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Líderes religiosas ensinam a professar a fé nos tempos de coronavírus

Aplicativos e redes sociais são a saída para fiéis em quarentena - Getty Images/iStockphoto
Aplicativos e redes sociais são a saída para fiéis em quarentena Imagem: Getty Images/iStockphoto

Luiza Souto

25/03/2020 04h00

Enquanto líderes religiosos se negam a fechar os templos — e forçam a intervenção da Justiça — para evitar o avanço do coronavírus, mulheres à frente de algumas denominações que encerraram suas atividades presenciais pela primeira vez ensinam a professar a fé de casa mesmo.

Na contramão de uma recomendação de todos os órgãos de Saúde, que pedem para que a população evite aglomerações, o pastor Silas Malafaia chegou a encorajar as pessoas a irem à igreja e disse que o lugar "tem que ser o último reduto de esperança para o povo". Para a reverenda Alexya Salvador, da ICM (Igreja da Comunidade Metropolitana), em São Paulo, o ato é irresponsável.

"A fé, neste momento, deve nos levar a ouvir o que a OMS [Organização Mundial da Saúde] orienta. Convocar a comunidade a ir à igreja é colocá-la em risco, e sinaliza que tudo o que importa não é o bem-estar, mas o financeiro. Deus chora com cada pessoa que morre, mas pede para fazermos a nossa parte", avalia a primeira reverenda trans da América Latina.

Para seguir com a fé inabalável, Alexya orienta a leitura da Bíblia e a busca por cursos online. Avisa ainda que a ICM já promove cultos virtuais, transmitidos nas plataformas da igreja. Há, inclusive, links para quem quiser doar o dízimo.

"É hora de isolamento, e o que converge diferente disso não se comunica com Deus, mas com a morte", afirma.

"É preciso ter consciência"

A mãe Carmen, do conhecido terreiro Ilê Olá Omí Asé Opô Araká, ensina: fé independe de onde e com quem você esteja. O local que ela comanda, tombado pelo Patrimônio Histórico de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, foi fechado pela primeira vez por tempo indeterminado — e, como a ICM, segue com os atendimentos online.

"A melhor maneira de acreditar no seu sagrado é orientando as pessoas a se cuidar. Sentimos a necessidade de fazer recuo para que consigamos acabar com a doença, mas continuo jogando búzios online, além de seguir dando orientações a quem precisa. Estar em contato com a natureza, onde o sagrado mora, faz bem para o ajô, a união, mas é preciso ter consciência", ela ensina.

Entidade não se contamina

"O buda pode estar no meio de qualquer um porque não vai se contaminar. Mas eu vou, por mais que tenha fé", resume a Monja Gen Kelsang Mudita, diretora espiritual nacional da Nova Tradição Kadampa.

Com o Centro de Meditação Kadampa Mahabodhi (São Paulo) fechado pela primeira vez fora do recesso, a professora diz que chegou a chorar quando compreendeu a gravidade da pandemia, chamada por ela de "guerra sem armas e sem exército".

"A mensagem que recebi foi 'pare'. Pare o modelo de pensar, pare de se agredir, de achar que as situações externas são mais importantes", afirma. Seus ensinamentos seguem nas redes.