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"Já comprei 40 sapatos em uma liquidação", diz ex-compradora compulsiva

Christian Kelly Ponzo, 42 anos, não conseguia controlar o impulso de comprar - Arquivo Pessoal
Christian Kelly Ponzo, 42 anos, não conseguia controlar o impulso de comprar Imagem: Arquivo Pessoal

Bárbara Therrie

Colaboração para o UOL

16/01/2018 04h00

Toda vez que saía, a médica gastroenterologista e nutróloga Christian Kelly Ponzo, 42 anos, não conseguia controlar o impulso de comprar. “Nunca consegui ir em uma loja e levar um único produto. Já comprei 40 pares de sapatos em uma liquidação.”

Nesse relato, ela conta como foi ficar um ano sem comprar roupas, calçados, bolsas e acessórios. E afirma que vai repetir a meta em 2018: “Ser mais consciente no consumo é um projeto de vida pessoal”.

“A minha compulsão por compras começou quando eu terminei a residência médica e passei a ganhar mais. Se ficava triste, comprava. Se ficava alegre, comprava. Comprar me dava uma sensação de poder. Toda vez que saía ou ia ao shopping, comprava por impulso e não porque precisava.

Christian Kelly Ponzo - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal
Uma vez, fui em um showroom para comprar um vestido de casamento, pretendia gastar até R$ 600. A vendedora me tratou tão bem e eu me empolguei tanto que acabei comprando três vestidos de festa e várias blusas. Saí de lá com uma dívida de R$ 4.000.

Nunca fiquei endividada a ponto de não pagar minhas contas, mas já cheguei a gastar todo o meu salário.

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Na hora da compra eu me sentia bem, mas, às vezes, eu me arrependia, principalmente quando percebia que não precisava ter comprado três peças, uma de cada cor, do mesmo modelo.

Esse sempre foi o meu problema: não saber comprar pouco. Nunca consegui ir em uma loja e levar um único produto. Meu maior exagero foi quando comprei 40 pares de sapatos em uma liquidação. Tudo o que eu calçava achava bonito. Só me dei conta da quantidade quando passei no caixa para pagar.

Comprar compulsivamente é um vício, é uma doença"

Comecei a ficar incomodada quando percebi que minha casa estava entulhada com um monte de coisas que não precisava e o quanto isso me dava trabalho para manter tudo organizado.

O clique de que tinha de mudar veio em 20 de dezembro de 2016. Estava no shopping esperando meu namorado resolver um negócio quando puxei a fatura do cartão de crédito pelo celular. Tomei um susto ao ver que mais de 50% era de compras pessoais.

Christian Kelly Ponzo - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
De repente, não fazia mais sentido ter comprado todas aquelas roupas e sapatos, era tudo supérfluo. Senti tristeza, revolta e indignação comigo, por não ter tido controle.

Quando meu namorado voltou, falei para ele: ‘Tomei uma decisão: vou ficar um ano sem fazer compras’. Ele me incentivou.

Nas primeiras vezes que fui ao shopping, olhava a vitrine e falava para mim mesma: ‘Olha o que você prometeu’.

Outras vezes, entrava na loja, passava a mão na peça e vinha aquele pensamento: ‘Você não precisa disso’. Chegava a ir para o provador e experimentar roupas que achava bonitas, mas não levava. Estava firme no meu propósito.

Sempre que saía da loja sem nenhuma sacola, ficava feliz e via que era capaz. Quando queria muito algo, pedia de presente para alguém ou ia no meu guarda-roupa, tirava a etiqueta de uma peça nova e usava.

Nunca consegui usar tudo o que tenho. Nesse processo, li alguns livros sobre minimalismo, que me ajudaram a me desfazer de 50% das coisas que tinha.

Com todas as doações que fiz, ainda tenho dois guarda-roupas, quatro sapateiras e três cômodas, uma de lingeries, uma de acessórios com bijuterias e semijoias e outra de meias.

Foi maravilhoso ficar um ano sem fazer compras"

Hoje consigo ir ao shopping para comer, ir ao cinema, não tenho mais necessidade de comprar. Ter poder é ter autocontrole. Meu objetivo é, cada vez mais, tornar-me uma compradora consciente.

Quero uma vida mais simples. É por isso que vou repetir a meta de não comprar nada em 2018 e quem sabe por mais alguns anos. Ser mais consciente no consumo é um projeto de vida pessoal.”