Da guerrilheira à ativista negra: as adolescentes que estão mudando o mundo
Desde fevereiro, quando a escola Marjory Stoneman Douglas, na Flórida, foi cenário de um massacre que deixou 17 mortos, uma voz bastante jovem tem se destacado em meio aos protestos pelo controle de armas de fogo que tomam conta dos EUA. Aos 18 anos, a estudante norte-americana de origem cubana Emma González tomou a frente do movimento para mudar a realidade em que seu país se encontra -- e fazer história.
Mas ela não é a única. Conheça as vozes da nova geração de ativistas que têm tudo para mudar os rumos do nosso futuro.
Emma González, 18 anos
Destemida, ela veio a público quatro dias depois daquele 14 de fevereiro, que marcou profundamente a história de Parkland, e discursou: “Se o presidente quiser vir até mim para dizer na minha cara que foi uma terrível tragédia, e como isso nunca deveria ter acontecido, e continuar a nos dizer que nada será feito a respeito, eu irei felizmente perguntá-lo quanto dinheiro ele recebeu da NRA [Associação Nacional de Rifles, na sigla em inglês]”. E prometeu que, junto com seus colegas, estará nos livros de História no futuro, não como estatística da violência, mas porque sua escola seria o último alvo de tiroteios em massa no país.
No último sábado (24), quando os americanos foram às ruas, Emma tomou a palavra, recitou os nomes dos 17 colegas assassinados, ficou seis minutos e 20 segundos no palco, mesmo tempo em que Nikolas Cruz disparou seu AR-15 contra os alunos, e disse diante de uma multidão: “Lutem pelas vossas vidas antes que tenha de ser alguém a fazê-lo por vocês”.
Em seguida, emendou: “Espalhem a notícia! Vocês ouviram? Ao redor da nação vamos ser uma grande geração”. Da sua turma de ativismo, fazem parte ainda Nza-Ari Khepa, 21, Sarah Chadwick, 16, e Jaclyn Corin, 17.
E quem acha que o desarmamento é a única bandeira de Emma, se engana. Bissexual assumida, ela é também a atual presidente da aliança gay-hétero de seu colégio e membro ativo da comunidade LGBT. Guarde bem esse nome.
Naomi Wadler, 11 anos
A estudante norte-americana foi a mais jovem a discursar na Mach for Our Lives, que aconteceu nos EUA. Representante das meninas e mulheres afro-americanas “que não aparecem no jornal”, como gosta de se definir, ela foi ovacionada durante sua fala. “Represento as mulheres negras que são vítimas da violência armada, que são estatística, em vez de meninas bonitas e vibrantes cheias de potencial”, disse.
Naomi nasceu na Etiópia, mas mora nos EUA, onde frequenta uma escola da Virgínia. Ela ganhou destaque no noticiário ao convocar seus colegas para uma manifestação em memória dos estudantes assassinados na Flórida, que previa 17 minutos de silêncio. Mas, durante o ato, pediu aos colegas mais tempo de silêncio, em homenagem a outros jovens negros vítimas da mesma brutalidade em diferentes lugares do país.
“Meus amigos e eu temos apenas 11 anos, mas já sabemos que a vida não é igual para todos, assim como sabemos o que é certo e errado”, acrescentou se referindo aos críticos que disseram haver um adulto por trás de suas atitudes. Em entrevista ao Washington Post, sua mãe a definiu como “uma criança consciente”.
As falas de Naomi foram compartilhadas nas redes por importantes celebridades, como a atriz Lupita Nyong’o.
Mc Soffia, 14 anos
A rapper paulistana ficou famosa ao cantar contra o racismo. Soffia versa principalmente do ponto de vista dos padrões de beleza e preconceitos que atingem meninas e mulheres: “Menina pretinha, exótica não é linda. Você não é bonitinha. Você é uma rainha”. Ela é daquelas que incentiva garotas a se amarem do jeito que são.
Sua fama e visibilidade acabaram lhe deixando vulnerável a ataques racistas nas redes. Tudo denunciado pela sua mãe, a produtora cultural Kamilah Pimentel. Seu momento de maior destaque foi na abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, quando se apresentou ao lado da cantora Karol Conká, uma de suas referências musicais. Nas lista de ídolos, carrega ainda Nicki Minaj, Beyoncé, Rihanna e Alicia Keys.
Soffia usa suas músicas para ecoar seu ativismo desde muito cedo, aos 4 anos já começou a compor. Em suas letras o que não faltam são críticas. No single mais recente, “Barbie Black”, lançado em fevereiro, se colocou contra o padrão de beleza de uma das bonecas mais famosas do mundo: “Barbies do meu setor são todas iguaizinhas. Loiras, magras, ruivas, todas padrãozinhas. Também sou Barbie, e sei bem o que tô dizendo. Falta mais diversidade, falta se olhar no espelho. Por que eles fabricam todas iguais? Se cada um é de um jeito, é assim que a gente faz. De todos os corpos e de todas as idades. Não vamos seguir padrões, vamos brindar a igualdade”.
Ana Júlia Ribeiro, 17 anos
A estudante que discursou na Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP), em 2016, virou símbolo do movimento estudantil, que promovia ocupações em diversas escolas do país na época. Na ocasião, ela protestou contra o teto de gastos públicos, uma das principais contestações dos estudantes. O país contava com 1.117 escolas ocupadas por estudantes que se colocavam também contra a reforma do Ensino Médio e o projeto Escola Sem Partido.
“Estamos lá porque a gente acredita no futuro do país”, disse Ana Julia pouco antes de causar desconforto nos deputados ao dizer que eles tinham “as mãos sujas de sangue”. Ela se referia à morte de Lucas Eduardo Araújo Mota, um estudante de 16 anos que foi morto, na época, em uma escola ocupada em Santa Felicidade, também em Curitiba. Na sequência, foi convidada a participar de uma audiência sobre educação e direitos humanos em Brasília.
Seu ativismo, porém, não se encerrou ali. Agora, estudante de Direito, ela segue militando.
Ahed Tamimi, 17 anos
A garota é símbolo da resistência palestina contra a ocupação israelense desde 2012, quando imagens suas confrontando soldados israelenses, durante a prisão de seu irmão mais novo, começaram a se espalhar pela internet. Seu histórico no ativismo vem de família. Tanto seu pai, Bassem, quanto sua mãe, Nariman, já foram presos diversas vezes em protestos a favor dos direitos humanos.
O acontecimento de maior repercussão foi em dezembro. Ahed foi detida, acusada de agredir um militar israelense durante a invasão de sua casa, em Nabi Saleh, um vilarejo localizado na Cisjordânia. Com a ajuda da mãe, o vídeo viralizou nas redes sociais. Seu julgamento de portas fechadas aconteceu semana passada e determinou pena de oito meses de prisão para ela e para a mãe.
Pela libertação da Palestina, ela criticou seguidamente a decisão de Donald Trump de transferir para Jerusalém a embaixada dos EUA em Israel. Para muitos, Ahed é uma versão contemporânea de Joana D'Arc, a camponesa francesa que virou heroína ao lutar contra a Inglaterra na Guerra dos Cem Anos (1337-1453) e acabou sendo canonizada. Definitivamente, uma jovem guerrilheira.
Muzoon Almellehan, 19 anos
A ativista e refugiada síria no Reino Unido é conhecida como a “Malala da Síria”. Assim como a colega paquistanesa, Muzoon tem como bandeira de seu ativismo a permanência de garotas nas escolas. Lutar pela educação é seu maior objetivo, já que as perspectivas para crianças que vivem em campos de refugiados são um tanto sombrias: apenas metade está matriculada na escola primária e menos de um quarto na escola secundária.
Não à toa, Muzoon fez história ao se tornar a mais jovem Embaixadora da Boa Vontade da Unicef. Como parte de seus deveres, viaja pelo mundo para conscientizar sobre a importância da educação. E seu objetivo é um dia poder voltar ao seu país natal e impactar jovens como ela. “Nosso país precisa de uma geração forte”, disse em entrevista à revista Time, após ser eleita uma dos 30 jovens mais influentes do mundo.
Maísa Silva, 15 anos
Quem acompanhou a sua entrada na TV aos seis anos de idade, como apresentadora do “Bom dia & Cia”, do SBT, não imaginava em quem Maísa estava prestes a se transformar. Adolescente engajada, ela se coloca como uma verdadeira jovem feminista e usa principalmente as redes sociais para detonar questões machistas.
Diante de seus mais de 3 milhões de seguidores, Maísa não se cala, toca em assuntos tabus, como menstruação, dá lição de sororidade ao promover o apoio entre mulheres, exibe sua autoestima e não deixa passar opiniões sexistas de haters. “Olha o macho imaturo se achando poderoso atrás de um aparelho tecnológico”, respondeu no Twitter.
Depois de enfrentar episódios constrangedores no Programa do Silvio Santos, protagonizados pelo apresentador Dudu Camargo, ela desabafou no Instagram: “Vivemos em uma sociedade onde a mulher muitas vezes não têm voz e precisam lutar contra situações constrangedoras e brincadeirinhas todos os dias”. Por isso, tem usado sua fama para protestar.
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