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Por que é tão comum casais infelizes permanecerem juntos

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Heloísa Noronha

Colaboração para o UOL

24/01/2018 04h00

À primeira vista, não há nada que os impeça de se separarem. É claro que todo rompimento é difícil e dolorido, mas, depois da fase turbulenta, as pessoas podem não só voltar a ser felizes como saírem fortalecidas da experiência. Muitos casais, no entanto, não querem nem pensar na possibilidade.

Preferem seguir em uma relação sem graça e triste a partir para um voo solo. Por quê? A seguir alguns motivos que podem justificar a escolha.

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Hábito

O ser humano tende a se sentir confortável com a rotina. Por isso é que, embora insatisfeitos, muitos casais não mudam a situação. Seguem com a relação, ano após ano, em uma espiral de tristeza e frustração, apoiando-se na interdependência. É difícil tomar uma atitude.

“Afinal, eles fazem tudo a dois, planejam os gastos, conversam sobre o trabalho à noite, têm os mesmos amigos. Pensar em abrir mão disso tudo dá a sensação de que a vida vai acabar com o fim do relacionamento”, diz a psicóloga Ellen Moraes Senra, especialista em terapia cognitivo-comportamental.

No entanto, segundo Ellen, da mesma maneira que a gente se acostuma com alguém, pode se acostumar a ficar sem a pessoa.

Questões financeiras

Por valorizarem e acreditarem ser o melhor para si ter uma condição financeira estável ou certos luxos, muitos casais optam por manter um relacionamento ruim. Não se trata de apontar tal escolha como certa ou errada, porque esse olhar vem dos valores e crenças de cada um.

“A pergunta ‘o que faz você feliz em sua relação?’ pode ajudar bastante a entender as motivações que mantêm as pessoas juntas”, diz Naiara O. Mariotto, psicóloga clínica pós-graduada em sexologia.

Muitos pares também continuam juntos por questões de ordem prática, como o investimento feito em uma casa, a dificuldade de um dos dois de se bancar sozinho, a resistência em abrir mão de bens adquiridos juntos. E há casos em que o fator financeiro serve como desculpa para esconder outros medos, que a separação traz.

Evitar o sofrimento dos filhos

Os filhos influenciam bastante quando o assunto é separação, mas não são poucos os casais que os usam como desculpa para adiaram o momento de encerrarem a relação.

“Filhos não se sentem felizes ou ficam mais saudáveis psicologicamente convivendo com pais que brigam e se desentendem o tempo todo”, afirma Lívia Marques, psicóloga com foco em terapia cognitiva-comportamental.

É comum que crianças e adolescentes se sintam até culpados pelo clima ruim entre os pais e por sua tristeza. “Quem enfrenta essa situação deveria entender que nunca deixará de ser pai ou mãe, só não será mais marido ou mulher. Em consultório, vi muitos ex-casais se tornarem pais e mães mais presentes, felizes e pacientes”, conta a psicóloga clínica Rejane Sbrissa.

Receio de mudar a vida drasticamente

O medo do novo é o motivo principal por trás da procrastinação. “O ato de deixar para amanhã o que poderia ser feito hoje nasce da falta de autodisciplina e se intensifica com um ciclo vicioso”, explica Naiara.

Quando as pessoas se dão conta, já se passaram dez ou 20 anos e nada mudou. É uma autosabotagem. “As pessoas devem enxergar o fim da relação como uma oportunidade de reavaliar crenças e valores e perceber se a vida realmente está no trilho que desejam”, completa a psicóloga.

Educação conservadora e machista

Casais mais maduros, em especial, são compostos por pessoas que provavelmente cresceram ouvindo que nenhum relacionamento é um mar de rosas e que encarar fases difíceis é normal. O que, sim, é verdade, mas muitas tomam como exemplo o casamento dos pais, em geral, infeliz, e acreditam que fazer vista grossa para os problemas e seguir em frente é a única solução.

“Mesmo nos dias de hoje, o machismo ainda colabora para manter a infelicidade conjugal, porque muitas mulheres acham que devem suportar tudo em prol do casamento, mesmo que ele seja ruim”, diz Rejane. Abrir mão dessas crenças limitantes é difícil, mas libertador.