Exclusivo: Universa mostra "Madonna 60", nova biografia do ícone feminista
Perto do aniversário de Madonna – em 16 de agosto –, a mais completa biografia não autorizada da cantora, publicada originalmente há 10 anos pela jornalista inglesa Lucy O’Brien, ganha atualização e revisão. “Madonna 60” chega às livrarias brasileiras pela editora Agir (R$ 69,90) nas próximas semanas. Universa teve acesso antecipado à obra e traz aqui alguns de seus principais trechos. Com exclusividade, leia ainda o primeiro capítulo do livro.
“Quando a primeira edição foi publicada, em 2007, Madonna ainda era definida por sua vida sexual, seu status fashion e por suas canções otimistas e dançantes”, diz a autora na introdução da obra. Agora, “o mundo começa a entender sua façanha, e há um desejo de descobrir como ela fez o que fez”, completa a jornalista, que entrevistou amigos de infância, familiares, bailarinos, afetos e desafetos de Madonna ao longo de 14 anos.
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A vida da cantora é contada em detalhes, em ordem cronológica. Passa pela educação católica e conservadora da infância, a dedicação de Madonna à dança desde os 16 anos e a influência do mentor e professor de dança Christopher Flynn, trinta anos mais velho, que ela considera o homem mais importante de sua vida.
O livro detalha ainda o estupro sofrido por Madonna, quando um homem, com uma faca, a fez subir até o telhado de um prédio e a forçou a fazer sexo oral. Também está no livro o relato de sua primeira empresária, Camille Barbone, que afirma que Madonna, à época, tinha uma esperteza de garota de rua, “capaz de ir para casa (e para a cama) de qualquer um se estivesse com fome e precisasse de uma refeição”.
O’Brien fala dos casamentos com Sean Pen, Warren Beatty e Guy Rotchie, do mergulho de Madonna na espiritualidade, da maternidade e das batalhas pelas adoções de três filhos, a disputa pela guarda de Rocco, filho que teve com Guy, os insanos exercícios físicos como forma de superar dores e as incansáveis turnês e experiências musicais com jovens artistas.
De acordo com O’Brien, se anos 1980 e 1990, o objetivo de Madonna era a libertação da mulher, agora, é fazer parte de um movimento de libertação do mundo. “As pessoas me subestimaram, não é verdade?”, disse a cantora em outra biografia, também reproduzida na obra atual. “Pensaram que tudo aquilo que eu fazia nos anos 1990 era só o que eu tinha a oferecer como mulher... Não tenho vergonha de nada do que fiz. Mas muito daquilo vinha de um lugar cheio de raiva e rebeldia, de tentar ser corajosamente combativa no que dizia respeito ao feminismo.”
Em “Madonna 60”, ela vaticina: “embora cheia de falhas e extremamente humana, é o seu destemor que serve de inspiração. Como o ícone que originalmente levou o seu nome, Madonna está aqui para a eternidade.”
Leia alguns trechos:
Maternidade
“Ter uma filha (...) fez Madonna ver sua mãe de uma maneira diferente, e isso acabou restabelecendo uma conexão com a religião. Ela passou por uma espécie de ressurreição, e parte disso foi o despertar do seu interesse pela cabala. Madonna disse que, enquanto estava grávida de Lola, sentiu que precisava ter o que ensinar à filha. Assim como sua mãe transmitira a fé católica para ela, Madonna sentiu a necessidade de ter uma crença que pudesse passar para Lola. ‘O que vou dizer a ela sobre a vida?’”
Guy Ritchie
“Quando conheci Guy, não acreditei que tinha encontrado alguém com tanta força de vontade quanto eu, comentaria. Guy tem uma personalidade muito forte e gosta e desgosta de coisas bastante específicas. Ele não cede nem um milímetro quando discordamos em alguma coisa, mas eu respeito isso”. (De acordo com O’Brien, embora Madonna gostasse de homens fortes, ela não se sentia inteiramente segura com o marido). “Ela reclama que ele nunca elogia sua aparência e que isso a deixa paranoica com relação à diferença de dez anos que há entre eles, com medo de ele não a achar mais atraente. Isso é muito difícil para uma mulher como ela. (...) A reação de Madonna foi procurar acentuar sua beleza de todas as maneiras que estivessem ao seu alcance.”
“Guy também ficava um pouco intimidado pelo sucesso de Madonna e referiu-se maliciosamente a ela numa entrevista como tendo “uma ética de trabalho que esmaga a minha. Me faz sentir como se eu não estivesse fazendo o suficiente... como se eu ainda tivesse muito o que aprender”. Tão obstinado quanto Madonna, ele se recusou a assumir um compromisso. Por fim, ela acabou cedendo e se mudando para a Inglaterra. Foi aí, disse ela, que o relacionamento decolou.”
Disputa com cantoras mais jovens
“Eu tenho que me manter atual. Deus me ajude, mas acho que vou ter que dividir o espaço nas estações de rádio com Britney Spears e Christina Aguilera”. (Depoimento de Madonna a amigos, em 2000, aos 42 anos). “Ela estava expondo sua preocupação de acabar sendo engolida por artistas mais jovens. Sabia que, se fizesse uma turnê mundial, poderia se reafirmar como a rainha do pop, mas, com duas crianças pequenas, isso teria que ser muito bem planejado.”
O que diz uma colega de trabalho
“Embora muitos falassem de uma Madonna mais calma e gentil desde que passara a se interessar pela cabala, algumas pessoas mais próximas sentiam que ela mudara, mas não necessariamente para melhor. Diriam que, ironicamente, quanto mais generosa se tornava a sua persona pública, mais ela lidava com os velhos amigos como uma mulher de negócios. (...) Chega um momento na vida de um artista em que tudo o que ele quer é estar rodeado por seus fãs. Eu me mantive firme com ela. Não vou adocicar as coisas só porque você é a Madonna. Mas chega uma hora que, se todos dizem sim, e há só uma voz dizendo não, bem, você deixa de ser vista como uma amiga. A única coisa que fiz foi frustrá-la”. (Depoimento de Niki Haris, vocalista de apoio de Madonna por 14 anos).
Rotina física para ter o corpo perfeito – aos 47
“O corpo de Madonna era o seu templo, e um templo bastante comentado, na verdade. (...) Falou-se muito sobre como aquela mulher de ‘47 anos de idade e mãe de dois filhos’ parecia jovem. Para manter aquele corpo perfeito, no entanto, Madonna não fazia por menos. Todos os dias praticava a Ashtanga ioga por uma hora, em nível quase profissional, mais uma hora era dedicada ao pilates, e outra hora, ainda, era preenchida por exercícios aeróbicos. (Sobre a rotina da cantora em 2002), quando atendia telefonemas de trabalho em seus aparelhos de ginástica e fazia uma dieta macrobiótica bem balanceada, se permitindo uma taça de vinho no almoço de domingo. Na verdade, grande parte do seu dia de trabalho era dedicada à malhação”.
Adoção polêmica de David Banda
“Eu não imaginava que seria vista como um demônio. Não imaginava que seria acusada de sequestro ou de estar fazendo algo ilegal”. (Em 2005, aos 47 anos, ela adotou um menino africano, nascido no Malaui. Segundo as regras daquele país, era necessário que os interessados na adoção vivessem 18 meses no local. Madonna e Guy ficaram isentos dessa obrigação e o casal foi acusado de “comprar” crianças na África. Madonna especula que muitas das críticas que se seguiram à adoção de David Banda motivadas por racismo).
Vida besta em família
“Ela parecia tranquila e renovada, mas certa ansiedade já se aproximava. Na verdade, Madonna passara a maior parte das férias malhando intensamente enquanto Guy levava as crianças para a praia. Nada fã do sol, para não correr o risco de ficar enrugada, Madonna ficou em lugares fechados a maior parte do tempo. No fundo, ela e Guy caminhavam mais uma vez em direção a uma vida mais independente um do outro. Depois do breve momento de harmonia durante a crise da adoção, dificuldades antigas voltaram a aparecer, e eles começaram a ter discussões em público.” (Sobre as férias do casal e dos filhos em 2006, depois de um ano muito produtivo para a carreira de Madonna, mas também muito complicado no que diz respeito à esfera emocional).
Crise e fim brutal do casamento com Guy Ritchie
“Rebelando-se contra o comportamento controlador de Madonna, Guy saía para beber, caçar e pescar com os amigos. Ela telefonava para os lugares onde ele geralmente ia para beber, procurando-o, querendo saber quando voltaria para casa. Muitas vezes ele desligava o telefone. Ao tentar provar que era dono da própria vida, Guy estava passando dos limites. ‘Guy é realmente duro com Madonna. Ele não a deixa se safar de nada’, disse um amigo. ‘Não é legal. É como se ele achasse que fosse sua obrigação dar uma dura nela de vez em quando. Ela fica cansada disso às vezes. Ela quer que ele seja mais gentil’.” (Sobre a tentativa de ambos fazerem o casamento dar certo, por causa das crianças. Mas, de acordo com o livro, Guy se sentia pressionado. Ela, por sua vez, sentia saudade de casa e queria voltar para Nova York, enquanto ele preferia ficar em Londres e não complicar a vida escolar das crianças. No ano seguinte, em 2007, Madonna mergulhou no trabalho). “Entraria em estúdio com dois dos nomes mais badalados da indústria musical, Justin Timberlake e Timbaland. (...) Também dirigiu seu primeiro curta-metragem, uma comédia de baixo orçamento sobre uma estrela pop em busca de realização pessoal, chamado ‘Sujos e sábios’. E ainda encontrou tempo para voltar com David ao Malaui, a fim de que o menino pudesse ver o pai novamente.”
“Queria me expressar como artista de maneiras que acho que não deixariam meu ex-marido confortável (...) Eu me sentia encarcerada. Eu não tinha permissão para ser eu mesma.” (Depoimento de Madonna em 2015 sobre o divórcio com Guy Ritchie em 2008, quando ela estava com 50 anos). (...) “O rápido divórcio mascarou uma história mais profunda em relação ao casal que seguiu rumos diferentes. Os problemas começaram três anos antes, quando Madonna sofreu seu acidente enquanto cavalgava e precisou ficar deitada durante um mês sentindo dores intensas. Sua carência pegou Guy de surpresa, e a resposta dele foi distanciar-se mais dela. Madonna ficou devastada com a frieza do marido. Os conflitos pioraram quando eles adotaram David, porque Guy achava que não era uma boa ideia. Além disso, ele se mostrava titubeante em relação à cabala, a religião que era tudo para ela. Guy ‘deu uma chance’, mas não ficou de fato interessado. Ele também a criticava dizendo, por exemplo, que no palco ela ‘parecia uma vovozinha’ comparada às jovens dançarinas. Em 2008, eles seguiam vidas separadas, mas apareciam juntos em frente às câmeras. Ela entrou com o pedido de divórcio alegando o ‘comportamento irracional’ do marido”.
“As negociações foram rápidas e dinâmicas, com Madonna protegendo sua fortuna de 300 milhões de libras. Ela foi representada pela advogada Fiona Shackleton, responsável pelo divórcio de Paul McCartney. (...)Conhecida no meio jurídico como uma ‘mestre estrategista’ e ‘a melhor das melhores’, Shackleton garantiu que, apesar de não ter sido feito um acordo pré-nupcial, Guy acabasse ficando ‘apenas’ com seu pub (...) e uma coleção de obras de arte no valor de 4 milhões de libras. Guy, no entanto, supostamente rejeitou uma oferta de 20 milhões de libras feita por Madonna. Orgulhoso, não quis sair com fama de interesseiro ou de dependente dela. (...) Ele também contou com uma poderosa advogada, Helen Ward, nomeada pela revista The Lawyer como a ‘primeira escolha dos ricos e famosos’ e ‘uma tigresa que nunca dorme’. A batalha foi brutal mas curta, e o casal chegou a um acordo antes de irem ao tribunal. Ficou estabelecido que Madonna ficaria com a guarda de Lourdes, mas ela e Guy teriam a guarda compartilhada de Rocco e David; os dois meninos dividiriam seu tempo entre Londres e Nova York.”
“Estou procurando um marido, não um cuzão. Já fui casada com um cuzão”
(Resposta de Madonna, em Nashville, no palco, ao ouvir uma pessoa na plateia gritar que queria se casar com ela).
Carreira dá uma guinada depois do divórcio
“Acabou sendo a turnê mais rentável da carreira dela, com 85 apresentações entre agosto de 2008 e setembro de 2009 e uma receita de 408 milhões de dólares. Ainda que estivesse instável no começo e estressada com os problemas em relação ao divórcio, no final ela adotou uma postura desafiadora, estendendo a turnê para os países do Leste Europeu, como Sérvia, Eslovênia, Romênia e Bulgária. No verdadeiro estilo Madonna de ser, ela exorcizou todos os fantasmas trabalhando duro e dançando no palco todas as noites.” (Sobre a turnê mundial Sticky & Sweet para promover o álbum Hard Candy, logo depois da separação. Segundo o livro, Madonna estava determinada a provar que Guy e todos aqueles que se colocavam contra ela estavam errados. “Era uma mulher mais velha, sim, mas também podia ser sexy e triunfante”.
50 anos: “algo mais apropriado para sua idade”?
“Enquanto promovia seu álbum Hard Candy, os fãs se perguntavam se chegando aos cinquenta anos Madonna dispensaria o corpete e a sensualidade semidesnuda por algo mais ‘apropriado para sua idade’. Como observou Rich Cohen, jornalista da Vanity Fair: ‘Madonna construiu sua fortuna vendendo sexo. O que ela vai vender quando a ideia de sexo com Madonna parecer um fetiche?’ No entanto, as primeiras fotos promocionais mostraram Madonna sem o menor clima de arrependimento. Vestida à la dominatrix, com um corpete preto punitivo, botas até as coxas e um toucado com espinhos, ela parecia dizer: ‘É, eu tenho quase cinquenta anos. E daí?’ Ela ainda exibia um corpo poderoso e torneado, ainda era desafiadora, sem enxergar oposição entre seu papel como mãe adepta da cabala e rainha sexy do pop. Alguns ficaram perplexos.”
“Não vou me deixar ser definida pela minha idade — declarou. — Por que as mulheres deveriam passar por isso? Não vou diminuir o ritmo, sair dessa vida, ficar em casa e engordar. Não mesmo! Jamais faria isso.”
“Inspirada pela tecnologia fitness, Madonna tinha uma rotina de exercícios que resultou em seu corpo escultural. Sua personal trainer, Tracy Anderson, disse: ‘Ela é como um atleta profissional. Faz exercícios de balé para tonificar um músculo de cada vez, alcançando uma definição muscular’. Ela e Madonna se separaram em 2009, porque Anderson achava a cantora muito ‘exigente’, mas desde então o ‘Método Tracy Anderson’ a elevou à categoria de guru fitness e best-seller. Madonna também transformou sua rotina de exercícios em um negócio, lançando sua academia em 2010, a Hard Candy.”
Sexo e celulares
“Quando perguntaram por que ainda parecia tão jovem, Madonna não negou os rumores a respeito de uma pequena cirurgia (‘Não sou contra a cirurgia plástica, só sou contra falar sobre isso’), mas deu a entender que era provavelmente por conta de “sexo bom”. Em uma entrevista à revista Elle, Madonna falou sobre ‘Incredible’, uma faixa agitada, extática, densa que era a favorita de Guy, porque, ‘surpresa!’, falava sobre o quão incrível era fazer sexo com ele.” (De acordo com a biografa, o depoimento “soava um tanto exagerado e falso, em especial porque ela admitiu mais tarde que os dois dormiam com seus BlackBerrys embaixo do travesseiro.” (...) “Não é antirromântico. É prático”, disse a cantora a respeito de sua tendência a fazer anotações durante a madrugada.)
Ataques de pânico
“Conciliar carreira e maternidade foi um desafio e tanto para Madonna. Ela queria dar aos filhos o amor e a segurança que ela não teve quando criança, e por isso achava que estava se dividindo em várias partes e sempre ‘falhando um pouco’. Sua prole, no entanto, demonstrou pouco indício de estresse: Lourdes havia se tornado uma menina de 11 anos tagarela e atrevida com um estilo gótico e fã de jeans bem apertado; seu irmão Rocco divertia as pessoas com sua astúcia, herdada do pai; e David, cheio de uma energia radiante, se adaptou bem em sua casa adotiva. Foi Madonna quem ficou com todo o estresse, o que veio à tona em ataques de ansiedade em momentos-chave, como durante a turnê Confessions, em 2006, quando a pressão da fama e das apresentações que demandavam um imenso preparo físico noite após noite cobraram seu preço.” (Sobre os ataques de pânico, Madonna declarou:) “parece que todos estão respirando meu ar e não consigo alcançar as expectativas de todo mundo, e posso morrer no palco (...) é óbvio que há oxigênio suficiente para mim, mas (...) de repente me sinto claustrofóbica.” (De acordo com O’Brien, em momentos como esse, a cantora dava as costas ao público, respirava bem fundo e se lembrava de que “é tudo temporário”).
O irmão detona Madonna
“Ela enlouqueceu por causa do orgulho, da fama, das adulações obsequiosas dos sicofantas, da adoração impensada das multidões.” (Frase do irmão Christopher, que publicou sua autobiografia franca e cáustica, “A vida com a minha irmã Madonna”. No livro, Madonna é retratada como descuidada, má e uma pessoa que gostava de se enganar. “Sentindo-se imensamente traída, Madonna se deu conta de que já não era mais próxima do irmão. Eles haviam se tornado estranhos depois de seu casamento com Guy, que, segundo Christopher, sentia-se desconfortável quando encontrava os amigos gays de Madonna. Perder o irmão como aliado fez com que ela reavaliasse em quem poderia confiar”
Mais um problema com adoção; dessa vez, a de Mercy Chifundo
“Dá para imaginar como recebi essa informação (...) Sou uma defensora da liberdade. Sou feminista. Sou um coração rebelde. (…) Mas também sou um ser humano solidário e inteligente (...) Contratei uma equipe de advogados e levei meu caso para a Suprema Corte, e não foi uma batalha fácil (...) Meu argumento foi de que as mulheres criam filhos há séculos por conta própria, (e) eu estava me saindo muito bem cuidando dos meus três.” (Depoimento de Madonna sobre a recusa do pedido de adoção de Mercy Chifundo James em abril de 2009, depois de três anos de batalha na Justiça. Ela a conheceu a menina em uma viagem ao Malauí e soube que tinha sido levada para o orfanato após a morte de sua mãe adolescente. Quando Madonna a encontrou, Mercy estava muito doente, com malária. A avó e os tios da garota, no entanto, reivindicavam a adoção. A juíza declarou que a cantora não preenchia o requisito que exigia que os pais morassem no país de 18 a 24 meses). “Além disso, inferiu-se que a recém-divorciada e mãe solteira Madonna não estaria apta a cuidar apropriadamente de Mercy”. (A cantora entrou com um recurso e, dois meses depois, o chefe da justiça do país anulou a decisão inicial da corte alegando que era uma falha não levar em conta a realidade atual).
“Com essa vitória, Madonna cimentou seu papel no país [Malaui] como ‘Ma Donor’, a doadora. Chamada de ‘a mulher branca rica’, sua instituição de caridade oferece esperança a pessoas em áreas rurais pobres. Para eles, a história de Mercy representava uma fuga daquela situação de sofrimento. A pequena menina poderia ser como Barack Obama, deixando um estado africano pobre para acabar se tornando o presidente dos Estados Unidos.” (De acordo com O’Brien, apesar das críticas que diziam que o trabalho de Madonna “é uma forma de colonialismo – como um David Livingstone [missionário e explorador escocês, que introduziu o cristianismo moderno na África] moderno, ela chega com pulseiras da cabala no lugar da Bíblia –, há algo de profundamente tocante no fato de uma das mulheres mais ricas do mundo ir a um dos países mais pobres do planeta e mudar a própria vida.” (Madonna criou uma relação com o país, injetando dinheiro no sistema de saúde e em escolas).
Críticas à Madonna cineasta
“As críticas não eram tanto um reflexo do filme, mas sim do menosprezo da mídia por Madonna e pelo fato de ela ter ousado abordar uma forma de arte “séria”. Foi mais um exemplo das tentativas dos críticos de banalizarem seu trabalho e empurrá-la de volta para o papel de perua do pop que havia sido moldado por ela anos antes. Ter ignorado as críticas e continuado a se desenvolver como diretora, escrevendo roteiros e trabalhando em outros projetos, são provas de sua força. Ironicamente, apesar de ter sido criticada enquanto cineasta, essa experiência tornou o trabalho de Madonna mais reflexivo. Rodar um filme requer pensamento crítico e uma visão mais ampla. Não foi por acaso que, depois de W.E., sua música voltou-se para um viés mais político e suas turnês ficaram mais ambiciosas e conceituais.” (Sobre o filme “W.E.”, de 2012, escrito por Madonna e dirigido por Alex Keshishian, de “Na Cama com Madonna”).
Madonna ativista
“O filme [“Secret Project Revolution”, um curta que fala sobre expressão artística e direitos humanos] (...) era um chamado à luta, lançando a iniciativa ArtForFreedom. Em parceria com a [revista] Vice, Madonna convidou pessoas a compartilharem sua arte em posts usando a hashtag #ArtForFreedom. Ela recrutou estrelas pop, como Miley Cyrus e Katy Perry, para serem curadoras convidadas e escolherem quais obras seriam colocadas em destaque, e se comprometeu a doar dez mil dólares por mês a uma organização sem fins lucrativos escolhida pelo artista selecionado. ‘Quero dar início a uma revolução do amor’, disse ela, com simplicidade” (Sobre o filme de 2013, feito durante a turnê MDMA. Nos shows, Madonna brandia uma arma e uma mancha de sangue explodia num telão). “Madonna também queria criar um ambiente de ativismo multimídia, incorporando mensagens e slogans políticos ao show. Isso significava que, aonde quer que fosse, a turnê se tornava um chamariz de controvérsia”.
“’Presenciei a discriminação e a intolerância e uma nuvem escura de hipocrisia movendo-se sobre mim, como uma cortina de desespero. O resultado é Secret Project Revolution’ (...). Com encenações de procedimentos de torturas e Madonna representando uma personagem aprisionada pelas próprias crenças, o filme é encerrado com uma citação de Jean-Paul Sartre: ‘Liberdade é o que você faz com aquilo que foi feito a você.’” (Madonna dedicou o filme a qualquer um que tenha sido perseguido “pela cor da sua pele, por suas crenças religiosas (...) seu gênero ou suas preferências sexuais. Qualquer um que tenha tido seus direitos humanos violados”.)
2016: sucesso no trabalho e frustração em casa
“Com encerramento em março de 2016, em Sydney, a turnê Rebel Heart rendeu 169,8 milhões de dólares, o que aumentou o recorde de Madonna para 1,131 bilhão como a maior receita bruta de um artista solo em turnê e a colocou em terceiro lugar na lista Boxscore da Billboard, ficando atrás dos Rolling Stones e do U2. Mas no meio da turnê aconteceu algo que abalou Madonna profundamente. De que adiantava todo aquele imenso sucesso quando ela não podia mais ver seu filho?”
(O vazamento de 13 faixas do álbum “Rebel Heart” na internet antes de o álbum ter sido finalizado e reduziram o impacto da estreia das músicas. Madonna, então, caiu na estrada outra vez. Apesar de ter ficado anos sem fazer turnês, suas apresentações, aos 57 anos, foram um sucesso absoluto).
Rocco, o “filho da puta”
“Em janeiro [de 2016], Madonna estava ficando desesperada e acusou Guy de estar ensinando o filho a desrespeitar a lei por não mandá-lo voltar (o menino estava em Londres, com o pai, e se recusava a voltar para a casa da mãe, em Nova York). A batalha foi levada aos tribunais, e Madonna e Guy entraram com ações judiciais em Nova York e em Londres. Fotos de Rocco surgiram na imprensa. Ele parecia um pouco perdido e foi fotografado pelo jornal Sun sentado embaixo de uma ponte com alguns grafiteiros locais, fumando e bebendo. A turnê prosseguiu, mas Madonna estava infeliz.” (Ao se apresentar em Auckland, Nova Zelândia, Madonna chorou e dedicou “La Vie En Rose” a Rocco. Ela disse): “Não há amor mais forte do que o de uma mãe por seu filho. É uma canção de amor para um homem. Ele ainda não é, mas sei que será um, algum dia. Espero que ele esteja ouvindo isso em algum lugar e saiba como sinto falta dele.” Como resposta, Rocco falou para um amigo no Instagram: “Vou ficar aqui, cara”. Ele bloqueou a mãe e postou uma foto dele mesmo com a legenda “filho da puta”.
“Quando Rocco fez 16 anos em agosto, pareceu que Madonna e a madrasta do garoto, Jacqui, estavam competindo entre si para ver quem dava o melhor e mais extravagante presente de aniversário.” Jacqui [Ainsley, com quem Guy Richie se casou depois do divórcio de Madonna, e teve três filhos em um curto período) o levou para o coração do vulcão Thrihnukagigur, na Islândia, e lhe deu uma seleção de skates com o nome dele e o número 16 pintados à mão. Madonna arranjou um jatinho particular para Rocco e amigos irem comemorar o aniversário dele em Nova York.”
“Os presentes caros foram em vão. Três semanas depois, Rocco decidiu que queria ficar com o pai. Madonna perdeu a batalha da guarda em 7 de setembro [de 2016], quando ela e Guy chegaram a um acordo horas antes de o caso ir para uma corte em Manhattan. Ficou acordado que Rocco frequentaria a escola em Londres e faria visitas regulares à mãe. Madonna, abatida, voltou-se para o Instagram, onde postou uma foto bizarra de si mesma rabiscada pela palavra ‘Puta’. Em referência ao post anterior de Rocco com a legenda ‘filho da puta’, ela disse que é isso que uma mãe dedicada precisa ser. Grande parte da tensão era resultado da diferença entre os estilos de criação entre Madonna e Guy: ele a considerava muito disciplinadora; ela o achava muito liberal.” (Segundo a biógrafa, os medos de Madonna se concretizaram pouco tempo depois do acordo, quando Guy e Jacqui viajaram para Malibu de férias, deixando Rocco em Londres com apenas os empregados da casa para tomar conta dele). “Ele saiu para ir até a pista de skate em South Bank e foi flagrado em um vídeo de Snapchat fumando e bebendo cerveja. Madonna voou na mesma hora para ver o filho e fazer companhia a ele, levando-o para jantar e ver shows.”
Lourdes Maria, a filha exemplar
“Tem bastante gente julgando cada movimento que faço. É importante para mim não deixar que isso tome conta da minha vida.” (Frase de Lourdes Maria em entrevista à Vogue, em 2016. De acordo com o livro), “embora Madonna a tenha recriminado por fumar cigarro quando era adolescente, Lourdes manteve-se bem sensata e independente. Assim como a mãe, é uma promissora mulher de negócios e também uma artista.” (Aos 14 anos, lançou com Madonna uma linha de roupas e produtos de beleza; aos 15, fez backing vocal na música “Superstar”, do álbum MDNA e, aos 18, foi para a Universidade de Michigan, estudar teatro musical).
Adoção, a nova treta – agora, com as gêmeas Esther e Stella Mwale
“(...) Madonna provou que, como arrecadadora de fundos, ela é obstinada e extremamente eficiente. Em julho do ano seguinte [2016], ela inaugurou no Malaui o centro de tratamento pediátrico Mercy James. Logo após o evento em Miami, Madonna adotou mais duas crianças, as gêmeas de quatro anos Esther e Stella Mwale. Alguns céticos a acusaram de ter montado o evento para ganhar vantagem no processo de adoção. E, no tribunal de adoção malauiana, a juíza Fiona Mwale levantou questionamentos ‘desconfortáveis’ em relação à idade e à fama de Madonna, temendo que a estrela estivesse ‘roubando’ do país suas crianças, seus ‘maiores bens’.” (A biógrafa conta que a cantora convenceu a juíza com uma visão clara não apenas em relação à criação dos filhos, mas também em relação à situação dos órfãos do país. As adoções saíram em 2017).
Um novo capítulo: a mudança para Portugal
“A mudança para Lisboa, para longe dos holofotes da imprensa, ajudou a abrandar um pouco as repercussões dolorosas do divórcio com Guy. A comemoração de seu 59o aniversário em agosto, em Lecce, Itália, contou com a presença de todos os seis filhos de Madonna e marcou o início de uma nova fase de harmonia familiar. Há uma foto em que ela aparece na classe executiva de um voo para Portugal depois da comemoração, sem maquiagem, usando jeans e tênis, completamente “à paisana”. Ela começava a vislumbrar novas possibilidades, dizendo: ‘É hora de conquistar o mundo sob um novo ponto de vista.’ (O’Brien conta que depois do aborrecimento com Rocco, Madonna “adotou uma abordagem mais moderada”. Foi morar com os quatro filhos mais novos em Lisboa, em Portugal, onde David entrou para a equipe juvenil do clube esportivo Benfica). “A energia de Portugal é inspiradora. Sinto-me muito criativa e viva aqui (...) esse será o novo Capítulo do Meu Livro”, escreveu Madonna no Instagram.
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