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Álcool, medo e traições: série mostra intimidade de primeiras-damas dos EUA

Viola Davis interpreta Michelle Obama  - Jackson Lee Davis/Showtime
Viola Davis interpreta Michelle Obama Imagem: Jackson Lee Davis/Showtime

Alan de Faria

Colaboração para Universa, em São Paulo

17/04/2022 04h00

Os Estados Unidos nunca elegeram uma mulher presidente. A democrata Hillary Clinton, em 2016, foi quem chegou mais perto, mas perdeu as eleições para Donald Trump. Mesmo assim, elas estão na mira do olhar do público, interessado em saber o que pensam sobre assuntos tabus, o que vão vestir em eventos oficiais ou como lidam com as suspeitas de traições ou corrupção dos respectivos maridos.

A primeira temporada de "The First Lady", que estreia nesta segunda-feira (18) no Paramount +, destaca a vida pessoal e profissional de três das 48 primeiras-damas dos EUA: Michelle Obama, Betty Ford e Eleanor Roosevelt. Longe de serem "belas, recatadas e do lar", elas tentaram ora fugir de holofotes ora imprimir suas marcas na sociedade.

Dirigida pela vencedora do Oscar Susanne Bier ("Em um Mundo Melhor"), "The First Lady" mistura o dia a dia das três, que, embora tenham experenciado aquela função em períodos distintos, lidaram com situações parecidas. Entre elas, o contato com a imprensa, ávida por informações a respeito da vida íntima dos ocupantes da Casa Branca.

Michelle Obama: medo pelas filhas

viola davis como michelle obama - Jackson Lee Davis/Showtime - Jackson Lee Davis/Showtime
Viola Davis é Michelle Obama (de blusa verde), em cena da série em que aparece com a mãe da personagem, Marian Robinso (Regina Taylor) e as filhas, Malia (Lexi Underwood, à esquerda) e Sasha (Saniyya Sidney)
Imagem: Jackson Lee Davis/Showtime

Aos 58 anos, Michelle conseguiu sair da sombra de Obama. Hoje, talvez, até o eclipsa.

Mas quando Obama perguntou à esposa o que ela achava de ele se candidatar à presidência, a resposta veio em tom negativo. Para ela, primeiro ele deveria concorrer à vice-presidência. Michelle sempre foi contrária ao envolvimento do marido na política, desde que ele quis se candidatar a um cargo pela primeira vez, como senador estadual, em 1996. "Nunca adiantou de absolutamente nada", afirma ela em seu livro, "Minha História" (ed. Objetiva).

Interpretada por Viola Davis, Michelle Obama, primeira-dama entre 2009 e 2017, se tornou a primeira —e até agora única— mulher negra nesse papel. Seus passos e roupas eram minuciosamente registrados e, claro, alvos de comentários, a ponto de criticarem a preferência dela por vestidos sem manga. Ela não se furta de dizer que ficava bastante incomodada com a enxurrada de opiniões.

A série vai contar alguns momentos de questionamento vividos por Michelle, como o fato de a equipe da Casa Branca querer decidir a quais causas ela se dedicaria. Além disso, mostra o medo e a insegurança vividos por ela, como mãe, em relação às duas filhas, que poderiam ser alvo de ataques —em 2011, a residência da família presidencial foi atingida por um tiro, mas nenhum deles estava no local.

Betty Ford: primeira-dama sem querer

Michelle Pfeiffer como Betty Ford - Murray Close/Showtime - Murray Close/Showtime
Michelle Pfeiffer como Betty Ford (ao centro), Aaron Eckhart como o ex-presidente Jerry Ford (à direita) e Dakota Fanning como Susan, filha do casal
Imagem: Murray Close/Showtime

Se Michelle foi consultada por Obama para saber se poderia ou não tentar ser presidente dos EUA, Betty Ford, vivida por Michelle Pfeiffer em "The First Lady", assumiu esse papel, entre 1974 e 1977, sem querer. Isso só ocorreu com a renúncia de Richard Nixon, em 1974, devido ao caso Watergate, alçando seu marido, Gerald Ford, à presidência.

Logo nos primeiros meses após a mudança à Casa Branca, ela passou uma mastectomia e, diferentemente de outras primeiras-damas que preferiam esconder seus estados de saúde, decidiu revelar quais procedimentos cirúrgicos havia enfrentado. Resultado: o câncer de mama passou a ser um assunto público e milhares de mulheres procuraram fazer os exames preventivos.

Enquanto primeira-dama —e mesmo depois—, Betty assumiu posições progressistas, sendo defensora, por exemplo, da decisão da Suprema Corte que legalizou o aborto. Em 1975, ao participar do popular e influente programa 60 Minutes, falou abertamente sobre sexo antes do casamento, afirmando que era bem provável que sua filha, à época com 18 anos, já tivesse um "affair mais quente" com o namorado. A revista "Time" a escolheu "a mulher do ano de 1975".

Em 1978, se internou em decorrência de problemas, tornados públicos, relacionados à dependência de remédios e álcool. Recuperada, em 1982 fundou a Betty Ford Center, um dos mais conhecidos centros de reabilitação nos EUA. Por lá, passaram famosos como Liz Taylor, Lindsay Lohan e Robert Downey Jr. Beth morreu em 2011, aos 93 anos.

Eleanor Roosevelt: casamento turbulento e traições

Gillian Anderson é Eleanor Roosevelt - Daniel McFadden/Showtime - Daniel McFadden/Showtime
Gillian Anderson é Eleanor Roosevelt, primeira-dama entre 1933 e 1945, na série "The First Lady"
Imagem: Daniel McFadden/Showtime

A primeira-dama mais velha retratada em "The First Lady" é Eleanor Roosevelt, que exerceu tal função entre 1933 e 1945, quando ficou casada com Franklin Roosevelt. Quem dá vida a ela na série é Gillian Anderson. O casamento entre os dois foi turbulento devido aos constantes casos de traição dele —ela chegou a pedir o divórcio, mas ele se recusou a assiná-lo, temendo repercussões políticas.

Ela instituiu coletivas de imprensa na Casa Branca para correspondentes mulheres. Foi, claro, um rasteira em agências de notícias que, veja só, não contratavam profissionais femininas. Para não ficarem sem notícias importantes do governo de Franklin Roosevelt, foram, então, obrigadas a contratar mulheres.

Não somente causas feministas fizeram a cabeça de Eleanor. Questões raciais também estiveram no seu radar: em 1939, quando a cantora de ópera afro-americana Marian Anderson foi impedida de se apresentar no Constitution Hall, sala de concertos localizada perto da Casa Branca, a primeira-dama saiu da organização e promoveu o show com Marian no Memorial Lincoln, também na capital americana.

Considerada uma das mulheres mais poderosas de seu tempo, Eleanor, que morreu em 1962, aos 78 anos, foi, ainda, convidada pelo presidente Harry S. Truman para participar, como delegada, da Organização das Nações Unidas. Na entidade, ela foi presidente da Comissão de Direitos Humanos por cinco anos, de 1946 a 1951, e desempenhou um papel importante na elaboração e adoção da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948.