Feminismo leva mulheres jovens a abandonar a pílula
A atriz Juliana Campos, 26, de São Paulo, começou a tomar pílula aos 14 anos. Aos 22, fez uma pausa para realizar uma cirurgia. A ideia era que, após a recuperação, ela voltasse a tomar o anticoncepcional. Quatro anos se passaram, e esse dia nunca chegou. "Os hormônios mudam o que é natural. Agora estou descobrindo como funciona o meu corpo, e não pretendo voltar nunca mais."
Decidir parar de tomar pílula é um movimento que vem crescendo. A ginecologista Carolina Ambrogini, especialista em sexualidade e coordenadora do ambulatório do Projeto Afrodite da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), diz que muitas pacientes a procuram com esse intuito. "Hoje, a mulher começa a tomar pílula aos 15 e para aos 35. É tempo demais. Há maior acesso aos efeitos colaterais do anticoncepcional, que podem ser graves."
Segundo Carolina, uma das principais queixas de quem usa a pílula por longo prazo é a diminuição da libido. Tanto Juliana quanto Pamela Holdorf, 21, de Rodeio (SC), perceberam uma melhora na vida sexual e em aspectos emocionais quando pararam com os hormônios.
"A libido aumentou e a TPM diminuiu muito. Tinha depressão e hoje não tenho mais. Estou muito mais confiante", diz Pamela, que tomou pílula por quase sete anos.
A antropóloga Bruna Klöppel, mestranda em antropologia na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), realiza uma pesquisa sobre métodos contraceptivos baseados em sinais corporais, como temperatura basal, muco cervical e posição do colo do útero, para identificar o período fértil. Bruna chegou ao tema após perceber que uma parte significativa das jovens passou a questionar os métodos hormonais.
"As motivações para isso estariam relacionadas aos efeitos colaterais indesejados, à responsabilização desigual em relação às práticas contraceptivas entre homens e mulheres, e ao desejo de conhecer o corpo sem as intervenções hormonais", diz.
A importância das redes sociais
Além de possibilitar a troca de informações, a internet e as redes sociais têm papel fundamental nessa onda. "Elas tornam mais visíveis não só as questões levantadas pelo movimento feminista, mas também os métodos contraceptivos não hormonais, que não têm tanta divulgação dentro dos consultórios médicos", declara a antropóloga Bruna.
Por causa dessa falta de informação sobre outros métodos, a estudante Luana Moreira, 18, de Vitória (ES), decidiu sua profissão: será ginecologista e ajudará mulheres a se conhecerem melhor. Ela é uma das criadoras e administradoras do grupo de Facebook "Adeus Hormônios: Contracepção Não Hormonal", que tem quase 100 mil mulheres em apenas nove meses de existência.
Luana começou a tomar pílula aos 15 e um ano depois decidiu parar. "Estamos em uma nova fase, de ter esse poder sobre nós mesmas. Depois que parei a pílula e passei a conhecer melhor meu corpo, eu me sinto mais segura e tenho mais disposição", conta.
Segundo Carolina, que vê com bons olhos o movimento, o único ponto negativo é o maior risco de gravidez. "Não aconselho parar na adolescência, porque a pílula dá uma segurança maior", diz.
A ginecologista afirma que uma opção de contracepção não hormonal é o DIU de cobre, que tem 97% de eficácia, mas que não costuma ser o mais indicado para quem nunca teve filho. Já o preservativo tem 94% de eficácia, se usado corretamente.
"É preciso ter mais cuidado e contar mesmo com o parceiro. É uma boa forma de responsabilizar o homem, que fica só nos benefícios quando a mulher toma pílula", diz Carolina, que recomenda consultar um médico antes de interromper o uso do anticoncepcional.
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