"Dei a minha filha para adoção, me arrependi e sonho em revê-la"

"Eu tinha 28 anos, morava na Vila Madalena e tinha vindo de Recife, Pernambuco. Já com um filho nos braços e outro na barriga, uma vizinha que se chamava Valdete, vendo meu sofrimento, desespero e medo em não poder sustentar e criar minha filha que estava prestes a nascer, tentou me ajudar.
Ela me apresentou uma família que vivia em Santo André (SP) e estava interessada em adotar uma criança. Era um casal sem filhos, que tinha uma condição financeira muito melhor que a minha e que poderia oferecer para ela uma condição de vida muito melhor do que eu. Se não me falha a memória, esse casal era comerciante, provavelmente donos de uma loja de tecidos, não tenho muita certeza.
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Ainda quando estava grávida, optei por entregar a minha filha. Me recordo que a mulher se chamava Vera. Fizemos tudo amigavelmente: houve um compromisso da parte dela em trazer a menina com frequência para que eu pudesse vê-la. Ela me deixou todos os seus contatos e endereço.
O pré-natal foi realizado no Centro de Saúde da Vila Madalena. Minha filha nasceu de parto normal no dia 21.03.1984 no Hospital Universitário – USP, no bairro Butantã, em São Paulo. Recebemos alta no dia 24.03.1984 e ela permaneceu comigo por algum tempo para amamentação.
O casal que a adotou se comprometeu em criá-la com muito amor e carinho, além de oferecer tudo do bom e do melhor para ela. Eles eram brancos. Minha filha nasceu parda. E eles disseram que ela saberia desde pequena de toda sua história, de que era adotada e qual havia sido o motivo que levou seus pais biológicos a tomarem essa decisão. Acredito que seu nome seja Priscila.
O casal estava cumprindo o combinado. Algumas semanas depois de levarem minha filha, eles retornaram e juntos a levamos para tomar vacinas. Eu permanecia muito assustada com aquela situação, sem entender direito o que a vida havia me obrigado a fazer.
Passaram-se alguns meses, chovia muito na Vila Madalena, meu marido estava trabalhando e eu estava em casa sozinha com meu filho Rodrigo, de quase 2 anos de idade. A chuva foi aumentando, o bairro inteiro foi tomado por uma enchente, minha casa ficou destruída e nada sobrou. Consegui subir até a laje com meu filho e logo depois os bombeiros conseguiram nos resgatar.
Quando meu marido chegou do trabalho, eu estava na rua com a roupa do corpo e meu filho nos braços, não tínhamos o que fazer e nem para onde ir. Passamos a morar de favor na casa de amigos.
Alguns dias depois da enchente, a prefeitura nos procurou e ofereceu auxílio-aluguel. Encontramos uma casa na cidade de Taboão da Serra – SP. Todo o bairro onde morávamos estava destruído e, no meio de tanta tragédia, nos aconteceu o pior: todos os dados e endereço do casal que adotou minha filha estavam na casa e tudo se perdeu no meio da enchente e dos destroços.
Tempos depois, voltamos ao nosso bairro em busca de alguma informação ou notícia do casal que adotou minha filha. Precisávamos revê-la, mas nada adiantou, pois tudo havia mudado, inclusive vizinhos e conhecidos. Ninguém tinha nenhuma informação que pudesse me ajudar, ninguém sabia de nada. O arrependimento tomava conta da minha vida e eu estava desesperada.
Essa atitude irresponsável e inconsequente me fez viver todos esses anos com a culpa e o arrependimento. Nunca perdi a fé, nunca perdi a esperança de reencontrar minha filha. Todos esses anos se passaram mas a minha vontade de reencontrá-la e poder abraçá-la permanece comigo. Hoje moro na cidade de Embu das Artes, permaneço casada, tenho 4 filhos e quero muito encontrar e abraçar minha filha, que atualmente tem 34 anos. Eu me chamo Risonete Alves da Silva e tenho 64."
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