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Vítima de mutilação genital, queniana sonha com futuro melhor para a filha

Damaris Monty e sua filha. A queniana foi submetida à mutilação genital aos 11 anos - Divulgação/Actionaid
Damaris Monty e sua filha. A queniana foi submetida à mutilação genital aos 11 anos Imagem: Divulgação/Actionaid

Do UOL, em São Paulo

07/08/2015 17h13

Damaris Monty, 14 anos, é de Tangulbei, no Quênia e, aos 11, foi submetida a uma mutilação genital --prática que retira os órgãos sexuais externos sob a crença de tornar as mulheres mais puras para o casamento. Hoje, a jovem queniana é mãe de uma menina de dois anos e contou ao jornal britânico "Daily Mail" o que precisou viver antes de conseguir fugir e ser acolhida pela ONG Action Aid, que trabalha para o fim da ablação (outro nome dado ao procedimento) feminina em países africanos.

"Fui enfileirada com mais quatro garotas e então nos cortaram com ferramentas primitivas e sem anestesia. As mulheres responsáveis pela mutilação diziam que não era preciso ter medo e que, se gritássemos, envergonharíamos nossa família", disse ao jornal britânico.

Damaris, que nunca tinha ido à escola ou recebido qualquer tipo de educação, afirmou que, se soubesse o que aconteceria, teria fugido. "Quando me cortaram, o sangue voou e senti muita dor. Depois, me envolveram em uma pele de ovelha, amarraram minhas pernas com roupas velhas e me levaram para uma casa, onde fiquei cerca de três meses para as feridas cicatrizarem."

A prática tornou-se ilegal no Quênia em 2011, mas milhares de famílias temem ser marginalizadas e ainda fazem suas filhas passarem por ela. Mulheres que não se submetem ao procedimento são consideradas impuras e promíscuas.

Após sair daquela espécie de cativeiro, a jovem esperava poder ir para casa, mas o calvário ainda continuaria. Damaris foi obrigada a se casar com um homem que tinha o dobro da sua idade, do qual engravidou na noite de núpcias.

"Meu marido não se importava conosco, só pensava em bebida. Um dia, ele me trancou em casa sem minha filha. Fiquei muito preocupada e pensei que ele iria matá-la. Foi então que eu decidi fugir", falou ao "Daily Mail".

Depois de conseguir escapar com a filha, ela foi acolhida pela ONG Action Aid, na cidade de Kongelai. Ela disse que a ajuda da instituição tem sido fundamental para seguir em frente e construir uma nova vida para a menina. “Não quero que ela passe por isso. Desejo que ela frequente a escola e um dia se torne professora ou médica”, falou.

A Action Aid oferece suporte a mulheres como Damaris, que escaparam de seus casamentos abusivos e passaram pela mutilação genital. A ONG atua em comunidades africanas ainda adeptas da prática para falar sobre os efeitos nocivos do processo.