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"Sobrevivi ao tsunami de 2004 e sei que essa onda vai passar"

Deborah Telesio é diretora de uma multinacional e tem uma visão positiva para o futuro - Arte/UOL
Deborah Telesio é diretora de uma multinacional e tem uma visão positiva para o futuro Imagem: Arte/UOL

de Universa

17/07/2020 10h30

Deborah Telesio, Vice-Presidente da Elekta para América do Sul, sobreviveu ao tsunami de 2004, que atingiu a Indonésia e também a Tailândia, onde ela estava. Ela fala hoje no quinto painel de debates da segunda edição de Universa Talks, com o tema "A Mulher no Mercado de Trabalho".

Em sua fala, Deborah conta como foi enfrentar essa tragédia em meio a uma viagem: de férias, ela e uma grande amiga embarcaram para a Indonésia. Durante um passeio de snorkeling, ela foi surpreendida pelas ondas gigantes. Seu discurso traz reflexões sobre como aquela experiência transformadora a ensinou a atravessar a pandemia da Covid-19. "O atual momento de tanta vulnerabilidade me pareceu bom para eu refletir e entender quais foram as coisas que eu aprendi naquele momento que hoje eu levo como pessoa, como mãe e como líder de uma empresa multinacional na área de saúde", contou.

Acompanhe o evento em tempo real:

Tão esperadas férias

"Era o ano de 2004 e depois de muito trabalho chegou o momento das minhas tão esperadas férias. Eu e minha grande amiga Marie decidimos ir para a Tailândia e tudo teria sido perfeito se não fosse esse "pequeno" evento que a gente enfrentou e que transformou as nossas vidas, com certeza.

Naquele dia 26 de dezembro, pela primeira vez havíamos decidido fazer um programa separadas. Peguei um barquinho e fui fazer um snorkeling em um ponto maravilhoso, repleto de vida marinha e corais. Ela ficou no hotel e eu fui para o alto-mar."

O momento da onda

"Quando veio a primeira onda eu não estava no fundo do mar, eu estava na superfície. As únicas coisas que eu tinha pra me proteger era uma máscara. Esse momento é uma amnésia completa pra mim.

Quando eu consegui olhar para a frente eu enxerguei uma outra vindo, uma parede imensa de água — e ela trazia a notícia da morte. A lembrança que eu tenho daquele momento é de um total inconformismo, de raiva. Eu não queria morrer. Ela por sorte não quebrou e consegui passar por cima dela.

Eu olhei pra frente de novo e vinha uma terceira onda. Ela veio em formação, para quebrar, eu sabia que eu estava muito perto dos corais. A mensagem era muito clara. Eu sabia que ou eu ia morrer afogada ou eu ia morrer muito machucada. Me lembro de cada segundo dessa onda que me engoliu, dos pensamentos, do momento em que eu comecei a respirar água. E me lembro em que algo diferente começou a acontecer e vi uma luz nas minhas nas minhas pálpebras e uma sensação de que alguém me puxava para cima. Me veio à cabeça que tinha sido salva por anjos. E que eu tinha feito uma negociação de contrato com eles, para eu continuar viva.

Eu fui resgatada por um barco que passou ali naquele momento e resgatou pessoas, sem vida e com vida."

Divisor de águas

"Tudo aquilo me mostrava que naquele dia eu não iria morrer. Eu pensei e me lembrei da minha avó. A minha avó era uma judia alemã, já falecida, que sobreviveu a duas guerras mundiais. Ela me falava com muita frequência: tudo o que a gente sabe, ninguém é capaz de tirar da gente.

Naquele momento eu me senti tão capaz. Eu sabia que tudo ia dar certo, que eu ia voltar para o Brasil e, o mais importante de tudo, que a minha amiga Marie estava bem e a minha única missão era encontrá-la.

Fiquei três dias vagando em uma cidade sem nenhuma notícia da Marie. Ali eu vivi muitos momentos de solidariedade: pessoas que me deram roupas, comida, abrigo. Finalmente nos reencontramos e a história termina bem.

Hoje, 16 anos depois, eu lidero uma multinacional dedicada à saúde, a Elekta, e vejo um novo tsunami engolindo a todos nós. Como pessoa esse evento foi um divisor de águas para mim. A Deborah depois tem uma disponibilidade diferente para as pessoas e relações. Tem um olhar positivo e possível. Foi possível ressignificar uma série de coisas e provavelmente a mais importante, e pela qual eu estou aqui hoje, foi que eu tinha que ser mãe da Nina."

O último dia do Universa Talks será nesta sexta (17) às 10h30. Acompanhe pela home do UOL, pelo Youtube, Twitter ou Facebook de Universa. Não é necessária inscrição. Você também pode ouvir o Universa Talks na versão podcast. O evento está disponível, na íntegra, em distribuidores como Spotify, Apple Podcasts e Deezer.

Confira a programação completa do evento.