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Hábito de usar fone de ouvido pode levar adolescente à perda auditiva

Os fones feitos para serem usados dentro dos ouvidos são os que causam mais dano à audição - Getty Images
Os fones feitos para serem usados dentro dos ouvidos são os que causam mais dano à audição Imagem: Getty Images

Do UOL

30/09/2016 07h05

Qualquer som que esteja em volume alto pode ocasionar o que os especialistas chamam de perda auditiva induzida por ruído, que é a diminuição da audição por contato com barulhos intensos e frequentes. Antes, o problema era mais diagnosticado em profissionais que trabalhavam em áreas que contavam com equipamentos emissores de ruídos. Porém, na atualidade, especialistas identificam um novo público vulnerável à perda auditiva: os adolescentes e jovens.

Nessa história, há mais de um vilão: as baladas com música alta, os shows e --o mais preocupante de todos-- o fone de ouvido, que costuma ser utilizado para ouvir música no transporte para a escola, na academia ou mesmo para caminhar por uma rua movimentada.

“Esses locais normalmente possuem um nível de ruído alto, que compete com a música. Por isso, a tendência é aumentar ainda mais o volume”, afirma o médico otorrinolaringologista Fausto Nakandakari, do hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

“Para ter uma ideia, o ruído de um ônibus gira em torno de 85 decibéis. Então, para ouvir música de forma confortável dentro dele, é preciso colocar o som 20 decibéis acima, chegando perto dos 105 decibéis. Os nossos ouvidos suportam com segurança 30 minutos diários de exposição a esse volume. O problema é que esse tempo costuma ser bem maior no dia a dia do jovem”, diz Nakandakari.

Quando esse limite é ultrapassado com frequência, começa a ocorrer uma degeneração das células localizadas na cóclea, parte auditiva do ouvido interno.

“Quando o ruído cessa, as células voltam ao estado normal, mas esse processo de degenerar e recuperar não resiste muito tempo. Em um período de cinco a dez anos, em média, essas células morrem e acontece a perda auditiva permanente”, explica a fonoaudióloga Daniela Dalapicula Barcelos, especialista em audiologia pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia.

Segundo Daniela, anos atrás, o problema era atenuado por conta da própria tecnologia dos dispositivos de música, que funcionavam por pouco tempo entre uma troca de pilha e outra. O mesmo não acontece com os gadgets modernos, que podem ficar ligados durante o dia inteiro antes de serem carregados. O design do fone também influencia: os que são colocados dentro do ouvido são os mais prejudiciais.

Para perceber se o adolescente está com algum nível de perda auditiva, alguns sinais devem ser observados: necessidade de aumentar o volume da televisão para ouvir, dificuldade de entender o que as pessoas falam em ambientes amplos, ansiedade e irritação causados por não ser compreendido e até alterações no sono e nos batimentos cardíacos.

A perda auditiva só pode ser confirmada por meio de exames médicos e, uma vez constatada, não pode ser revertida. “O tratamento é a colocação de aparelhos auditivos”, fala otorrinolaringologista Nakandakari.

Cuidados necessários

A melhor saída, então, é prevenir. Os especialistas garantem que é possível levar uma vida social ativa sem prejudicar a audição. “Não precisa deixar de ir a festas, basta fazer uma compensação. Se o adolescente é assíduo em casas de show, deve evitar o fone de ouvido. Se ficou exposto a sons elevados por muito tempo em um dia, pode fazer repouso auditivo nos dias seguintes”, afirma Daniela.

Sempre que possível, deve-se preferir o som ambiente –no computador, no celular ou ao jogar games. Ao usar fones, o volume médio do dispositivo não pode ser ultrapassado.

“Uma dica prática para saber se o som está trazendo riscos à audição é verificar se outra pessoa consegue ouvir o ruído do fone. Mesmo estando ao lado de quem escuta uma música, o ideal é não ouvir nada”, declara a fonoaudióloga Isabela Papera de Carvalho, responsável pelo setor de audiologia de uma empresa de aparelhos auditivos com sede na cidade do Rio de Janeiro.

Um som com intensidade acima de 80 decibéis já é considerado alto. “É a intensidade do som de um secador de cabelos e de um liquidificador”, diz Isabela.

Exames preventivos, como a audiometria, também são importantes para diagnosticar precocemente problemas auditivos e devem ser feitos a cada dois anos.

“Se a pessoa trabalha em um local que tem muito ruído, como uma casa noturna ou uma academia, ou se faz uso diário de fones de ouvido, deve reduzir esse intervalo para um ano ou até seis meses, conforme recomendação médica”, afirma a fonoaudióloga Daniela.