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Comitê do Nobel explica por que não há mulheres entre os vencedores de 2017

Malala Yousafzai, vencedora do Nobel da Paz em 2014. - Getty Images
Malala Yousafzai, vencedora do Nobel da Paz em 2014. Imagem: Getty Images

do UOL, em São Paulo

10/10/2017 15h57

Com o anúncio de Richard Thaler como vencedor do Nobel de Economia nesta segunda, 9, 2017 se tornou oficialmente o ano em que nenhuma mulher levou o prêmio para casa.

Todos os seis prêmios individuais foram dados a homens este ano, com exceção do Nobel da Paz, que foi entregue a uma coalizão de mais de 100 ONGs ao redor do mundo. Dos 923 ganhadores da história do Nobel, desde 1901, apenas 49 eram mulheres — um a cada 20.

Perguntado pelos jornalistas presentes no anúncio sobre a diversidade problemática das escolhas da Academia Suíça, Göran Hansson, vice-presidente do conselho diretor da Fundação Nobel, respondeu:

"Nós estamos muito orgulhosos dos vencedores do prêmio deste ano. Mas estamos decepcionados, ao olhar [para o quadro] de uma perspectiva maior, que mais mulheres não foram premiadas. Em parte, a razão disso é que nós voltamos no tempo para identificar as descobertas. Nós temos que esperar até que elas sejam verificadas e comprovadas para que possamos entregar o prêmio. Havia um preconceito maior ainda contra as mulheres naquela época. Havia muito menos mulheres cientistas se você voltar 20 ou 30 anos atrás", disse. 

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"Mas não estou certo de que esta seja a explicação inteira. Nós e outras instituições que entregam prêmios tomamos medidas. Se você olhar para os comitês do Nobel, há mulheres na liderança de três dos seis comitês. Há mulheres na ciência em todos eles. Então, não acho que exista qualquer preconceito macho e chauvinista substancial nos comitês, que convidaram — e fizeram esforços especiais para identificar — cientistas para serem nomeadas para o prêmio. Mas isso começou a ser feito este ano, porque ficamos preocupados com a possibilidade de que não houvesse indicações suficientes de mulheres". 

"Eu suspeito que haja muito mais mulheres merecendo ser consideradas para o prêmio. Por isso, nós começamos a identificar as mulheres na liderança científica e as convidamos para serem nomeadas. Nós vamos, a partir do próximo ano, indicar no nosso convite para nomear as mulheres e considerar a diversidade étnica e geográfica. Por fim, nós vamos ter uma conferência no inverno [entre dezembro de 2017 e março de 2018] com os diferentes comitês do prêmio para discutir esta questão. Então, estamos preocupados e tomando medidas. Espero que, em cinco ou dez anos, vejamos uma situação diferente", alegou.

Per Strömberg, presidente do comitê responsável pelo prêmio de Economia, fez coro para a tese de que existe uma defasagem entre o prêmio e a representatividade real da mulher na ciência hoje. "Eu posso enfatizar o que você acabou de dizer. Acho que há dois pontos importantes. Primeiro, é que estamos, de fato, premiando pesquisas cujas descobertas foram feitas nos anos 70, 80 e 90. Um período em que havia muito mais preconceito de gênero em economia e muitas outras ciências. Basicamente, isso significa que, conforme o tempo passa, a porção de mulheres vencedoras do Nobel vai aumentar. Você pode olhar para os prêmios dados a jovens economistas — neles, a distribuição de gênero é mais igualitária". 

Ele ainda concluiu, fazendo uma defesa do trabalho dos comitês: "Estamos muito preocupados. O que vocês precisam entender é que os comitês não decidem livremente a respeito dos prêmios. Nós reunimos opiniões daqueles que fazem as indicações ao redor do mundo. Nós confiamos nas indicações deles. Então, se há algo que possamos fazer, é um pedido para que os indicadores, que eles levem esta questão muito a sério".