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Calendário Pirelli 2019: Mulheres que sonham e principalmente pensam e agem

Flavia Guerra

Colaboração para a Universa

08/12/2018 04h00

"Não é sobre sonhar, mas sobre ter ambição." Dessa maneira, a anfitriã da festa, a atriz Halle Berry definiu o espírito do Calendário Pirelli 2019, assinado pelo fotógrafo escocês Albert Watson e lançado na última quarta-feira em Milão. E quem, mais que posar, sonha, age, ambiciona, pinta, fotografa, dança, sofre e lida com suas sombras são as mulheres, ainda que três homens também atuem ao lado delas em três das quatro histórias que são contadas ao longo dos meses.

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As divas do icônico anuário vêm passando por mudanças que não só refletem o ar do tempo em que vivemos mas também sopram novos ares, olhares e paradigmas. Criado em 1964, o calendário sempre foi sinônimo de sensualidade, beldades nuas e/ou seminuas clicadas por mestres da fotografia. Mas ganhou status de arte e de objeto de desejo de quem não só ama fotografia mas sempre admirou as mulheres lindas e fortes de cada edição.

Já assinaram o anuário nomes como Mario Testino, Annie Leibovitz, Helmut Newton, Terry Richandson, Bruce Weber, Peter Linderberg, Arthur Elgort, Sarah Moon, Robert Freeman e tantos outros. A lista das musas não deixa a desejar e traz, para citar apenas alguns nomes, Nicole Kidman, Lupita Nyongó, Uma Thurman, Naomi Campbell, Woopi Goldberg, Patti Smith, Isabeli Fontana, Adriana Lima, Ana Beatriz Barros, Jennifer Lopez, Gisele Bündchen, Adriana Lima, Karolina Kurkova, Betty Prado, Yao Chen, Rosie Huntington, Lily Cole, entre tantas outras.

Se o Calendário sempre ditou tendência e também as acompanhou, nos últimos quatro anos suas páginas literalmente ilustraram o quanto os padrões de beleza, de comportamento e até mesmo de sensualidade vêm mudando. Em 2016, Annie Leibovitz convocou mulheres de diferentes idades, profissões, belezas. O importante era que se destacassem em suas áreas. Estrelado por nomes como a diretora Ava Duvernay (de "Mulher Maravilha"), Amy Schummer, Serena Williams, Patti Smith, Yoko Onu, entre outras, marcou época e foi um divisor de águas.

Em 2018, Tim Walker decidiu contar a história de "Alice no País das Maravilhas" com um elenco todo negro. Entraram Lupita Nyonó, Whoopi Goldberg, Wilson Oryema, Naomi Campbell, RuuPaul, Jaha Dukureh, entre outros. 

Edição 2019 - O cinema

Para esta 45ª edição, Watson escolheu o cinema como tema. Mais que condensar uma história em uma única imagem, ele quis contar em fotos que lembram frames de um filme quatro histórias de mulheres que estão em busca de seus sonhos. Cada história tem cenários, elencos e estilos diferentes.

A bailarina Misty Copeland (primeira afro-americana a ser bailarina principal do American Ballet Theatre) é uma striper que sonha em ser bailarina em Paris. Ela atua ao lado do também bailarino Calvin Royal III, que vive seu namorado. Dança em um clube, mas sonha em ser bailarina clássica e se transporta para a França quando dança no palco que construiu em seu jardim.

Já a atriz Julia Garner (da série "Modern Love") é uma fotógrafa botânica que sonha em fazer sucesso e também é apaixonada por retratos. "Foi diferente de tudo que fiz, como fazer um filme, mas, em vez de filme, eram fotografias sendo feitas. E isso é bom. Pirelli sempre foi um calendário lindo, mas evoluiu para algo diferente do que costumava ser. Sempre mostrou as mulheres como figuras fortes, porque elas são lindas, maravilhosas nas fotos. Mas gosto que agora se possa ser as duas coisas."

Quem concorda e procura sua força é a personagem da top model Gigi Hadid. Ela vive uma moça rica, mas em crise, que acaba de se separar e tem um único amigo, vivido pelo estilista Alexander Wang. "Ela, ainda que seja uma espécie de Paris Hilton, está buscando seu propósito, pensando em seu futuro. Há solidão e angústia. Suas fotos e sua história são mais minimalistas que as outras", explicou Watson.

A atriz e modelo Laetitia Casta vive uma pintora que divide os dias com seu namorado em Miami, interpretado pelo bailarino russo-ucraniano Sergei Polunin,  e também pensa no futuro, quer fazer sucesso como a fotógrafa e a bailarina. "As mulheres são fortes, incríveis. Cresci no meio delas, pois meu pai sempre estava muito fora de casa por conta do trabalho. Ele sempre me disse que eu virei fotógrafo de moda porque as admiro tanto", comentou Watson, que já assinou mais de 100 edições da Vogue, além de ter dirigido dezenas de comerciais e acompanhado semanas de moda pelo mundo por muitos anos. Não por acaso, seu olhar apurado, que mescla o cuidado estético aos movimentos do cinema, enxergam a mulher de 2019 em constante movimento.

Quando questionado sobre as mudanças de paradigma do Calendário em tempos em que as mulheres estão reescrevendo seus papéis, respondeu: "Não teria o menor problema se a Pirelli me convidasse daqui a alguns anos para fazer um ensaio e dissesse: "desta vez a gente gostaria que você fizesse lindos nus de mulheres, 'com ares de estátua' em uma forma poderosa e incrível, em que as mulheres se tornam figuras icônicas."

Para ele, cujo um dos livros preferidos é Mulheres Fotógrafas, este futuro calendário seria diferente do estilo Pin up. "Tem que haver algo barato e kitsch para que o sexy funcione. Se a foto é muito artística, perde o caráter sexy porque se torna arte de fato. Pode-se fazer assim também. Mas neste ano não era este o projeto."

Para Laetitia Casta, que posou há 20 anos para o Calendário 1999, assinado por Herb Ritts, as mulheres sempre foram poderosas, tanto no mundo quanto no Calendário.

Quando questionada sobre a presença dos homens nesta edição, celebrou a parceria com o bailarino Sergei Poluni. "Agora que há o #metoo e todos os outros movimentos, a gente ainda tem que ser durona para conquistar o que quer. Porém, agora, a gente pode lutar juntos, homens e mulheres, e não um contra o outro. O Calendário é um bom exemplo de como a gente pode criar juntos."

É a francesa quem melhor define o que de fato mudou no Calendário: "Eu era muito jovem quando posei pela primeira vez, quando o tema eram as estrelas do cinema dos anos 50. Eles me pediam para interpretar um personagem, mas não me perguntavam o que eu estava pensando sobre isso. Esta é a diferença."

Nas páginas do Calendário Pirelli de hoje as mulheres não apenas posam, mas agem e pensam? "Sim. Albert me pediu para pensar no que eu estava fazendo quando criamos nossas fotos, em Miami. Minha personagem é uma artista. Eu também trabalho com escultura nas horas vagas. Poder pensar é completamente diferente de apenas posar."