Após morte de criança, onda de desafios na internet preocupa médicos e pais

A morte de uma criança de 7 anos acendeu o alerta de pais e especialistas: você sabe o que seu filho assiste na internet? Propagado como se fosse brincadeira, um desafio pode ter sido o responsável por uma parada cardíaca na criança.
Segundo Marcia Gonçalves, mãe da vítima, a menina Adrielly tentou cumprir uma tarefa que viu na internet: inalar desodorante aerossol e prender a respiração. A menina não resistiu e morreu no último final de semana, em São Bernardo, na Grande São Paulo.
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A onda de desafios nas redes sociais não é nova. De balde de gelo a selfie em precipícios, a gravidade e o perigo do que tem sido proposto -- e a naturalidade com que isso é mostrado nas redes — é o que assusta.
Encarado como piada e diversão pelos adolescentes, os desafios são propagados não só no Brasil. Nos Estados Unidos, uma leva de pessoas ingerindo sabão de lavar roupas em cápsulas encheu a rede no começo do ano. Em uma busca rápida pelo YouTube, é fácil encontrar crianças e jovens por aqui reproduzindo e incentivando desafios do tipo. Além de inalar desodorante, há quem coloque fogo no aerossol apontado para a pele, por exemplo.
O pediatra Nelson Douglas Ejzenbaum alerta os riscos de colocar esse tipo de desafio em prática. "As substâncias químicas são coisas extremamente perigosas. Num desafio do desodorante, como esse, a criança pode ter um episódio de asma severa e morrer, pode desenvolver um quadro de alergia grave e, dependendo da substância, causar uma pneumonia por aspiração. Quando você bota fogo no desodorante, você está criando uma arma, um lança-chamas. É tudo muito grave".
O que já seria arriscado para um adulto ou adolescente, fica ainda mais sério quando se trata de um organismo infantil. "O sistema imune da criança é muito menor do que o de um adulto. Se para nós já é extremamente perigoso, imagine para uma criança", explica o médico.
Para a psicóloga Fernanda Grimberg, os jovens acatam desafios como esses para competirem e se sentirem parte do grupo. "A competição é uma caraterística da sociedade. O problema é a gravidade desses desafios. E quando isso acontece no mundo virtual, todo mundo vira muito corajoso. As pessoas terminam desafiando coisas que elas próprias não fazem, mas, como é no virtual, a gente fala que fez. E sempre tem alguém mais inocente que acredita e vai terminar se dando mal nessa história".
Para evitar, não subestime a criança
Mas como evitar que outras tragédias como a de Adrielly se repitam? Fernanda explica que é preciso observar e conversar sempre com os filhos.
"Os pais têm que estar muito atentos e atualizados. Tem que perguntar se a criança viu sobre esse tipo de desafio e o que ele acha disso. Converse muito, exaustivamente. Não pode subestimar a criança, pisando em ovos ou achando que não deve falar isso porque o filho é muito novo. Não dá para orientar só a criança de 12 anos. A menina que morreu tinha 7”, justifica Fernanda.
A psicóloga e o pediatra reforçam a importância do cuidado com o que as crianças e adolescentes acessam na internet.
Pai de três filhos, Ejzenbaum usa filtros para limitar o uso das crianças às redes. "Quando você controla o acesso dos seus filhos à internet, você não está tirando deles o direito de acessar as informações. Você está tirando deles o perigo de acessar informações inadequadas. Crianças não têm o desenvolvimento emocional para entender o perigo que isso representa. É como o menino que bota a capa do super-homem e pula, achando que vai sair voando", compara o pediatra.
"O YouTube não é para criança. Eu só indicaria o acesso a ele depois de uma certa idade e monitorado pelos pais", diz Fernanda. Outras plataformas com mais controle e voltadas só para o público infantil são a indicação da psicóloga.
A escola também deve ser aliada da família na hora de orientar as crianças, orienta Fernanda. "É preciso manter as escolas sempre atualizadas. Se isso aconteceu nessa semana, leve o tema para a professora ou coordenadora. Faça com que a escola trate e converse disso com os alunos".
Outro lado
Procurado para comentar os vídeos de desafios em sua plataforma, o Google, empresa detentora do YouTube, não respondeu as perguntas da reportagem e enviou uma nota oficial. Abaixo, leia o comunicado, na íntegra.
"As políticas do YouTube restringem conteúdos que têm a intenção de incitar violência ou encorajar atividades ilegais ou perigosas, que apresentem um risco inerente de danos físicos graves ou de morte. Qualquer usuário pode denunciar esse tipo de conteúdo e nossa equipe analisa essas denúncias 24 horas por dia, sete dias por semana".
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