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Eleições: o que os candidatos à Presidência pretendem fazer pelas mulheres

Ciro Gomes, Jair Bolsonaro, Lula e Simone Tebet, em debate do UOL em parceria com Band, Folha e Cultura - Reprodução/Band
Ciro Gomes, Jair Bolsonaro, Lula e Simone Tebet, em debate do UOL em parceria com Band, Folha e Cultura Imagem: Reprodução/Band

De Universa

02/09/2022 04h00

Nestas eleições, nenhum candidato à Presidência ou partido pode ignorar as mulheres: elas são 52,65% do eleitorado, são alvo das estratégias de campanha e foram tema central do primeiro debate, no último domingo (28). Mas, deixando o marketing de lado, quais são as propostas concretas dos presidenciáveis sobre direitos das mulheres?

Universa leu os planos de governo cadastrados no TSE (Tirbunal Superior Eleitoral) dos quatro candidatos que lideram as pesquisas de intenção de voto, segundo o Datafolha, nesta ordem: Lula (PT), Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB). Buscamos o que os presidenciáveis dizem sobre temas como maternidade, feminicídio, combate à violência de gênero e igualdade salarial.

Todos os programas têm propostas para o tema. Bolsonaro é o que mais menciona mulheres —33 vezes nas 48 páginas de seu plano de governo—, enquanto seu rival petista menciona o termo nove vezes nas 21 páginas do documento que enviou ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Mas o atual presidente, por outro lado, evita e não cita a palavra gênero nem menciona a sigla LGBTQIA +, diferentemente de todos os outros candidatos analisados. Em relação às promessas de ações efetivas, são cinco, contra quatro de Lula.

A reportagem pediu que os planos fossem avaliados por duas pesquisadoras em política e gênero da FGV (Fundação Getúlio Vargas): Luciana Ramos, mestre em ciência política pela USP (Universidade de São Paulo); e Lígia Fabris, professora de Direito e Gênero da FGV no Rio de Janeiro e que coordena o programa de Diversidade da instituição.

"No programa de Bolsonaro, as mulheres são citadas como grupo monolítico, como se fossem uma só. Assim como a sigla LGBTQIA + e a palavra gênero não são mencionadas", opina Luciana, que salienta ver no programa de Lula uma ênfase importante para mulheres negras.

Para Lígia, apesar de os candidatos citarem as mulheres em seus discursos e tentarem abocanhar essa fatia importante do eleitorado, apenas pelos planos de governo é impossível vislumbrar que propostas mais inovadoras surjam durante os mandatos. "São mais sinalizações do que se pensa sobre estes temas."

Leia abaixo as análises e as promessas de ações que constam nos planos, mostrados em ordem alfabética de acordo com os nomes dos candidatos:

Ciro Gomes (PDT)

Ciro Gomes (PDT) durante debate presidencial UOL, Band, Folha de S.Paulo e TV Cultura - Renato Pizzutto/Band - Renato Pizzutto/Band
Imagem: Renato Pizzutto/Band

As propostas do candidato são focadas nas áreas da segurança pública, como combate à violência doméstica e feminicídio, e em mercado de trabalho, igualdade salarial e de oportunidades, mas são pouco concretas e estão mais focadas no fortalecimento de políticas. "Ciro propõe fazer valer efetivamente o que já existe", percebe a professora Lígia Fabris, referindo-se, por exemplo, à proposta de "implementar a lei 14.330", sobre violência contra a mulher, que já existe.

Segurança pública:

  • Dedicar atenção especial à segurança das mulheres, bem como da juventude negra e da população LGBTQIA+, de forma a enfrentar a discriminação e o racismo estrutural; e
  • Implementar a Lei 14.330/2022, que inclui o Plano Nacional de Prevenção e Enfrentamento à Violência contra a Mulher na Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social.

Economia e trabalho:

  • Fortalecer programas, criar e fazer cumprir leis que facilitem a inserção da mulher no mercado de trabalho em condições de igualdade aos homens, incluindo acesso a vagas de direção e salários equivalentes, bem como condições para poder exercer suas atividades profissionais (por exemplo, elevando o número de vagas em creches);
  • Garantir a equiparação quantitativa entre homens e mulheres na ocupação de cargos de direção na administração pública federal; e
  • Implementar programas de microcrédito específicos para a população feminina e programas informativos de prevenção à gravidez, entre outras medidas.

Jair Bolsonaro (PL)

Presidente Jair Bolsonaro (PL) durante debate presidencial UOL, Band, Folha de S.Paulo e TV Cultura - Renato Pizzutto/Band - Renato Pizzutto/Band
Imagem: Renato Pizzutto/Band

O plano de governo do atual presidente se debruça sobre o temas das mulheres, mas a maioria das citações diz respeito a programas que foram criados durante seu mandato e que ele pretende manter caso seja reeleito —os programas Brasil para Elas e Emprega Mais Mulher, por exemplo—, e tem poucas propostas novas.

Para Lígia, as menções à população feminina reforçam o lugar que ocuparam as mulheres também nos quatro anos de seu governo: "no âmbito familiar ou em um lugar tradicional da mulher como cuidadora, como mãe", analisa a pesquisadora.

Economia e trabalho:

  • Implementar políticas públicas voltadas para a inserção do jovem e da mulher no mercado de trabalho de forma justa e assertiva;
  • Garantir igualdade de salários entre homens e mulheres que desempenham a mesma ocupação laboral;
  • Equilibrar, até mesmo por meio do trabalho híbrido ou home office, a difícil tarefa de cuidar dos filhos e prover sustento; e
  • Ampliar e fortalecer as políticas e programas direcionados às mulheres, crianças e adolescentes, pessoas idosas e pessoas com deficiência, como o Programa Brasil para Elas, o Qualifica Mulher e o Emprega Mais Mulher.

Segurança pública:

  • Consolidar e ampliar novas unidades da Casa da Mulher Brasileira.

Lula (PT)

Ex-presidente Lula (PT) durante debate presidencial realizado por UOL, Band, Folha de S.Paulo e TV Cultura - Renato Pizzutto/Band - Renato Pizzutto/Band
Imagem: Renato Pizzutto/Band

Assim como os outros candidatos deste pleito, "o desenho que Lula faz sobre as mulheres em seu plano de governo é bem geral, sem abordar como as ações vão ser implementadas", como faz ao dizer que vai priorizar o combate à violência de gênero na segurança pública, mas não explicar exatamente o que será feito.

Para a professora Lígia Fabris, no entanto, as propostas de Lula merecem pontos por dialogar com universidades e organizações não governamentais que trabalham com gênero e tratam as mulheres de maneira interseccional, citando especificamente mulheres negras e trabalhadoras domésticas, por exemplo.

Segurança pública:

  • Investir em programas para proteger vítimas, seus filhos e filhas, e assegurar que não haja a impunidade de agressões e feminicídios;
  • Construir políticas que combatam e revertam a política atual de genocídio e a perseguição à juventude negra, com o superencarceramento, e que combatam a violência policial contra as mulheres negras, contra a juventude negra e contra os povos e comunidades tradicionais de matriz africana e de terreiro; e
  • Contemplar, nas políticas de segurança pública, ações de atenção às vítimas e priorizarão a prevenção, a investigação e o processamento de crimes e violências contra mulheres, juventude negra e população LGBTQIA+.

Saúde:

  • Fortalecer no SUS (Sistema Único de Saúde) as condições para que todas as mulheres tenham acesso à prevenção de doenças e que sejam atendidas segundo as particularidades de cada fase de suas vidas.

Simone Tebet (MDB)

Simone Tebet (MDB) durante debate presidencial UOL, Band, Folha de S.Paulo e TV Cultura - Renato Pizzutto/Band - Renato Pizzutto/Band
Imagem: Renato Pizzutto/Band

Única mulher entre os principais candidatos à presidência em 2022, Simone Tebet se colocou como uma pessoa preocupada com os direitos das mulheres —e, diferentemente dos adversários, aborda questões de gênero em diferentes dimensões do plano de governo, como economia e habitação, não apenas no enfrentamento à violência e maternidade.

Além disso, é a que mais tem propostas efetivas: dez. "Isso é interessante, mas continua sendo genérico. Fica difícil saber como as ações serão concretizadas", pondera a professora Lígia Fabris.

Um exemplo é quando Tebet diz que vai "adotar medidas que garantam a igualdade de oportunidades a mulheres, jovens, pessoas idosas, negros e outras minorias em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública", mas não deixa claro como pretende fazer isso.

Uma de suas promessas foi reforçada no debate presidencial e, se ocorresse, seria um marco na história do Brasil: se eleita, pretende igualar o número de homens e mulheres à frente dos ministérios.

Segurança pública:

  • Combater o feminicídio, a violência doméstica e os crimes contra crianças, com campanhas, conscientização, canais mais seguros de denúncia e punição; e
  • Incentivar e apoiar a ampliação de patrulhas Maria da Penha por estados e municípios, para combate à violência sistêmica sofrida pelas mulheres em âmbito doméstico e familiar.

Saúde:

  • Reforçar políticas públicas em saúde para grupos prioritários, como saúde materno-infantil, saúde da mulher, da criança e do adolescente, população negra, pessoas com deficiência, povos originários, comunidades quilombolas e rurais.

Economia e trabalho:

  • Ampliar o microcrédito produtivo e unificar programas com foco em inclusão produtiva, com atenção especial a mulheres empreendedoras, pessoas com deficiência e regiões de menor renda;
  • Nomear ministério com paridade de gênero, composto por igual número de homens e mulheres;
  • Incentivar políticas de igualdade salarial entre homens e mulheres;
  • Adotar medidas que garantam a igualdade de oportunidades a mulheres, jovens, pessoas idosas, com deficiência e com doenças raras, negros, quilombolas, população LGBTQIA+, povos originários e outras minorias em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública; e
  • Manter a política de cotas e expandir ações afirmativas para promover maior igualdade racial, social e de gênero.

Família e maternidade:

  • Retomar programas de construção de moradias subsidiadas, voltadas a famílias de baixa renda e mais vulneráveis, sobretudo as lideradas por mulheres; e
  • Implementar de forma integral o Marco Legal da Primeira Infância e apoiar municípios na ampliação da oferta de vagas em creches (até 3 anos de idade) e pré-escola (4 a 5 anos) e na melhoria da qualidade dos serviços prestados.