Por que um homem usar vestido no 'BBB' incomoda tanta gente?
![Pedro e seu look polêmico no "BBB 17" - Reprodução/Tv Globo](https://conteudo.imguol.com.br/c/tvefamosos/64/2017/01/27/27jan2017---pedro-participante-do-bbb17-1485514726913_v2_450x450.jpg)
Pedro Falcão, 29, participante do "BBB 17”, cumpriu a promessa de usar vestido no programa e a internet reagiu. Na última terça-feira (31), sua namorada, Lelly Costa, que administra as redes sociais do brother no período do confinamento, respondeu às críticas de um post feito na página do Facebook "Galãs Feios". O texto, que apontou o gamer como "pseudo-cult desconstruído de condomínio", teve mais de 11 mil curtidas e 800 compartilhamentos.
Entre os diversos comentários, Pedro foi acusado de estar montando um personagem para ganhar o público. Mas Lelly contou ao UOL que o parceiro usa saias e vestidos desde antes do relacionamento, que tem dez meses.
"Uma vez fomos ao mercado e eles estava usando vestido. As pessoas olharam, mas não com desprezo e, sim, simpatia. E frisou que o namorado nunca sofreu agressão verbal ou física por conta dos looks. "Das primeiras vezes, ele disse que sentiu certa resistência, mas só porque realmente as pessoas reparam demais".
A estranheza e curiosidade ao ver um homem usando roupas que, teoricamente, fazem parte do vestuário feminino, ainda é bastante comum. Mas por que incomoda tanto? Segundo Amana Mattos, professora do Instituto de Psicologia da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), o furor acontece por se tratar de algo que "bagunça" a divisão engessada de gênero: masculino e feminino.
"As roupas são elementos que fazem parte da demarcação do que é o corpo da mulher e do homem, em diferentes culturas. E os gêneros são polarizados, excludentes. O que serve para um, não se encaixa para o outro".
De acordo com Ana Claudia Bertolozzi, coordenadora do Lasex (Laboratório de Sexualidade Humana) da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Bauru, existem aqueles que se vestem dessa forma para causar polêmica. Mas o incômodo maior acontece quando aparece alguém que se sente livre o bastante para usar o que quiser.
“Está tudo tão amarrado que, quando alguém se liberta, causa polêmica. Mas será que outros homens não gostariam de usar? Eles não achariam mais confortável nesse calor?”, questionou.
A psicóloga reforça que a roupa nada tem a ver com a construção de identidade. E que tudo está em transição e pode mudar. “Há muito pouco tempo homens que usavam brincos e cabelos compridos não eram vistos com bons olhos”, diz ela, que acredita que os modelos de roupa só não são mais usados por eles por medo de discriminação.
O receio de sofrer retaliações não é o caso de Bruno Kawagoe, 24. O publicitário usa saias e vestidos há cerca de um ano e meio e, assim como Pedro, não passou por nenhum constrangimento.
Para Bruno, muito além de provocar ou causar impacto ao sair por aí com as peças, o objetivo é se sentir bem. “Quando eu coloco um vestido ou uma saia, estou 100% ciente do meu biotipo e gosto pessoal. Não é uma questão de hiperssexualização. Não é uma fantasia ou para mostrar que sou diferente. É colocar no corpo algo que eu acho que fica bom em mim”.
E é para esse ponto que Ana Claudia chama atenção. A professora diz a batida frase de que “ninguém deve se preocupar com o outro a esse ponto” e lembra que, nas épocas de festas como o Carnaval, por exemplo, homem usar “roupa de mulher” é comum. “As pessoas aceitam porque é pejorativo. Temos um problema social de aceitação do que foge às normas culturais históricas”.
Entretanto, Amana, que também é pesquisadora do Degenera (Núcleo de Pesquisa e Desconstrução de Gêneros), entende que o que interpretamos como feminino ou masculino está em constante disputa e negociação. Para ela, a força de movimentos como o feminismo e os de cunho LGBT são a prova disso. “O que está em jogo é pensar os motivos pelos quais as pessoas se incomodam quando não conseguem colocar os sujeitos em caixas que já existem”.
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