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Espaço, direitos e respeito: entenda o que querem as putas ativistas

Ativista, Aline Lopez luta pelo direito das prostitutas - Carine Wallauer/Universa
Ativista, Aline Lopez luta pelo direito das prostitutas Imagem: Carine Wallauer/Universa

Helena Bertho e Talyta Vespa

Da Universa

26/08/2018 04h00

As palavras também são a principal ferramenta do ativismo de Aline Lopez, de 24 anos. Além de prostituta, ela estuda letras. "Quando você entra em um puteiro, é muito fácil ver ali uma roda de meninas contando os casos, sabe? E eu vi a necessidade disso, de a gente começar a escrever as nossas histórias".

Ela está trabalhando em um livro sobre suas vivências e de colegas de profissão. Mas além da literatura, as palavras de Aline surgem diariamente nas redes sociais como forma de chamar atenção para as lutas das trabalhadoras sexuais.

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Fora da internet, o ativismo é mais complicado. "A gente se organiza como pode. Como estamos meio espalhadas pelo Brasil, a maior parte é virtual. A gente tem grupos de Whatsapp para discutir ideias".

"O que você faz porque quer é hobby, não é trabalho"

Atualmente, Aline acha que mais do que reivindicar novos direitos trabalhistas, a luta é por manter os já conquistados. "Tem um projeto de lei do João Campos que visa criminalizar o cliente", diz sobre o PL 377/2011 e completa: "Você criminalizando o cliente, está criminalizando a gente indiretamente".

Outra parte importante do trabalho das ativistas é, segundo Aline, a prevenção de doenças. "A gente trabalha há 30 anos junto com o Ministério da Saúde". O foco é a chamada prevenção combinada, que é a união entre diversos métodos para evitar o contágio por ISTs, desde a camisinha, até a PEP (Profilaxia pós exposição).

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Monique Prada lança livro "Putafeminista" em São Paulo
Imagem: Divulgação

Gosto de sexo e só transo por dinheiro

Monique Prada quer direitos. Por isso e para isso lançou neste sábado (25) o livro Putafeminista, pela editora Veneta, em São Paulo. A narrativa desmistifica estigmas que rondam as putas “desde que o mundo é mundo”. “Senti necessidade de explicar sobre o que nós, putas ativistas, falamos. A gente quer, bem resumidamente, direitos e respeito. Queremos ser reconhecidas como profissionais”, afirma.

Uma das fundadoras da CUTS (Central Única das Trabalhadoras Sexuais), Monique luta pelos direitos das colegas e é ativista há 10 anos. Contudo, deixou a central por motivos pessoais. “Pela CUTS, tentei diversas reuniões com secretarias de políticas para mulheres, todas em vão. Já era difícil nos governos anteriores e agora ainda mais”. E, de acordo com o que Monique presencia, ainda vai demorar para as prostitutas serem respeitadas.

Feminista, Monique garante que as prostitutas são acolhidas pelo movimento, mas que há um pequeno grupo “ruidoso” dentro do feminismo que dificulta as coisas. “Dizer que trabalhar com sexo contribui para a cultura do estupro é uma falácia boba. As prostitutas não são objetos. A gente impõe nossas vontades, negocia práticas com muito mais clareza do que nas relações comuns”, afirma.

O período de Monique, de 1h30, custa R$ 300. “Tenho uma cartela grande de clientes que já conheço. Se aparece um novo, marco um primeiro encontro que, se for ruim, vira o último”, conta. Para ela, a profissão é bastante satisfatória. “Faço, também, porque gosto de sexo. Tenho orgasmos com a maioria dos clientes, é uma delícia. E eu não tenho vida sexual fora do trabalho, só transo por dinheiro. Se alguém paga para fazer algo gostoso, por que vou deixar de cobrar?”.

Monique nunca foi desrespeitada por um cliente, mas sabe que sua realidade não é regra no meio da prostituição. “Tem que ter respeito. Por isso, falo sobre meus limites. Tenho uma lista de coisas que eu não faria no sexo, mas, ainda assim, não digo que nunca faria. Se um dia me der vontade, eu faço”.

Ainda assim, ela sabe que não são todas as trabalhadoras sexuais que conseguem se impor. “Pelo estigma e pela descriminação, não dá para garantir que todos os encontros serão seguros. Estamos em situação de violência, nem sempre podemos nos defender. É o preconceito que faz com que alguns clientes entendam que podem fazer o que quiserem conosco. E não deve ser assim”.