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Como Anitta: veja os sinais de que seu colega tem burnout e saiba ajudar

Anitta: muito trabalho e uma hora a conta chega - Reprodução/ Instagram
Anitta: muito trabalho e uma hora a conta chega Imagem: Reprodução/ Instagram

Lucas Vasconcellos

De Universa

10/09/2019 04h00

No final da semana passada, Anitta divulgou uma canção em parceria com Léo Santana. Nas redes sociais, o comentário é o mesmo: "vocês já ouviram a nova música da Anitta"? São tantos lançamentos, que a brincadeira se tornou frequente, pois não há tempo para acompanhar os passos da cantora, que também é empresária e apresenta um programa de TV no canal pago Multishow, entre outras atividades. Nos últimos dias, contudo, Anitta informou que vai dar uma pausa na agenda para descansar — foi diagnosticada com Síndrome do Esgotamento Profissional, também conhecido com Síndrome de Burnout.

Como Anitta, o estresse por trabalho, em menor ou maior grau, faz parte da realidade de 72% dos brasileiros entre 25 e 65 anos, segundo pesquisa do International Stress Management Association (ISMA-BR) em 2018. Desse total, 32% desenvolvem burnout, sendo que 49% dessas pessoas lidam simultaneamente com a depressão. Então, a chance de seu colega de empresa estar sofrendo com esse problema de saúde é bem grande. Como perceber os sintomas e ajudar essa pessoa?

Burnout: o que é?

A doença já foi classificada pela Organização Mundial de Saúde e, em 2022, passa a constar na Classificação Internacional de Doenças (CID). Diferentemente do estresse e da depressão, que podem atingir qualquer pessoa, o burnout está associado somente a indivíduos que estão no mercado de trabalho. Logo, estudantes e aposentados, por exemplo, não tem burnout, ou pelo menos ainda não existem estudos que comprovem isso, esclarece a psicóloga Ana Maria Rossi, que é presidente da ISMA-BR e que trabalha com pessoas que sofrem de Burnout na Clínica de Stress e Biofeedback.

O que caracteriza burnout:

  • Exaustão além do limite: a pessoa não tem condições físicas e emocionais de executar as tarefas diárias dentro do ambiente profissional.
  • Ceticismo: marcado pela insensibilidade aos assuntos diários e as pessoas que estão ao redor.
  • Ineficácia: o profissional comete erros além do comum, se sente incompetente e não consegue mudar isso, mesmo que chegue mais cedo para dar conta das demandas.


Por que eu e não você?

Burnout é uma doença cumulativa, ou seja, não surge do dia para a noite. E não está necessariamente relacionada a grandes tragédias — são as pequenas coisas interiorizadas que, ao longo do tempo, levam a isso. Mas por que, dentro de uma mesma empresa, entre profissionais que têm os mesmo ganhos mensais e responsabilidades, um adoece e outro não?

"A diferença está na estrutura emocional da pessoa. Alguns têm objetivos e motivações bem definidas e o desejo de atingir tal meta faz com que elas desenvolvam mais resiliência, que funciona como um amortecedor para a pressão constante. Às vezes, não está sendo recompensado como deveria ser, mas tem um feedback positivo, que motiva. Contudo, um profissional que se esforça, mas não tem autonomia na hora de tomar decisões, tem os valores éticos feridos e não colhe louros pelo trabalho, pode se desmotivar", diz a psicóloga.

Sinais do corpo

Quem sofre de burnout terá reações físicas e emocionais. Nesse caso, sair da cama para fazer algo, por exemplo, é um fardo, como se fosse um esforço gigantesco — e não há férias ou licença que diminua isso. Irritabilidade também se torna uma característica constante — ou a pessoa explode por qualquer coisa ou se torna passiva em todas as situações. A qualidade do sono diminui; dores musculares e de cabeça se tornam frequentes, além da falta de concentração e dificuldade de manter os relacionamentos interpessoais.

Como ajudar

Você pode fazer a diferença para que seu companheiro de trabalho consiga passar por esse problema. Fique alerta a alguns sinais que as pessoas apresentam no dia a dia:

  • Era figura constante no happy hour e agora nunca quer ir porque está sempre cansado;
  • Falta de vontade de interagir no dia a dia, como na hora do cafezinho, por exemplo;
  • Começa a atrasar com frequência, quando isso não era comum;
  • Era sempre competente e agora apresenta muitas falhas na execução das tarefas;
  • Está mais pensativo na mesa, como se estivesse distante.

Para colaborar, a dica é simples: "Ouça. As pessoas tendem a dar soluções, mas, em geral, quem está sofrendo quer desabafar. Demonstre empatia com os comentários da pessoa também e ofereça ajuda, perguntando o que pode fazer por ela", pontua Ana Maria.

Tenho burnout e agora?

O burnout tem cura, mas para que isso aconteça é preciso ter calma. "Quem está mal com a doença, tem consciência do que ocorre, mas não consegue mudar. E quando a gente não está bem, quer sair da situação logo, só que é um processo gradativo", relata Ana Maria.

O diagnóstico é feito por um médico, preferencialmente um psiquiatra. E o tratamento é a partir de medicação (antidepressivos) e terapia. Contudo, é necessário também mudar a rotina — dormir um número razoável de horas por noite, alimentar-se de maneira saudável, incluir exercícios físicos na rotina, diminuir a quantidade de bebidas alcoólicas ingeridas e dar atenção aos relacionamentos com outras pessoas. "Não tem varinha de condão, a recuperação é multifatorial", reforça Rossi.

A hora de voltar

Nem todo mundo tem a possibilidade de simplesmente pedir demissão na hora que quer. Mas o fato de você ter adoecido não significa que o seu ambiente profissional terá se modificado quando você retornar. E aí entra mais uma dose de iniciativa para buscar alternativas. "Talvez seja necessário ir atrás de outro emprego. Ou encontrar satisfação e reconhecimento em outras atividades, como em trabalhos voluntários. Se a ocupação envolve valores que não condizem com os seus, fazer o mea-culpa pode ser um caminho (são determinações da empresa, não as suas)", conclui Ana Maria.