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Margaret Atwood defende trans usando exemplos naturais: 'Fatos são fatos'

A escritora canadense Margaret Atwood - Getty Images
A escritora canadense Margaret Atwood Imagem: Getty Images

De Universa, em São Paulo

07/07/2020 11h03

A escritora Margaret Atwood tirou a noite de ontem para se expressar no Twitter em apoio a pessoas transgênero, abordando indiretamente as declarações de J.K. Rowling sobre o assunto, consideradas preconceituosas por muitos.

Atwood, hoje com 80 anos de idade, é conhecida por obras de teor feminista como "O Contro da Aia" ("The Handmaid's Tale") e "Alias Grace", ambas transformadas em séries de TV recentemente.

O primeiro tuíte da autora foi linkando a um artigo da revista "Scientific American" sobre sexo e gênero: "Um pouco de ciência aqui. A biologia não lida com compartimentos separados, como masculino ou feminino. Todos nós fazemos parte de uma curva. Respeitem isso! Deliciem-se com a infinita variedade da natureza!".

Após a primeira postagem, alguns usuários do Twitter tentaram argumentar com Atwood, dizendo que seus livros mostram claramente como mulheres são oprimidas por nascerem mulheres. A escritora respondeu apontando que outros fatores se acumulavam para que uma mulher fosse encaminhada para a vida de Aia em "O Conto da Aia", por exemplo.

"No livro, elas precisavam ser: divorciadas (Gilead não permite o divórcio) e férteis, ou imorais (embora estas pudessem se tornar Jezebel's). As mulheres que só se casaram uma vez seriam Esposas (com alto status social). Algumas poderiam escolher o celibato, e se tornar Tias ou Marthas", explicou para dois seguidores.

Atwood também não capitulou facilmente a elogios por seu posicionamento. A escritora respondeu a uma seguidora que dizia que ela era "melhor" que J.K. Rowling de forma bem direta: "Bom, não é bem por aí também. Não sou 'melhor'. Pessoas diferentes são boas em coisas diferentes".

"É preciso sempre entender os medos das pessoas. Muito dessa discussão parece ser sobre banheiros", escreveu ainda, se referindo à preocupação sobre mulheres trans usando banheiros femininos. "Há muitas formas inventivas de resolver esse problema. As pessoas são criativas, não são?".

"Também existem pinguins gays por aí. Existem pessoas e animais hermafroditas. O que o artigo que eu postei está dizendo é que sexo e gênero nem sempre estão juntos, e não são experimentados pelas pessoas da mesma forma. Acho que isso é inegável", completou.

Outra seguidora tuitou para Atwood dizendo que estava preocupada com a quantidade de posts abusivos que ela receberia por se posicionar sobre o assunto. Em resposta, a autora se definiu como uma "velha guerreira".

"Conhecimento é diferente de opiniões. Os fatos são os fatos. Aqueles empacados na ideia de que a natureza é imutavelmente dividida entre homens e mulheres deveriam pesquisar sobre o sexo das lesmas", brincou.

Como a escritora aludiu, algumas espécies de lesmas são hermafroditas — na hora da reprodução, elas "entrelaçam" seus pênis e fertilizam os óvulos uma da outra. Atwood também rebateu o argumento de que os gêneros são divididos de acordo com fertilidade.

"Eu sou velha, logo profundamente infértil. Isso significa que mulheres velhas não são mulheres?", perguntou. "Talvez seja melhor não responder isso, piadistas do Twitter".