Topo

Adolescente responde melhor a recompensas do que a castigos

A recompensa não precisa ser algo material, mas, sim, o elogio do que pode e deve ser elogiado - Getty Images
A recompensa não precisa ser algo material, mas, sim, o elogio do que pode e deve ser elogiado Imagem: Getty Images

Thamires Andrade

Do UOL

17/11/2016 07h10

Ao escolher uma estratégia para lidar com o filho adolescente que não assume a arrumação do quarto --ou outra tarefa qualquer--, os pais precisam considerar que talvez ele responda melhor a uma recompensa do que a um castigo. É o que aponta um estudo publicado na revista científica "PLOS Computational Biology", em junho.

A pesquisa envolveu dois grupos. No primeiro, os 18 voluntários tinham entre 12 e 17 anos. No segundo, os 20 participantes tinham entre 18 e 32 anos. Eles precisaram escolher entre símbolos abstratos, cada um com um diferente resultado: recompensa, punição ou nulo.

À medida que as etapas do estudo avançavam, os indivíduos aprendiam o que cada desenho significava. Com isso, os pesquisadores puderam identificar que adolescentes e adultos eram bons em aprender a escolher símbolos associados à recompensa.

De acordo com os especialistas ouvidos pelo UOL, de fato, todo ser humano responde melhor a um sistema de recompensa do que a um de punição.

"A recompensa não precisa ser algo material, mas, sim, o elogio do que pode e deve ser elogiado. Se vira uma moeda de troca, o jovem acaba usando isso sempre, e os pais criam uma pessoa que só faz algo mediante um pagamento", declara Ana Cássia Maturano, psicóloga e psicopedagoga clínica.

Para o psicólogo Marcelo Quirino, o sistema de recompensas produz muitos efeitos psicológicos positivos no indivíduo: aumento de autoestima, senso de pertencimento e de aceitação grupal, influência positiva sobre o humor, entre outros.

"No processo de educação, o desafio dos pais é fornecer autonomia e controle na medida certa, de acordo com a idade do filho. Assim, podem negociar algumas questões, se o adolescente seguir determinadas condições pré-estabelecidas, e outras, não. Assim, o filho saberá que tem controle sobre alguns eventos de sua vida, como poder sair com os amigos, caso cumpra a lista de estudos semanais como combinado com os pais", fala Quirino.

Para Ana Cássia, se os adultos basearem a educação só na repressão e na punição, a tendência é os ânimos ficarem exaltados. "Os adolescentes já são mais intensos, e os pais acabam se exaltando também, portanto, é preciso ter empatia com essa fase delicada da vida do filho. O jovem está trilhando o caminho da autonomia, e uma das coisas desse processo é se voltar contra os pais, que são as figuras que evidenciam sua dependência", fala.

Em vez de castigo, restrição combinada

É importante que pais e filhos tenham uma restrição acordada, caso o adolescente descumpra algum combinado. "Os dois lados precisam conversar muito. O jovem que não concorda com o horário que precisa voltar para casa precisa ter espaço para sentir raiva, para depois assimilar a regra", explica a psicóloga Silvia Malamud.

Para Quirino, o sistema de recompensa pode ser aplicado nesse ponto. Quando o adolescente cumpre o acerto com os pais, ganha e quando descumpre, não. "A punição deve estar pré-estabelecida, antes da falha acontecer. Por exemplo, se o jovem agredir o irmão menor, o combinado em família é que fique sem o videogame durante um dia", diz a psicóloga.

O mesmo filho, só que crescido

Se os adultos lidam com a educação dos filhos dessa maneira desde a infância, o comportamento é perpetuado na adolescência. "O jovem não virou outro filho, mas, se não cresceu com limites, será mais difícil mudar sua conduta. O principal erro dos pais é usar mais restrição, o que provoca mais ira no adolescente. Não temos de ter medo de desagradar aos filhos, mas saber quando dizer não", declara Ana Cássia.

Segundo Quirino, para reverter a postura do jovem é preciso muito diálogo. "Dialogar envolve escuta, compreensão dos motivos, negociação e aceitação parcial das vontades do filho. Grande parte das famílias não obedece a esse padrão de conversa. O que acaba acontecendo são despejos emocionais de raiva, um sobre o outro", fala o psicólogo clínico.

Punições proibidas

O que todos os profissionais ouvidos pelo UOL concordam é que a violência física ou verbal nunca deve ser usada como medida educativa. “Os pais têm obrigação de instruir esse cidadão para a vida. Ao bater e humilhar, você ensina que essas são maneiras de resolver problemas", fala Ana Cássia.

Quirino também destaca que os pais devem evitar castigos intermináveis ou que ultrapassem mais de quatro dias, além da exposição do adolescente perante os amigos.