Como contar aos filhos sobre o novo parceiro: dicas para evitar problemas
Tempos depois de separada, a fotógrafa Lu Cristhovam encontrou uma pessoa legal e quis engatar uma relação mais séria. Antes, porém, teve a tarefa de contar aos filhos, de 4 a 7 anos, que havia uma nova pessoa em sua vida.
"Estávamos juntos havia uns cinco meses e as crianças já o tinham visto umas duas vezes, como um 'amigo da mamãe'. Um dia, fomos todos tomar sorvete e eu falei: 'Olha, o tio está pedindo a mamãe em namoro. O que vocês acham? Que a gente tem que namorar ou não? Elas ficaram superempolgadas e gritaram 'siiiiim, siiim' porque o adoravam. Só a partir daí começamos a namorar mesmo", lembra.
Abordagem estratégica
O engenheiro Wesley dos Reis teve o mesmo cuidado, em duas ocasiões. "Como tenho um filho de cada ex-casamento, usei estratégias parecidas, que me pouparam de maiores explicações e constrangimentos. Apresentei a namorada como 'amiga do papai', sem nenhuma demonstração explícita de relacionamento na frente deles", relata.
As namoradas, que depois viraram esposas, primeiro conquistaram a confiança dos filhos -- à época com menos de 6 anos. Só depois de o pai perceber que havia um carinho mútuo é que perguntou aos pequenos se eles poderiam namorar. "Apenas quando tive a aprovação deles é que passei a demonstrar que era uma namorada de verdade", relata.
Dicas de especialistas
Segundo a psicóloga Luciana Rocha, os dois agiram corretamente. "Quando o pai ou a mãe dá a oportunidade de a criança expor a sua opinião sobre algo como a chegada de uma outra pessoa, ela se sente importante e parte de um cenário. E isso reflete positivamente", afirma especialista.
Se você está passando por isso, lembre-se de jamais subestimar a inteligência das crianças, independente da idade delas. A regra de ouro é sempre falar a verdade, de maneira adaptada à faixa etária. E só abra o jogo quando tiver certeza sobre levar a relação adiante, para que as crianças não se apeguem à nova pessoa e depois sofram com um rompimento.
A seguir, listamos o que você não deve esquecer ao contar para os filhos sobre um novo relacionamento:
- Com os mais novos, assegure-se de que estejam habituados com a rotina pós-separação (sobretudo se os pais optarem pela guarda compartilhada) antes de apresentar alguém. Por isso, após o casamento, tente dar um tempo para as crianças se organizarem emocionalmente e ter seus espaços seguros;
- Sempre deixe claro que as crianças não têm culpa nenhuma pela separação dos pais -- é comum elas se sentirem responsáveis;
- Antes de apresentar (ou mesmo existir) uma outra pessoa, é importante falar sobre a possibilidade de formar uma nova família e de ter outro namorado. Explique que o amor entre o papai e a mamãe acabou, mas que isso não significa que eles não podem amar e namorar outras pessoas;
- Esclareça que, independentemente da separação e de outros parceiros de uma nova relação, vocês serão sempre os pais da criança e que o casal vai continuar sendo amigo, embora não morando na mesma casa. Apresentar fatos concretos ajuda na hora da conversa;
- Fale sobre a nova pessoa apenas quando estiver segura sobre a relação. Mas não adianta esconder da criança o que está acontecendo, pois ela acaba percebendo algo diferente, só ao observar. Por essa mesma razão, esteja emocionalmente equilibrado. Seu filho vai perceber se você não estiver lidando bem com a situação;
- Fale quantas vezes forem necessárias que amor de pai e mãe é diferente de amor de namorado e namorada. E que o sentimento entre um homem e uma mulher pode acabar (caso da separação), mas nunca o amor entre pais e filhos;
- Comece dizendo sobre a existência de uma pessoa muito querida, comentando a respeito dela - sempre ressaltando que ela não substitui um dos pais, nem mesmo o amor pela criança;
- Para filhos com menos de 5 anos, os pais podem optar por explicar usando exemplos da realidade deles, como dizer, por exemplo, que "a mamãe agora tem um novo príncipe e vai ser muito feliz". Isso fará com que eles entendam melhor o que está acontecendo e até o que está para acontecer;
- Se o filho tiver algum amigo ou primo com pais separados, o exemplo pode servir como ponto de partida para uma conversa franca sobre o assunto;
- Se a criança for mais velha e sentir a vontade de se expressar, dê oportunidade para expor seus sentimentos, dúvidas e tudo o que vier. Faz parte do processo de amadurecimento da notícia na cabecinha dela
- Responda qualquer pergunta com a verdade, procurando adaptar o vocabulário e a profundidade da conversa à faixa etária. Crianças percebem quando há algo de diferente. Se perguntar se é seu namorado, explique que sim;
- Aproxime gradativamente os filhos da nova pessoa. Apresente os filhos quando perceber que já existe um vínculo - mesmo sabendo que isso não é garantia nenhuma
- O filho precisa concordar com a ideia de conhecer essa outra pessoa e, quando é ouvido neste sentido, automaticamente se sentirá importante, acolhido e com a sensação de que a chegada de outra pessoa não irá inferir negativamente na relação com o pai ou a mãe;
- Com crianças acima de 10 anos, já na pré-adolescência, esteja pronto para esclarecer curiosidades. Então, quanto maior a autenticidade e a espontaneidade nesses momentos, maior também será o elo de ligação entre pais e filhos, bem como entre filhos e os novos pares;
- É importante existir abertura para que os filhos possam tecer críticas aos novos pares, pois cria-se um espaço de confiança e liberdade com os pais.
Fontes: Camila Colla Duarte Garcia, psicoterapeuta infantil da Clínica Infantil Bem; Denise Miranda de Figueiredo, psicóloga, terapeuta de casais e família e cofundadora do Instituto do Casal; Isabela Cotian, psicóloga e coach de mães; Luciana Brites, psicopedagoga do Instituto NeuroSaber; Luciana Rocha, psicóloga especialista nos universos materno e infantil e educadora perinatal; Luiz Francisco, psicólogo, life coach e professor universitário da Fadisp.
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