"Estava em processo de reabilitação e me sentia privilegiado"

O administrador Rodrigo Mendes estava indo levar o irmão mais novo, de 13, ao treino de futebol quando o carro que dirigia foi abordado por assaltantes, na rua em que morava, em São Paulo.
Uma bala disparada por um deles lesionou as vértebras C3 e C4, deixando-o tetraplégico (sem movimentos dos ombros para baixo), aos 18 anos. Saía de cena o sonho de cursar medicina.
Ele conta que não teve tempo de sentir revolta nem tristeza. Na clínica de fisioterapia, na qual começou sua reabilitação, sentiu-se privilegiado, pelo acesso aos melhores tratamentos e pelo apoio. Sentiu necessidade de retribuir.
Nasci ali o embrião de uma trajetória que culminaria com a criação do Instituto Rodrigo Mendes, em 1994, organização sem fins lucrativos que tem como missão colaborar para que toda pessoa com deficiência tenha uma educação de qualidade na escola comum.
O reconhecimento pelo trabalho com educação inclusiva levou Mendes a palestrar no Fórum Econômico Mundial, em Tóquio, no fim de 2016. No evento, ele lançou a ideia de que, nos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2020, na capital japonesa, sejam usadas a mesma tocha e a mesma pira e, o mais importante, que a chama permaneça acesa entre as duas competições.
“Acender uma, apagar e depois acender a outra reforça a concepção que faz sentido separar as pessoas”, afirma ele.
No Dia Nacional da Luta das Pessoas com Deficiência, 21 de setembro, o UOL traz a história dele.
“Os primeiros meses depois do acidente [essa é a palavra que Rodrigo usa para se referir ao que aconteceu com ele] foram muito difíceis.
Foram de testar limites físicos, por isso não tive tempo de sentir tristeza ou revolta"
Três meses após o tiro, já estava em uma clínica de fisioterapia e, mesmo naquele contexto, eu me sentia privilegiado.
Estava tendo acesso aos melhores tratamentos, mas essa não era a realidade de todo mundo a minha volta. Lembro de um dia ver, na recepção da clínica, uma mãe chorando porque não tinha mais dinheiro para pagar o tratamento do filho.
Surgiram duas sensações muito fortes: um incômodo grande e uma necessidade de retribuir toda a ajuda que estava recebendo"
Foi aí que também comecei a pensar intensamente no que ia fazer dali por diante. Não dava mais para ser médico. Resolvi que tinha de ir para o campo social. Quatro anos depois da lesão, fundei o Instituto Rodrigo Mendes. No ano seguinte, comecei a graduação em administração, para buscar respaldo para tocá-lo.
O instituto começou com uma escola de artes para pessoas com deficiência. Mas escolas regulares começaram a nos ligar perguntando se dávamos cursos de educação inclusiva. Dessa demanda, surgiu o que somos hoje: um centro de produção de conhecimento sobre o assunto e de formação de educadores.”
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