seja por questões físicas, emocionais ou até 'operacionais'.

Os bancos de leite materno podem ser uma opção de para alimentação de crianças internadas que, por algum motivo, não podem ser amamentadas diretamente no seio materno. E qualquer quantidade ajuda: 1 ml de leite materno é suficiente para nutrir um bebê prematuro cada vez que ele for amamentando. "Dessa forma, 10 ml podem alimentar até dez recém-nascidos diariamente", pontua a nutricionista Maria Mercedes Sakagawa, coordenadora do banco de leite do Hospital e Maternidade Santa Joana, em São Paulo.

A professora e arquiteta Patricia Capanema, 37 anos, de Marabá (PA), tomou a decisão de doar seu leite nas duas vezes em que amamentou, devido à produção excessiva. Em junho de 2020, quando nasceu sua primeira filha, Helena, ela passou a armazenar o excesso de leite para o caso de a menina precisar.

Depois, quando soube por uma amiga sobre a possibilidade de doação a bebês que necessitavam do alimento começou a contribuir. Em maio deste ano, ao dar à luz o caçula Vitor, repetiu a prática solidária.

"A ordenha é cansativa, mas muito gratificante. Na hora em que enchi o potinho de leite, já senti um sentimento bom, de que estava ajudando. Fui atrás, li as estatísticas e descobri que poderia alimentar até dez recém-nascidos. Dormir com a sensação de que consegui alimentar alguns bebezinhos prematuros que precisavam é uma sensação recompensadora", conta a Patricia.

A pediatra e neonatologista Patrícia Terrível confirma dos benefícios: "O leite materno ajuda no desenvolvimento do sistema imune, diminui as chances de infecções, alergias e o risco de obesidade, estimula o sistema nervoso, melhora a digestão - evitando as cólicas - e tem todos os nutrientes necessários", diz.

O procedimento é fácil

O processo para contribuir é bastante simples e feito pelo banco que receberá o leite. No caso da doadora Patricia, ela lembra que o hospital entregou os frascos esterilizados em sua casa e, depois, um funcionário retornou ao endereço para coletar tudo o que foi ordenhado.

Após doado, o leite não vai direto para o bebê - passa por um processo chamado pasteurização, com o objetivo de esterilizá-lo. "Depois, o produto é congelado em freezer apropriado até a liberação do laudo microbiológico, que leva cerca de 48 horas", diz Maria Mercedes.

Outro detalhe a ser considerado é que nem toda lactante pode doar. A coordenadora esclarece que existe um cadastro prévio a ser feito no Banco de Leite Humano, fornecendo dados atualizados sobre a saúde da mulher. "Incluem-se os resultados negativos de todas as sorologias do pré-natal e as exigidas da legislação", cita.

Por essa questão, algumas mães acabam tendo contraindicações à doação. "A mulher deve respeitar algumas regras simples: não fumar ou usar álcool, não utilizar medicações que influenciam no leite, como antidepressivos e ansiolíticos, e ter boa saúde", pontua o pediatra Nelson Douglas Ejzenbaum, membro da Academia Americana de Pediatria.

Além disso, o médico destaca que qualquer ferimento no seio tende a dificultar a amamentação e, portanto, a ordenha e doação daquele leite. Se a mulher tiver algum tipo de machucado na região, a tarefa pode ser mais difícil.

Pode faltar para o meu filho?

É bom que a mãe saiba que, ao ceder seu leite, ela não colocará o filho em posição de necessidade do alimento. "O peito não é estoque, é fábrica. Quanto mais o bebê mama, maior será a produção de leite. Então, o que a a mulher doa é o leite que está sobrando, ela não tira o alimento de seu filho", argumenta a pediatra Patrícia.

Por isso é que os especialistas reforçam a importância da lactante doar o excesso de seu leite materno, caso se encaixe nos pré-requisitos. A maioria dos recém-nascidos beneficiados costuma estar sob cuidados da UTI neonatal por doenças e intercorrências.

Os bancos de leite estão disponíveis e várias cidades brasileiras. Para encontrar a unidade mais próxima ao seu endereço, basta acessando a página da Rede Global de Bancos de Leite Humanos (rBLH) e selecionar 'A Rede BLH' e, depois, 'Localização dos BLHs'. No site também há mais informações e orientações sobre o procedimento.