De Ivete a Virginia: brasileira faz festas pra filhos de famosos em Orlando

Quando Amanda Lima deixou a zona norte de São Paulo rumo aos Estados Unidos, há oito anos, ela só tinha uma certeza: que não voltaria para o Brasil e iria construir sua vida em solo americano. Recém-casada e com 1.500 dólares na carteira, suficiente para uma semana de hospedagem, ela e o marido desembarcaram em Orlando dispostos a mudar de vida.

O primeiro emprego de Amanda foi de fritadora de pastel em um supermercado. De lá pra cá, muita coisa mudou e hoje ela comanda várias empresas no ramo de festas não só em Orlando, onde reside, como fora do estado da Flórida. Por trás do sucesso, está sua habilidade com balões, que decoram as comemorações de famosos como Ivete Sangalo, Zé Felipe e Virginia, Leo Santana e Lore Improta, entre outros.

A seguir, Amanda conta como alcançou seu "sonho americano" e hoje fatura 700 mil dólares por ano (mais de 3,6 milhões de reais).

"Não existia um plano B"

"Costumo dizer que eu não escolhi os Estados Unidos; os Estados Unidos me escolheram. Desde quando assistia à Sessão da Tarde, o meu sonho sempre foi aquele cenário de filmes. Acredito que podemos transformar o que vibramos e, desde pequena, eu vibrava bastante com esse lugar.

Quando cheguei aqui em Orlando pela primeira vez, de férias, em 2011, não tinha nenhuma intenção de morar, mas sentia que era aqui que queria ficar. Na segunda vez, em 2014, não sei dizer ao certo qual era minha intenção.

O que eu tinha era a certeza de que não iria voltar para o Brasil. Mas como tudo que eu sempre fiz, nada foi planejado. Não existia um plano B; o único plano B era fazer o plano A dar certo. Então, quando nos mudamos, minha expectativa era não voltar e sempre andar em frente.

Como todo mundo que vem morar aqui, acabamos fazendo um pouco de tudo, né? Logo que cheguei, trabalhei em supermercado: fritava pastel e ajudava em todas as outras funções. Depois, fui para uma loja de produtos de cabelo, onde fiquei por dois anos e meio. Nessa época engravidei da minha filha, Maria, hoje com 6 anos. Logo depois que ela nasceu, fui desligada da empresa.

No Brasil, sempre atuei na área administrativa, mas comecei muito cedo a ganhar meu dinheiro. Por ironia do destino, meu primeiro trabalho foi em um buffet infantil como monitora de crianças. Depois, fui para o comércio e meu último emprego foi em uma construtora, onde fiquei quatro anos até vir para os Estados Unidos.

Nunca tive nenhum tipo de envolvimento com a área de decoração a não ser meu primeiro emprego no buffet. Mas decoração e festas estiveram bem presentes na minha infância, por causa da minha mãe e da minha tia, que montavam nossas festinhas - muito simples, mas bastante afetivas.

Talvez essas memórias tenham ficado no meu subconsciente e eu vibrei isso - e talvez seja o que me trouxe onde eu estou agora. Até hoje minha mãe e minha tia são as minhas grandes referências, no sentido de que festa não é luxo; festa é direito de qualquer um.

Rainhã dos balões

Eu amo balões. Costumo brincar que sou a doida do balão e tenho muito orgulho de dizer que fui a pioneira a trazer o arco desconstruído para as decorações em Orlando.

Meu primeiro contato com a decoração foi ao preparar todos os 'mesversários' da Maria. Assistia vídeos pelo YouTube e fui aprendendo. Quando ela fez 1 ano, contratei uma decoradora e não ficou muito dentro das minhas expectativas. Foi aí que todo mundo começou a falar para mim: "Por que você mesma não faz?". Relutei muito até decidir.

Minha primeira atuação profissional foi quando uma amiga me chamou e disse: 'Tenho quatro ursinhos e US$ 150'. Era para um chá de bebê de uma conhecida. Na época, minha filha estava prestes a completar dois anos e minha intenção era ajudar.

Só que ali, naquela produção, descobri que, além de ajudar minha amiga, eu tinha me ajudado, pois tinha me reencontrado. Naquele mesmo dia, já saí com dois negócios feitos e nunca mais parei.

Clientes famosos

O primeiro que atendi foi o empresário da Ivete Sangalo, numa contratação da equipe da Andreia Guimarães, que é referência no Brasil. No dia seguinte, me chamaram novamente e fiz o aniversário do Michel Teló. Depois disso, não parei mais. São em média cinco eventos de famoso por mês

Nessa minha estreia com a Ivete Sangalo, me chamaram às 21 horas para montar a festa, então foi tudo bem em cima da hora. O tema era "Super-Homem" e nós fizemos alguns porta-retratos. Em um deles, escrevi "Nem todo super-herói usa capa", algo bem simples. Lembro que a Ivete ficou muito impressionada com aquela decoração e até postou nos stories.

Além da Ivete e do Michel Teló, decorei para outros nomes da indústria da música, como a cantora Simone, que fazia dupla com a irmã Simaria; Zé Felipe e a esposa Virginia; Leo Santana e a esposa Lore Improta; Ferrugem, entre outros artistas. Entre os americanos, atendi atendi astros do esporte como basquete e futebol americano.

Fiz a festa da neta do Silvio Santos no dia errado

Nunca tive nenhuma experiência negativa, apenas alguns desencontros, mas que fazem parte. Uma situação aconteceu em janeiro, por exemplo: fomos contratados para o aniversário da Jane, filha da Patrícia Abravanel e neta do Silvio Santos.

Preparamos toda a decoração, mas acabou acontecendo uma confusão entre as agendas. Na verdade, seria um dia depois, então montamos a mesma festa duas vezes. Recentemente, aconteceu o mesmo com a comemoração da filha da Fabiana Justus.

Nós brincamos bastante com os "recordes" das nossas produções. Já passei 72 horas acordada, montando decoração de festa. Comecei na quinta-feira e terminei no domingo. Fizemos também um evento para a Kéfera com o tema do Mickey e utilizamos 1.500 balões para montar a decoração. Ela ficou muito feliz - e nós também.

Ainda quero organizar algo para a Anitta. Sou muito fã da empreendedora e da mulher que ela é. Outra também que é meu objetivo é a Kim Kardashian. Ela ama o Brasil e as festas dela precisam urgentemente do nosso estilo de comemorar.

"Faço festas brasileiras para americanos"

Qualquer cliente americano que me contratar vai receber o estilo da festa brasileira. Se alguém me mandar uma foto de comemoração americana me pedindo para replicar aquilo, não faço. Tento levar tudo o que posso da versão brasileira para a americana.

As festas americanas são muito diferentes das nossas. Eles servem chips em vez de salgadinhos, não têm docinhos e, às vezes, nem bolo. Servem cupcakes em cima de uma mesa com toalha de plástico. Então os clientes que nos procuram já têm o intuito de uma festa brasileira.

Fazemos, em média, 40 eventos por mês e 80% são aniversário. Mas também produzimos chá de bebê, chá de revelação, eventos corporativos, casamento. Hoje, 30% dos meus clientes são americanos, mas nossa meta é aumentar para 70% nos próximos dois anos.

Meu recorde foram oito eventos em apenas um dia e sempre estou em todos. Aqui, é diferente nisso também: sou a que carrega o carro, encho os balões, subo na escada, descarrego o carro... Não sou o tipo de empreendedora que apenas inspeciona; sou a que coloca a mão na massa também.

"Quero qualificar pessoas como eu"

Durante a pandemia, com minha casa de festas fechada, precisava fazer alguma coisa. Montei dois cursos e aí descobri que gostava de ensinar tanto quanto de decorar. Fiz as aulas presenciais e muitas pessoas do Brasil começaram a pedir online, então, em janeiro desse ano, começamos com a Arte Em Balões.

Desenvolvi um método simples, descomplicado e econômico de elaborar arcos desconstruídos. A meta é simplificar o trabalho do maior número de profissionais da área. As mulheres são a grande maioria dos meus alunos e a ideia é qualificar essas pessoas que são como eu: mães que perderam um pouco da direção como profissionais e não querem abdicar de estar com os filhos.

Das alunas, 10% são imigrantes. A princípio, a ideia não era atingir esse grupo em específico, mas diante dos relatos de muitos estarem à beira de desistir de tentar viver em outro país, nosso próximo trabalho a ser lançado é voltado para imigrantes.

Hoje tenho alunos no mundo inteiro: no Brasil, nos Estados Unidos, no Japão, em Cabo Verde, Chile, Canadá e por aí vai. O que mais observamos é que impactamos na vida pessoal.

Há casos de alunas que viviam em relacionamentos abusivos e conseguiram sair dessa situação com a confiança que ganharam. E até de gente que estava em estágio de luto e depressão e conseguiu encontrar uma direção. Fico feliz que o curso promova uma transformação muito além do aprendizado sobre como montar balões e decoração." Amanda Lima, 32 anos, decoradora de festas infantis em Orlando, nos EUA