Com morte dos pais, filha mais velha lutou por guarda definitiva de irmãos

Marina, 28 anos, Gustavo, 20, e Beatriz de Santis,16, são irmãos e vivem sozinhos em Campinas, no interior de São Paulo. “Em 2006, meu pai descobriu um tumor cerebral e, após seis meses, faleceu. E logo no final do mesmo ano, minha mãe também descobriu que estava com câncer e faleceu em seguida”, revela Gustavo.
Após essa tragédia em família, Marina, na época com 18 anos, lutou para conseguir a guarda legal dos irmãos mais novos, criá-los e manter a organização e o sustento da casa. “A luta começou antes mesmo de meus pais morrerem, pois o próprio processo da doença que tiveram me obrigou a estar sempre por perto deles e das crianças”, explica Marina, que teve de conciliar o último ano da escola com o cuidado dos irmãos, as tarefas de casa e a rotina em hospital – tudo sozinha.
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Da morte dos pais surgiu uma mãe
Logo após a morte dos pais, a jovem teve de encarar ainda inúmeras batalhas. A primeira delas foi desafiar os tribunais de Justiça para poder assumir a responsabilidade legal pelos dois irmãos. “Foi muito doloroso, pois, para conseguir isso, tive de reviver intensamente o meu passado e me submeter a avaliações de juízes, assistentes sociais e psicólogos”, relembra.
Em seguida, ela enfrentou a ansiedade e as incertezas, pois até que saísse a tutela definitiva foram cinco anos de burocracias. “Eu era muito nova e, caso não quisesse me separar dos meus irmãos, precisava sair 100% bem em habilidades maternais”, diz.
Isso, porque a caçula Beatriz agia e falava como um bebê, na maioria das vezes, não comia sozinha e tinha dificuldade em ganhar peso. Já Gustavo não tinha limites e insistia em desobedecer a irmã mais velha. Marina considera essas atitudes como traumas e desabafos.
Amigos, vizinhos e até Supernanny deram suporte
Para não jogar tudo para o alto, Marina contou financeiramente com uma pensão do Governo e bens deixados pelos pais e, quanto à parte emocional, recebeu apoio e carinho de amigos, vizinhos e até de especialistas em comportamento infantil, como a pedagoga Cris Poli, a Supernanny do SBT. Foi ela quem orientou Marina como disciplinar e cuidar das crianças.
“Contar com a Cris Poli foi especial, assim como as famílias que meus pais conheciam e eu confiava para olhar as crianças quando raramente saía para me divertir”, comenta Marina.
Depois de encontrar meios para driblar todos os desafios e provar que os irmãos estavam se saindo bem nos estudos, eram bem alimentados, cuidados e que nada os faltava, Marina conseguiu a guarda definitiva.
“Tive que amadurecer financeiramente e aprender na marra a administrar a casa para termos uma boa qualidade de vida”, complementa Marina, que também teve de ficar dois anos sem poder trabalhar para se dedicar exclusivamente à família.
Ela só retomou o controle da própria vida há alguns anos, depois que os irmãos cresceram. “Enquanto eles estudavam em período integral, eu fui fazer faculdade e trabalhar, senão estaria até hoje estagnada”, afirma.
Atualmente, Gustavo cursa a faculdade de direito, tem boas notas, e Beatriz, que está no segundo ano do ensino médio, pretende estudar medicina.
Lição para o resto da vida: mãe é quem cria
Após a dura missão que a vida lhe impôs, Marina desabafa: “Foi preciso abrir minha mente, pois a princípio queria que meus irmãos me respeitassem como mãe, mas aprendi que só sou apenas a irmã mais velha e nunca poderei me posicionar de outra maneira”.
Nas palavras de Gustavo: “Minha irmã foi uma heroína e, depois que me tornei maior de idade, nunca me proibiu de nada. Ela sabe que não é minha mãe e também que sempre pode confiar em mim. Hoje eu me preocupo demais com as nossas vidas e me orgulho de nossa história, que serve de reflexão para outras pessoas”.
Nos dias das mães e dos pais, a família prefere ignorar as datas e tenta se distrair como pode. “Costumamos passear ou fazer compras, e percebo que de alguma forma isso nos faz bem”, conclui Marina.
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