Filhos e suas crises: quais são elas e como as mães podem enfrentá-las?
Cuidar de um filho é uma tarefa hercúlea e infinita. Há estágios do desenvolvimento, no entanto, pontuados por conflitos e tensões. E é justamente quando a criança se torna mais difícil de lidar que exige mais atenção, conversa, carinho e amor, como mostram as quatro fases cruciais descritas a seguir.
Terrible two
Segundo a terapeuta e coach Valeria Ribeiro, fundadora do site Filhosofia, na faixa dos dois anos, é comum que as crianças berrem e esperneiem diante de qualquer contrariedade. "Elas batem, debatem-se, atiram o que estiver à mão e choramingam cada vez que os adultos pedem algo. Além disso, resistem em seguir qualquer orientação ou decisão dos pais, como trocar uma roupa, sair de um local ou guardar um brinquedo", descreve. Para completar, não atendem aos pedidos e parecem ser sempre do contra. Algumas mudam de humor do nada: em um momento se mostram alegres e amigáveis, no outro fazem birra e ficam chorosas. "É uma fase em que o filho se dá conta de que não é mais uma extensão do corpo da mãe", fala a psicóloga Livia Marques, do Rio de Janeiro (RJ). As atitudes manhosas ou birrentas são uma forma de expressar vontades e pensamentos. A criança não nasce sabendo a lidar com seus sentimentos, ela vai por tentativa, e isso é o que constrói seu modo de agir.
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Como lidar?
- Segundo Monica Pessanha, psicopedagoga e psicanalista infantil e de adolescentes, de São Paulo (SP), as crianças pequenas precisam de orientação quando se trata de descobrir como lidar com sentimentos como raiva, tristeza e frustração. Ajude-a a se expressar, validando o que ela está experimentando. Diga, por exemplo, "você está com raiva agora porque eu não quero que assista a TV".
- Ajude seu filho a praticar o autocontrole. Brincadeiras que exigem trocas --como jogar bola, por exemplo-- são ótimos para praticar ações como esperar e compartilhar. Tentar representar uma história também pode funcionar.
- Quando houver uma crise de birra, procure abaixar e conversar com a criança olhando nos olhos dela e demonstrando o quanto o comportamento dela é inadequado. Lembre-se: o ato é que é inadequado, não a criança. "Se isso acontecer em um lugar público, pegue o filho no colo e saia dali sem falar nada. Ele sentirá sua reprovação. Não tenha medo de frustrá-lo, diga 'não' com firmeza", orienta Valeria. Outra dica é procurar tirar o foco da atenção da criança, direcionando para outro objeto.
- Observe o estado físico da criança. Sono, fome ou alguma dor podem intensificar o processo.
7 anos
Em processo de alfabetização e na escola, a criança amplia seu contato com o mundo. "Isso aumenta a diversidade das experiências e a leva a contestar regras e posições familiares", diz Angélica Capelari, docente do curso de Psicologia da Umesp (Universidade Metodista de São Paulo). Nessa faixa etária, meninas e meninos têm uma sede infinita de conhecimento: são curiosos, agem como exploradores naturais e fazem perguntas sobre tudo. "Nessa idade, também se orgulham de compartilhar seus conhecimentos sobre as coisas e, muitas vezes, gostam de mostrar às crianças mais novas habilidades que dominam", explica Monica Pessanha. Sete anos é o marco da idade da razão, o começo do desenvolvimento lógico da criança. É um período de crise porque ela pode se sentir confusa em relação ao seu papel --escolar, social, familiar-- e a ser muito crítica e exigente em relação a si mesma. "Não conseguir que algo pareça exatamente do jeito que ela quer ou perder um jogo pode ser terrível para sua autoestima", diz Monica. Trata-se de um momento crítico para as crianças desenvolverem confiança em si mesmas.
Como lidar?
- Pais, professores e outros adultos devem oferecer incentivo frequente e ajudar a criança a se concentrar naquilo que pode aprender de uma atividade, e não no que não deu certo.
- Alimente os talentos de seu filho e ajude-o a descobrir novos interesses.
- Pratique a empatia e tenha em mente que a criança está crescendo e que quer --e precisa-- definir seu espaço e autonomia no mundo.
Pré-adolescência
A faixa etária que compreende a idade entre os 8 e os 12 anos é tão ou mais complexa e exigente quanto a adolescência. Embora haja uma relativa independência em relação aos adultos, garotas e garotos já se consideram maduros para fazer certas escolhas. É um período em que conseguem expressar melhor as emoções, tanto negativas quanto positivas, mas se envergonham quando são repreendidos ou alvo de risos diante de outras pessoas. "Há, ainda, uma imensa sensibilidade. Detestam, nessa fase, ser enganados, odeiam mentiras e já possuem um sentido muito claro de justiça e de amizade", esclarece Monica. É o início da separação emocional da família, cujo ápice ocorre na adolescência, e de uma crise de identidade. "A criança começa a perceber que tem expectativas diferentes das dos pais e sente dificuldade em lidar com as mudanças físicas e psíquicas", fala Valeria. Em alguns momentos, pode querer se fechar no seu mundinho, conversar pouco, ter crises de raiva ou tristeza.
Como lidar?
- Que tal começar a dividir responsabilidades com a criança? "É importante deixá-la fazer algo, mesmo que não seja como você espera, ter paciência com seus titubeios e seus erros e, sobretudo, valorizar o trabalho realizado", diz Monica.
- Nos momentos de raiva, tente dizer coisas como “depois que você se acalmar nós vamos conversar, ok?”. E então mostre que pode haver modos mais eficientes de demonstrar a frustração.
- Não tente se impor autoritariamente. Ensine princípios e ajude o filho a entender o que está por trás dos 'não' ou das regras.
- Seja paciente. Dê espaço, mas acompanhe tudo de modo atento.
- "Nessa fase, por conta da busca de uma maior afirmação, o bullying torna-se instrumento de manipulação. O mais importante é fazer uso do diálogo, de forma consistente, deixando-os falar, exercitando a objetividade", declara Livia Marques. Fale sobre causa e consequência de forma racional e como seu filho pode se prejudicar e prejudicar os outros, além de pontuar o quanto certas atitudes afetam a vida dele.
Adolescência
Hormônios em ebulição, sensibilidade à flor da pele, frequentes mudanças de humor, ataques de irritação e agressividade, lágrimas por aborrecimentos ou decepções. "Inicia-se a busca de si mesmo e da própria identidade, o que pode levar a uma atitude oposicionista, em conflito contínuo com outras pessoas", afirma Monica. Há resistência em relação aos pais e a vida doméstica torna-se conturbada: o adolescente não aceita de bom grado as tarefas de casa que lhe mandam fazer e brigas entre irmãos viram rotina, por exemplo. Em geral, o jovem comporta-se melhor fora do ambiente familiar. Mudanças corporais têm impacto direto na autoestima. "Por volta dos 18 anos também ocorre a crise pré-vestibular. A escolha de uma vida profissional pode ser desgastante. Além disso, lidar com horas de estudo e a pressão para se sair bem nas provas podem causar crises emocionais, dificultando ainda mais decisões e aumentando a ansiedade e as alterações de humor", destaca a psicopedagoga Luciana Brites, cofundadora do Instituto NeuroSaber, em Londrina (PR).
Como lidar?
- Procure partilhar amor entre todos os filhos de forma equitativa. Respeite a individualidade de cada um e evite frases como "seu irmão não faz tal coisa".
- Leve em consideração as inclinações, o grau de desenvolvimento e as habilidades, sem obrigar o filho a se moldar ao desejo dos pais.
- "Em relação ao vestibular, ajude o adolescente a organizar seus estudos e prioridades de forma que haja tempo para socialização com amigos e familiares, além da atividade física, que é bem importante tanto para memória quanto para o controle da ansiedade", sugere Monica.
- Não basta apenas apoiar a escolha do jovem. Mostre que está, de fato, ao lado dele ao estudar as opções, avaliar as alternativas, conversar sobre prós e contras. Auxilie-o, ainda, a lidar com a pressão e exerça a empatia.
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