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Mulheres protagonizam um mundo em evolução


Jovem que ficou tetraplégica "pegando jacaré" volta a andar com auxílio

Karina antes do acidente que a fez perder os movimetos de braços e pernas - Arquivo Pessoal
Karina antes do acidente que a fez perder os movimetos de braços e pernas Imagem: Arquivo Pessoal

Simone Machado

Colaboração para Universa

29/02/2020 04h00

Um passo de cada vez. Assim a jovem Karina Neustadter Castellanos, 25, encara sua recuperação — de forma literal. Desde que sofreu um acidente em janeiro de 2019 em uma praia de Ilhabela, no litoral paulista, e ficou tetraplégica, a jovem dedica seus dias à reabilitação e à vontade de voltar a andar.

Karina teve uma lesão na vértebra C6, na região do pescoço, após levar um tombo e bater bruscamente com a cabeça no chão ao "pegar jacaré" ou "jacarezinho", como é conhecida a manobra de pegar ondas no mar sem usar uma prancha. Ela estava em uma parte rasa, já próxima à faixa de areia, quando foi arremessada para o chão pela força da onda.

Karina ficou tetraplégica ao pegar jacaré em Ilhabela - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Karina começou a dar os primeiros passos com a ajuda de um andador
Imagem: Arquivo Pessoal

"Na hora, senti um choque bem forte em todo o meu corpo", relembra ela. "Já perdi os movimentos imediatamente. Fiquei boiando na água até que meu namorado viu e me retirou. Se não fosse isso, teria morrido afogada."

A jovem foi encaminhada para um hospital da cidade e, devido à gravidade da situação, foi transferida para outro em São José dos Campos (SP), referência nesse tipo de trauma. Lá, ficou internada na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo). Nos primeiros dias, o estado de Karina era complicado. Ela passou por cirurgia e colocou uma placa de titânio na vértebra lesionada.

Diagnóstico de tetraplegia e mudança de cidade

Com o diagnóstico de tetraplegia — ou seja, sem os movimentos nos braços e nas pernas —, algumas semanas depois Kartina teve alta. Ela e a mãe deixaram a capital paulista, onde moravam e trabalhavam, e se mudaram para Santos, cidade onde reside a avó de Karina.

Sem os movimentos do pescoço para baixo, Karina e a família precisaram readequar a vida. A jovem saiu do emprego e largou a faculdade — ela estava no penúltimo ano de administração. A mãe da menina, que trabalhava como esteticista em um salão de beleza em São Paulo, deixou o emprego para se dedicar à filha.

Um passo de cada vez

Desde o acidente, Karina faz sessões de fisioterapia todos os dias. Como a lesão não foi definitiva (ou, no jargão médico, foi incompleta), ela nunca perdeu a esperança de voltar a andar. No início, Karina dependia da ajuda da mãe para tudo: pentear o cabelo, comer, trocar de roupas, escovar os dentes e todas as demais atividades do dia a dia.

Hoje, pouco mais de um ano após o acidente, ela começou a dar os primeiros passos. "No dia que eu consegui andar sozinha com o auxilio do andador, foi uma emoção muito grande. Chorei muito de alegria e, quando olhei para o lado, vi que minha mãe e até as fisioterapeutas também estavam em lágrimas", lembra ela.

"Ainda não tenho muito fôlego e minha musculatura está fraca. Por isso preciso melhorar a resistência e o equilíbrio", explica. "É um trabalho de formiguinha e ainda vai demorar um pouco, mas meu maior sonho é voltar a andar sozinha e ter a minha independência. Sei que é bem difícil voltar a ter a minha vida de antes, mas acredito que ainda vou melhorar muito e quero um dia voltar a estudar e trabalhar", diz

Ela hoje não precisa mais de ajuda para realizar tarefas como comer ou pentear o cabelo. Segundo Karina, sua evolução surpreendeu até mesmo os médicos. "Meu neurologista diz que minha evolução é surpreendente", diz.

Vaquinha virtual para os custos

Mesmo com todo o avanço, o tratamento de Karina ainda está longe de terminar. Como a jovem ficou muito tempo parada, acabou perdendo a força muscular e precisa fazer fortalecimento para conseguir caminhar.

"Quando dei o primeiro passo, já fiquei ansiosa querendo saber qual seria a próxima etapa da recuperação e quando passaria a usar muletas no lugar do andador. Mas eu sei que preciso ter calma e ir evoluindo aos poucos. E já estou muito feliz e animada com as minhas conquistas", relata.

O tratamento da jovem vem sendo acompanhado por uma equipe multidisciplinar. Os custos com ele e com a reabilitação são muitos altos e, por isso, a família criou uma 'vaquinha' virtual para arrecadar recursos.

"Muita coisa o governo oferece, mas mesmo assim os custos são muito altos", diz ela. "Minha mãe teve que abandonar o emprego para cuidar de mim e só meu pai que está sustentando a casa. Precisamos adaptar a minha casa para que um dia eu possa voltar a morar lá. Fora isso, ainda há alimentação e outros gastos do dia a dia."