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Quais os limites? Relação aberta como a de Jout Jout requer DR sem medo

Adriana Nogueira

Do UOL

29/12/2016 10h01

A youtuber Jout Jout usou seu canal na rede de compartilhamento de vídeos para falar sobre o término de seu namoro, nesta terça-feira (27). Além de afirmar que o fim nada teve a ver com traição, ela revelou que vivia um relacionamento aberto com Caio, agora seu “ex”, há quase um ano. “Fomos tristes às vezes, mas fomos felizes a maioria das vezes com isso”, afirmou na gravação. A declaração trouxe à tona a pergunta: como ter uma relação não monogâmica bem-sucedida?

O ideal é ter regras objetivas

“Atendi um casal que o combinado era que um escolhia com quem o outro podia transar. E a transa só podia acontecer na casa deles, no quarto em que dormiam, no escuro. Enquanto um transava, o outro esperava na sala”, conta a psicóloga Marina Vasconcellos, terapeuta familiar e de casais pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), acrescentando que a relação funcionou bem assim durante uns anos.

Segundo Alex Castro, escritor e autor do texto "Prisão Monogamia", parte do seu projeto "As Prisões" de mapear as ideias que prendem os seres humanos, muitas pessoas estabelecem regras que, na prática, servem de “muleta psicológica” para lhes dar um pouco mais de segurança na transição para um modelo mais aberto de relacionamento.

Castro afirma que, usualmente, as regras que vê funcionar são as objetivas, coisas como “pode sair com outras pessoas, menos aos domingos, o domingo é só nosso”, “não pode passar a noite fora” ou “não pode transar com outras pessoas na nossa cama”.

De acordo com o escritor, os combinados que quase nunca funcionam --e geralmente causam dor de cabeça-- são os subjetivos, do tipo "pode transar, mas não pode se apaixonar/gostar/se envolver". “Justamente porque cada pessoa define essas coisas de maneira diferente, quase sempre as define de maneira a se beneficiar e, mais importante, quando a pessoa percebe, já está gostando, e aí já era.”

Não pode ter medo da DR

Tanto Marina quanto Castro concordam que, em relacionamentos não monogâmicos –o que também vale para qualquer relação em geral--, é importante não ter medo da chamada DR.

De acordo com Castro, é preciso tirar o estigma de discutir a relação. “O pacto monogâmico é prêt-à-porter. É um software fechado da Apple. Já vem prontinho, apoiado por milênios de bíblias, tias chatas, padres metidos e manuais sobre como ‘blindar seu casamento’. Por isso, é natural que a DR seja encarada com terror. Qualquer tentativa de discuti-lo já indica, necessariamente, uma crise.”

O escritor diz que já os relacionamentos não monogâmicos, entretanto, com sua infinidade de pactos e arranjos possíveis, são um software livre. “Eles precisam e esperam a nossa interferência. Só funcionam se forem criados e recriados por cada pessoa todos os dias, sempre em parceria com quem se está relacionando.”

Marina Vasconcellos afirma que o relacionamento precisa ser constantemente recontratado ao longo do tempo. “A vida, as pessoas e os valores mudam. Você tem de estar aberto a evoluções. A fidelidade pode fazer sentido no início da relação e depois não fazer mais.”

A terapeuta conta que o principal problema dos casais que atende em seu consultório é a falta de diálogo. “A pessoa pensa uma coisa, não comunica ao parceiro, mas espera que ele adivinhe.”

Apesar de apostar na conversa franca, Marina fala que as pessoas também não podem banalizar a DR e tudo virar motivo para discussões. “É preciso distinguir o que precisa ser conversado do que pode ser encarado com leveza.”